Vinhos naturebas
Por Renata Rosenthal
Outro dia estava conversando com um amigo e mencionei algo sobre vinhos naturais. E ele me perguntou: “Ué, mas não é todo vinho que é natural?”. E, realmente, muitas pessoas tendem a chamar de natural, tudo o que tem origem na terra. E o vinho tem origem nas uvas, que vêm da terra, então aparentemente poderia ser chamado de natural. Mas o que permite o uso do termo natural é outra história.
Existem algumas controvérsias sobre o que é um vinho natural, porque tecnicamente é natural aquele vinho que usa leveduras naturais da própria uva para a fermentação. Mas há quem só considere vinho natural aquele que, além de ser produzido com leveduras naturais, também é orgânico. E para ser orgânico, entram outras diversas restrições, pois não só as uvas precisariam ser orgânicas, como até os produtos de limpeza utilizados na vinícola. De forma geral, os vinhos naturais não têm nenhuma intervenção em sua produção, nem adição de nenhuma outra substância.
Mas há de se ter cautela: isso não significa que os vinhos que não são intitulados como naturais tenham adição de diversas substâncias químicas, não se trata disso. Ele continua sendo elaborado a partir das uvas, que sofrem fermentação, e não tem tantas intervenções assim. Uma das diferenças é que, em princípio, no vinho não natural utilizam-se leveduras selecionadas. É como uma ajuda para a fermentação ocorrer perfeitamente da forma que se espera. Para os familiarizados com panificação, é o mesmo que utilizar fermento biológico seco, por exemplo. Já se sabe que vai dar certo, o fermento seco é o caminho mais acertado possível para se ter o resultado esperado. O fermento natural já é mais incerto, pode estar super ativo em um dia e menos ativo em outro, depende de muitos fatores relacionados ao ambiente. Mas temos pães em todos os casos. O grau de dificuldade na produção aumenta um pouco no caso do natural, mas o resultado pode ser tão bom quanto com as leveduras selecionadas. O mesmo com os vinhos.
O que mais se comenta no mundo do vinho sobre esse tipo de produção é a dificuldade de se produzir em alta escala. Como tudo que é natural, sem intervenção alguma, tem mais chances de problemas durante o processo. Isso porque quando há intervenção, é possível ir ajustando os processos ao longo da produção.
Além dos vinhos naturais e orgânicos, também há produtores de vinhos biodinâmicos, que são os que preservam a relação entre solo, plantação, seres humanos, animais, fases da lua, ciclos naturais e estações do ano. Por isso, não há uso de fertilizantes, nem pesticidas. Tudo é feito o mais natural possível, com compostos vegetais e animais, respeitando os momentos certos em relação a todo o ecossistema. Então, o vinho biodinâmico sempre será orgânico, mas não necessariamente os vinhos orgânicos serão biodinâmicos. E se será natural ou não, depende das decisões a partir do momento em que a fermentação começará. Portanto, não necessariamente os vinhos orgânicos e biodinâmicos serão naturais. Parece complexo?
Israel também tem vinhos orgânicos, naturais e biodinâmicos. Esses dias, tomei esse da vinícola Abaya, que fica no norte de Israel. Ela foi fundada em 2006 por Yossi Yodfat, que utiliza os princípios dos vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos em sua produção. Esse vinho, o Proletar, é o vinho mais acessível da vinícola em termos econômicos. É o que se costuma chamar de vinho de entrada. Pode ser acompanhado de uma entrada leve ou pode até ser bebido sozinho em uma tarde de primavera.
A ideia do nome, em português proletário, é justamente uma referência irônica aos vinhos baratos, mas o produtor o descreve como “o herói da classe trabalhadora”. Ele é elaborado principalmente com a uva Carignan, tem notas frutadas, acidez bem marcada e é daqueles que fazem salivar bastante, mesmo sendo super leve e agradável. Surpreendente! Recomendo muito, mas só é bom não superestimar (nem subestimar) tudo que é natural. Apenas provem todos os tipos e escolham os seus favoritos.