Tudo a respeito do Plano do Século
Por David S. Moran
O Plano do Século que o governo do presidente Trump estava cozinhando há três anos saiu de repente do forno de um dia para outro, em momento inoportuno. O processo de impeachment do Trump está tramitando no Senado (onde será rejeitado, pela maioria Republicana), após aprovado na Câmara dos Deputados (que tem maioria Democrata). O partner Netanyahu estava enfrentando uma possível rejeição ao seu pedido de imunidade frente a três acusações que pairam sobre ele. No último segundo de ser votado numa comissão do Knesset, frente a derrota, Netanyahu preferiu retirar seu pedido de imunidade. Em consequência, o Procurador Geral do Estado apresentou a Corte de Justiça de Jerusalém três acusações contra o Primeiro Ministro Netanyahu.
Na quinta (23), 49 líderes mundiais estavam em Jerusalém para prestar homenagem ao 75º aniversário da libertação do Campo de Extermínio de Auschwitz, organizada pelo Presidente Rivlin. Pouco antes de encerrar o Fórum, foi lançada uma bomba (no bom sentido da palavra) que ofuscou um pouco este Fórum extraordinário. O Presidente Trump anunciou que convidou o premiê israelense Netanyahu para terça (28) quando anunciaria o Plano do Século, para a paz entre Israel e os palestinos. Imediatamente, foi comunicado que Netanyahu estendeu o convite ao líder do partido Kachol Lavan, deputado Beni Gantz.
No inicio parecia que Gantz caiu na cilada. Ele ia viajar “convidado pelo Netanyahu” e seria um segundo violino e o palco principal seria do Netanyahu. Poucos sabiam que o Gantz e sua cúpula partidária mantêm diálogo com o genro do Trump e idealizador do plano de paz, Jared Kushnir. As notícias eram que Gantz rejeitaria o convite. Somente uma hora e meia antes do seu anúncio na TV de que não viajaria, os americanos lhe convidaram pessoalmente a encontrar com Trump. Marcaram com antecipação para segunda (27). Aí veio nova notícia, Netanyahu viajaria e se encontraria com Trump já na segunda, antes do Gantz, e também na terça (28).
O deputado Avigdor Lieberman em Raanana disse: “Netanyahu está fugindo para os EUA e não assume o seu compromisso de colocar o Vale do Jordão sob soberania israelense. É preferível o Netanyahu se despedir da imunidade e evitar coação religiosa e só depois tratar da paz no Oriente Médio”.
Mesmo antes do anúncio do plano, só se falava nele. As manchetes dos jornais israelenses (foto abaixo) diziam (“Oportunidade Única” – Israel Hayom e “Fazemos Acordo” – Yediot Ahronot). Os palestinos apressaram-se em rejeitar o acordo. Trump já havia ligado para o gabinete do Abbas, na quinta (23). Este não só recusou em receber o telefonema, xingou o presidente americano, chamando-o filho de uma cadela.
O Plano do Trump
Na terça (28) à noite, horário de Israel, todos estavam grudados a TV para ouvir o plano que já rodava há muito tempo. Trump assistido por Netanyahu dissertou o Plano:
– Israel terá soberania no Vale do Jordão e nos assentamentos.
– O regime militar que prevaleceu sobre os assentamentos será extinto.
– Jerusalém unificada é a eterna e histórica Capital do Estado de Israel.
– Israel terá a incumbência de assegurar a segurança e o controle das passagens para os países vizinhos no ar, terra e mar.
– EUA vetarão possíveis sanções contra Israel, se impostas pela ONU.
– Os palestinos terão que reconhecer Israel, como o Estado Judeu.
– Desarmar a Hamas e a Faixa de Gaza.
– Não haverá o “Direito do Retorno palestino” ao território israelense.
– A A.P. será proibida de pagar a terroristas condenados e ou mortos. Terá que parar com as incitações contra Israel e os judeus nas escolas palestinas.
– Parar suas atividades contra Israel na Corte Internacional de Justiça.
– Reconhecer as fronteiras de Israel depois que impor sua soberania.
Os palestinos receberão:
– Estado Palestino sobre 70% dos territórios ocupados.
– Sua Capital será num subúrbio de Jerusalém (provavelmente Abu Dis, que já foi oferecida a Arafat – DSM).
– Troca de territórios: os palestinos receberão áreas israelenses perto da fronteira com o Egito e algumas cidades do Triângulo árabe, em Israel passarão ao estado palestino.
– O status quo nos lugares santos em Jerusalém serão mantidos.
– Receberão investimentos para desenvolver o novo estado, no valor de 50 bilhões de dólares. A Faixa de Gaza será ligada a Cisjordânia por um túnel e outros túneis ou estradas elevadas ligarão o território que passa por outro de soberania israelense (vide mapa).
