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Um dilema agonizante para Israel

Por Deborah Srour Politis

O último round das negociações por um cessar-fogo entre Israel e o Hamas acontecerá no Cairo, nesta semana. Os jornais americanos já noticiaram que “progresso” teria sido alcançado no Catar e que a finalização está próxima para o retorno de alguns reféns em troca de uma retirada israelense da Faixa de Gaza e a libertação de milhares de terroristas palestinos.

Estaríamos falando de 500 a 1.000 terroristas, 100 dentre eles considerados “pesados”, isto é, chacinadores sanguinários, soltos em troca de 22 a 35 reféns israelenses vivos, a maioria mulheres e outros civis, junto com os corpos de uma dúzia de reféns mortos. Notem que temos hoje 115 reféns ainda em Gaza.

O plano também prevê outras duas fases de trocas, mas há tantas condições que ninguém está confiante que elas poderão acontecer, como por exemplo, a supervisão internacional da fronteira de Gaza, à qual o Hamas se opõe, e a retirada militar completa de Israel da Faixa, à qual Israel se opõe. De fato, nem esta primeira fase parece possível, especialmente com o Hamas já tendo declarado que este acordo é uma “ilusão”.

Muitos aqui em Israel concordam que esta discussão é triste, mas necessária: que é a obrigação moral do governo libertar o máximo de reféns possível, o mais rápido possível, apesar do preço enorme. Que o sofrimento dos nossos reféns e suas famílias é intolerável também a nível nacional. Que receber os reféns de volta seria a maior vitória de todas.

Muitos israelenses sentem isso e querem um acordo de qualquer jeito, mesmo que isso implique a retirada completa de Israel de Gaza. Em outras palavras, mesmo que o Hamas retenha o poder e essencialmente declare a vitória.

Nos debates que assistimos, sempre há alguém que declara que o exército poderá entrar novamente em Gaza depois da soltura dos reféns, embora isso seja praticamente impossível, logisticamente falando, e exigiria o sacrifício de outras centenas dos nossos soldados. Outros dizem que novos ataques poderão ser evitados por tecnologias de fronteira mais avançadas, mais sentinelas e outras ideias mirabolantes. Outros ainda, defendem o acordo para derrubar o governo atual (o que, na visão deles, é mais importante do que a libertação de reféns).

Mas há alguns, inclusive pais de reféns, que defendem a estratégia do governo atual e de fato, acham que a melhor maneira de conseguir libertar os reféns é continuar a guerra e realmente eliminar o Hamas.

É uma situação horrível! Como o coração pode não se partir?

Hoje aqui falo na condição privilegiada de não ter nenhum ente querido meu no cárcere do Hamas. Mas o que parece estar ausente nos debates, é o cálculo do preço de libertar tantos terroristas palestinos.

Não é que eles foram “reformados” nas prisões israelenses. Eles não têm uma formação acadêmica ou outro “emprego”. Eles foram pagos pela Autoridade Palestina com salários nababescos durante todo o seu tempo no cárcere. E foram pagos por seus atos de terrorismo e por isso voltarão ao terrorismo. Sua libertação incentivará futuros sequestros, outros ataques terroristas como os que já estão acontecendo na Judeia e Samaria diariamente, e também levará o Hamas a tomar o controle da Judeia e Samaria.

Eu sei que isso é fato – porque esse tem sido o caso com cada libertação de terroristas do passado. Senão vejamos: No acordo Jibril de 1985, Israel soltou 1.150 terroristas em troca de 3 soldados de Israel. Entre eles, mais de 100 voltaram imediatamente à ativa terrorista.

Com os Acordos de Oslo, entre 1993 e 1999, Israel não só libertou terroristas palestinos como “gestos” para a OLP, mas permitiu que pelo menos 60.000 (!) palestinos do “estrangeiro” entrassem nos territórios, incluindo 7.000 terroristas com carteirinha da OLP. Foi essa injeção de “tropas” que alimentou a Segunda Intifada.

Em 2004, Israel libertou mais de 400 terroristas palestinos e cerca de 30 prisioneiros libaneses, incluindo líderes da Hezbollah, por um prisioneiro civil, Elhanan Tannenbaum, e os corpos de três soldados israelenses. A Segunda Guerra do Líbano contra o Hezbollah ocorreu pouco depois.

Mas entre todos, o acordo de 2011 para libertar Gilad Schalit foi o pior. Entre os mais de 1.000 prisioneiros de segurança palestinos libertados em troca de um único soldado estavam Yahya Sinwar, e outros sete líderes que hoje constituem a cúpula do Hamas. De fato, quase todo o comando do Hamas que planejou o ataque de 7 de outubro, que matou mais de 1.200 pessoas, em um dia, foi composta por terroristas libertados no acordo Schalit. Mas não só isso.

Outros terroristas libertados nesse acordo foram responsáveis pelos piores ataques dos últimos 13 anos que custaram as vidas de Baruch Mizrachi, Dr. David Applebaum e sua filha Navah (na véspera de seu casamento), Malachi Rosenfeld, e o Rabino Miki Mark (pai de dez filhos). Outro terrorista, também libertado no acordo Schalit, comandou de Gaza os assassinatos de Yosef Cohen e Yuval Mor-Yosef e um bebê, Amiad Israel. Foi um outro terrorista libertado no acordo Schalit que levou à cabo o sequestro e assassinato dos três adolescentes Naftali Fraenkel, Eyal Yifrach e Gilad Shaer em Gush Etzion em 2014.

Em outras palavras, cada vez que Israel libertou terroristas, eles repetidamente assassinaram mais israelenses.

Após o sequestro e assassinato dos três meninos, Israel decidiu prender novamente muitos dos terroristas libertados no acordo Schalit. No entanto, Israel só conseguiu prender novamente uns 130 terroristas “pesados” libertados na Judeia e Samaria.

E há também o debate se é melhor soltar os terroristas para as suas casas, como quer o Hamas ou para algum país no exterior. Pelo que estamos vendo dos ataques diários vindos de Jenin, de Tulkarem, e dos outros vilarejos árabes na Judeia e Samaria, o melhor é soltá-los o mais longe possível. Caso contrário, eles reforçarão a estrutura terrorista que construíram nessas áreas com o apoio do Irã e as expandirão.

De qualquer forma, o perigo de libertar terroristas palestinos em massa é claro. Um acordo que liberta assassinos cruéis de judeus e israelenses (incluindo os assassinos e estupradores da Nukhba de 7 de outubro) em troca do sofrimento de reféns inocentes de Israel coloca em risco ainda mais vidas israelenses no futuro — e essa consequência não demora a chegar.

Por isso temos que ter cuidado e estar cientes do que estamos fazendo. Negociar pelos reféns mantidos em Gaza agora, pode ser a coisa mais humanitária e moralmente necessária do mundo a fazer, mas também pode ser a coisa mais perigosa e potencialmente desastrosa que Israel possa fazer. Um custo altíssimo em todos os sentidos, a ser pago durante anos.

Um dilema verdadeiramente agonizante para Israel.

4 comentários sobre “Um dilema agonizante para Israel

  • Uma análise perfeita! Quais eram os líderes israelenses que diziam não conversar e fazer acordos com terroristas???

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  • Não é fácil para Israel, mas na minha opinião, não poderão soltar mais terroristas senão estes mesmos terroristas matarão mais vítimas inocentes, é simples, as FDI não podem fazer prisioneiros pois estes canalhas não merecem, destruam o Hamas. viva Israel.

    Resposta

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