“Vou seguindo em frente” (ensaios sobre a vida)
Por Mary Kirschbaum
“Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo este sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco eu sei
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz”
(Almir Sater)
Me parece que ao escutar esta divina composição, não se carece mais de nenhuma explicação.
Ela fala por si só e diz tudo que necessitamos saber sobre a vida.
Ando com ela na cabeça, estes dias.
Fico cantarolando no banho, ao acordar pela manhã e as vezes acordo de madrugada por causa desta “bendita letra”.
Diz- se que quando uma canção entoa no seu ouvido dia e noite, obviamente vem de seu inconsciente e está relacionado ao que você está vivenciando no momento. Diz-se também que D’us está soprando algo no seu ouvido (na verdade esta parte eu inventei, porque gosto da ideia Dele sussurrando para mim).
Eu ando devagar.
Caminho hoje como uma tartaruga, pois gosto de apreciar a vista.
Sim, já derramei muitas lágrimas no meio do caminho e isto eu continuo fazendo. Mas na estrada do amadurecimento aprendi que podemos nos levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Não é algo fácil de se fazer, e os meus pacientes, estes que caminham comigo todos os dias e eu com eles, dizem até que é muito difícil. E eu concordo, mas sempre digo que não estamos sozinhos e pegando nas mãos uns dos outros conseguimos seguir em frente…
Após os percalços da vida e todos os desafios pelo que passamos, vamos endurecendo e como já ouvimos de um certo Che, “Há que endurecer, mas sem perder a ternura, jamais” (que aliás dizem que nem foi ele que falou). Mas tudo bem, pois é belo! E o que é bonito, mesmo que ilusório, devemos sempre repetir.
As vezes não sabemos bem qual o rumo de nossa jornada e vamos trilhando em determinados momentos mais calmos, e em outros, bem mais afoitos, vendo no que vai dar…
Nem sempre a trajetória é simples, aliás na maior parte do tempo não é!
Porquê não pense você, que caiu por estes lados por uma brincadeira, nem vá sonhando…
Você e eu estamos aqui para provar algo para Alguém…sim! Ele mesmo!
Nosso Criador, que espera de nós que tenhamos uma vida significativa, alimentando por assim dizer a alma como fazemos com nosso corpo.
Muitos de nós ficam curiosíssimos quando se trata de saber o que tem do lado de lá.
Mas logo nos aquietamos, entendendo que talvez, cumprir a vida seja simplesmente ir tocando em frente, como este velho boiadeiro, que segue pela vida com seu ritual, acordando cedo pela manhã, ao raiar do sol, levando sua boiada.
Isto não quer dizer que a nossa vida é uma mesmice, muito pelo contrário, e as novas manhãs nos recordam que “A noite fria me ensinou a amar mais o meu dia” (esta não é de Almir, mas sim do glorioso e inesquecível Belchior… Que D’us o tenha! Magnífico!!)
Mas não só isso: entendemos que cada amanhecer nos dá a oportunidade de recomeçar, e saborear a vida com o que ela nos presenteia.
Quanto a mim desembarquei na terra santa um dia desses, a não tanto tempo atrás…
Sim, ando lentamente apreciando a nova vida, encontrando novos amigos e saudosa daqueles que ficaram “às margens plácidas”, esperando por dias melhores… que com certeza virão, para os daqui e para os de lá…
Não é possível estar em dois lugares ao mesmo tempo.
As despedidas são necessárias e os reencontros também! Estes dão sabor a nossa existência e faz com que tenhamos mais amor àquilo que não temos tanta proximidade assim.
Pois é! A vida é este mistério, e cada um, com suas características únicas e essenciais, não substituíveis aos olhos de D´us, vai compondo a sua história, com alegrias e tristezas, seus altos e baixos, mas toda a capacidade do mundo de poder ser Divinamente Feliz!
Foto: mariesmolej (Pixabay)