As reações dos palestinos e árabes
Conforme escrito antes, a Autoridade Palestina rejeitou o plano, antes mesmo de conhecer seus pormenores. Abbas e seu arquirrival Hanie da Hamas mantiveram contato e chamaram para o “Dia da Raiva” e incitaram a população sair protestar. Abbas pediu para reunir a Liga Árabe e esta será no sábado (01/02). A população palestina manteve-se bastante apática e não saiu em massa às ruas. Seja pelo frio, por pouco interesse ou por achar que o plano não será implantado. Os deputados árabes israelenses se opõem ao plano, principalmente por estarem contra a troca de áreas com sua população. Falam a favor de Estado Palestino, mas preferem continuar sendo cidadãos israelenses. Só para esclarecer: não se trata de transferir população, como ocorreu entre a Índia e o Paquistão ou em outros lugares. Aqui é apenas traçar a fronteira entre Israel e os palestinos, mais ao leste para que a região próxima à antiga fronteira entre Israel e a Jordânia, predominantemente árabe esteja num estado árabe, sem sair do lugar. Mahmoud Abbas ameaçou cancelar a coordenação entre as forças de segurança palestina e a israelenses e depois voltou atrás. O velho Abbas de 84 anos, não quer ser registrado na história palestina como aquele que cedeu, mas ao mesmo tempo entende que Israel indiretamente o mantém no poder. Outra ameaça sua é desmantelar a A.P. para que Israel tome conta deste “abacaxi”. Certamente Israel não quer que isto ocorra.
No geral os países árabes se mantiveram indiferentes ao plano. Os palestinos não os interessam como antigamente e cada qual tem os seus problemas. Ademais, os embaixadores de Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Omã estiveram na apresentação do plano na Casa Branca. O rei Salman da Arábia Saudita falou com Abbas e lhe assegurou que estão com ele. Sisi do Egito pediu aos dois lados “estudarem o plano e começar um diálogo”. Os países árabes sunitas sabem que podem contar com Israel contra as ameaças do Irã e mesmo de organizações como o Estado Islâmico.
A Jordânia, cuja maioria de sua população é palestina e o rei receia perder seu trono, tem que pagar em protestos contra o plano e ameaças de cessar a cooperação de segurança com Israel. Mas este país que tem Tratado de Paz (que ameaça cancelar) e associação estratégica antes mesmo de 1994, quando assinaram o acordo, depende de Israel para mantê-lo no poder. Israel também lhe fornece água potável em quantidade maior do que seu compromisso, fornece gás, empregos e até seu lobby nos EUA ajuda o reinado hashemita a receber mais verbas de Washington. Outra preocupação jordaniana é o de perder o status especial que Israel lhe deu para gerenciar os lugares sagrados islâmicos em Jerusalém.
A organização terrorista Estado Islâmico ordenou seus ativistas na Síria e no Sinai atacar e pegar povoados israelenses próximos às fronteiras. Seja por mísseis ou até por armas químicas.
Em Israel, a maioria da população quer a paz, mas entende que será difícil implementar este plano. Os jornais de 29/01 (vide foto) trazem manchetes como o Maariv “Israel que Paz” e Israel Hayom estampou “Soberania Agora”.
No setor de segurança prepararam-se para manifestações palestinas violentas, principalmente na sexta (31) quando os crentes muçulmanos saírem das mesquitas. Também há preocupação e até críticas aos discursos do Netanyahu de impor unilateralmente soberania no Vale do Jordão e da reação jordaniana. Afinal de contas, a fronteira com este país é a mais longa e também serve de proteção estratégica até o Irã e o Iraque. Evidentemente que os líderes dos partidos mais a direita do Likud exigiram implantação imediata do plano, por parte de Israel, seguindo a declaração do Netanyahu que prometeu trazer o assunto ao Knesset no domingo (02/02). Seu entusiasmo foi esfriado pelas declarações de altas autoridades americanas, de não se apressar. O plano tem que ser implantado em quatro anos. Após estas declarações, Netanyahu voltou atrás.
Logo em seguida, Netanyahu declarou que não deixa nada lhe perturbar para trabalhar pela segurança de Israel. Referindo-se a continuidade dos três processam contra ele que seguiram ao tribunal de Jerusalém. Adicionou que viaja na quinta (30) a Moscou se encontrar com Putin e para trazer a Israel a Naama Isaschar, presa pelas autoridades russas por porte de maconha. Anunciou-se que, na semana que vem, viajará a Uganda, talvez para trazer 400 judeus etíopes para Israel. Os cínicos dirão que todas estas ações são para a propaganda eleitoral, pelas eleições que serão realizadas no dia 2 de março.
Nos EUA, os candidatos democratas em campanha prévia pela nomeação de quem concorrerá contra Trump nas eleições de novembro, manifestaram-se contrários ao plano. O ex-Vice Presidente, Joe Baiden disse que os dois lados tem que sentar juntos. Chamou a apresentação de manobra política que pode até mesmo retroceder o processo de paz (que não existe – DSM).
Como disse o próprio Trump, “estamos oferecendo um Plano de Paz que esperamos seja abraçado pelas duas partes, agora vamos ver o que acontecerá”.
Este plano pode ser que seja o melhor que Israel poderia obter de um presidente americano, mas como se diz “para tango precisa de dois” e o partner atual não está atendendo. O mediador palestino, em outras negociações, Dr. Saeb Erekat disse: “este acordo é entre os EUA e Israel”. Pena que os palestinos não embarcam. Como disse outro mediador palestino Ziad Abu Ziad: “temos que admitir que, em 1948, erramos ao não concordar em criar um Estado Árabe. Não temos que errar novamente, temos que dizer sim, aceitar o que nos favorece e rejeitar o que não concordamos”. Ainda há esperança.
Foto oficial da Casa Branca, por Shealah Craighead
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