Trump, rei de Israel
Por David S. Moran
O presidente americano, Donald J. Trump entrou na Casa Branca como um tufão para fazer reformas e marcar sua presidência. Certas coisas que queria fazer, como colocar impostos de 25% nas importações do México e Canadá, logo voltou para pensar no assunto. Aliás, a frase que mais lhe marca é “we’ll see what happens” (“veremos o que acontece”). Antes de fazer um trabalho meticuloso e traçar sua política, ele chuta e depois busca a bola.
No último sábado (08/02) todo o mundo viu os três sequestrados israelenses voltando do inferno nos túneis da Hamas, na Faixa de Gaza. Eles passaram por violências, acorrentados, má nutrição, espancados, falta de dormir, violências psicológicas, não viam a luz do dia, durante 491 dias. Retornaram magros, cada um perdeu entre 20 e 35 kg. Como disse Ohad Bem Ami (de 56 anos): “Entrei extra largo e saio em tamanho médio”. Eli Sharabi (52 anos), que sabia que seu irmão Yossi havia sido assassinado em 7/10, voltou e recebeu a má notícia de que sua esposa e duas filhas também foram assassinadas. Or Levy (34 anos) que perdeu a esposa no ataque da Hamas, só queria saber do filho Almog de 3 anos. Este quando lhe encontrou perguntou: “Aba, porque você demorou tanto”. Até o presidente Trump disse ao vê-los: “Eles passaram torturas, até parece que é da época do Holocausto”.
Muitos em Israel estavam contrariados com o primeiro-ministro que saiu do país no domingo (09/02), ia ficar até quinta-feira (06/02) mas estendeu para ficar num luxuoso hotel em Washington, no fim de semana, ocupando 120 quartos. O lugar dele após o encontro com Trump, na situação em que está agora Israel, é estar no Estado Judeu.
No encontro entre Netanyahu e Trump, o presidente americano apresentou sua “solução” ao problema: “Israel nos passará a Faixa de Gaza, seus habitantes irão a outros países e nós (EUA) tomaremos conta do lugar, transformando-o na Riviera do Oriente Médio”. Netanyahu parecia não acreditar na solução do “novo rei de Israel”. Trump respondia à mídia enquanto Netanyahu quase não falava. A palavra passou ao presidente americano. Para onde vão os 1,8 milhões de palestinos ele não sabe, pois mencionou a Jordânia e o Egito e esses dois países têm pavor de escutar esta solução.
Já na sexta feira (07/02), Trump disse: “não temos que nos apressar na concretização do plano. Vamos ver o que acontece. Em princípio os EUA veem no plano um negócio imobiliário. Nós investiremos nesta parte do mundo e isto trará estabilidade a região”.
Na terça feira (11/02), Trump encontrou-se com o rei jordaniano Abdullah II e lhe disse “acredito que a Jordânia e o Egito têm espaço para acomodar os palestinos”. O rei, incomodado com esta frase, disse “faremos o que é bom ao nosso país”. Significa, nada de palestinos, o país já tem maioria palestina e se recorda da rebelião contra a monarquia em 1971. O dirigente egípcio já foi mais firme. Adiou sua viagem para depois do encontro da Liga dos Países Árabes (22/02) e, não só se nega receber os palestinos, ele prepara junto com a Jordânia, Arábia Saudita e Emirados um plano de recuperação de Gaza, com os palestinos permanecendo na sua terra. Eles terão casas provisórias e tendas. O plano em planejamento fala que a Autoridade Palestina formará o Estado Palestino na Judeia e Samaria e Gaza com a capital em Jerusalém Oriental. O Hamas terá que entregar suas armas. Israel será reconhecido e todos os países árabes normalizarão relações com o Estado Judeu e Israel terá garantias internacionais de não beligerância por parte dos países árabes. Isto está sendo tratado, mas ainda não é definitivo e só no encontro da Liga Árabe, no final deste mês saberemos no que deu.
Trump foi mais longe. Após ver as condições com que voltaram os três últimos sequestrados israelenses pela organização (e não grupo) terrorista Hamas, Trump disse: “O Hamas tem que libertar todos os reféns até o meio dia do próximo sábado (15/02), senão o cessar-fogo deve ser cancelado e os portões do inferno se abrirão”. Quem foi incumbido de baixar o fogo foi o enviado especial americano para o Oriente Médio e seu confidente, Steve Witkoff, que disse esperarem o retorno de reféns, sem especificar “todos” e se isto não acontecer será muito ruim.
Netanyahu apressou-se em repetir a fala do Trump e disse que todos os sequestrados têm que voltar neste sábado, sabendo que o Hamas não ia abrir mão de uma vez de todos os sequestrados. Mesmo os três desta semana que teria que devolver disse que não haveria entrega, pois Israel não está obedecendo o acordo, já que não entrega as tendas e casas provisórias. Na quinta feira (13/02), o Hamas voltou atrás e disse que haverá entrega de três sequestrados. Segundo o acordo da primeira fase, o Hamas tem que entregar amanhã três, no próximo sábado mais três e daqui a duas semanas, 11 corpos, totalizando 33 israelenses na primeira fase.
E interessante que muitos familiares de sequestrados se dirigem em pedidos ao Trump e não a Netanyahu. Este está amarrado, voluntariamente ou não, por partidos radicais que querem reiniciar a guerra e exterminar a Hamas. Os familiares temem que o reinicio da guerra coloque em perigo seus entes queridos que estão nas mãos dos facínoras da Hamas e que os que já estão mortos não terão um honroso sepultamento em Israel.
Nos pedidos a Trump entraram também quatro cientistas israelenses, entre eles três ganhadores do Prêmio Nobel. Escrevem eles: “a vida dos 76 sequestrados nas mãos da Hamas há 495 dias está em perigo. Se você conseguir libertá-los, nós quatro e mais altas personalidades, teremos prazer em lhe indicar para receber o prêmio Nobel da Paz”. Outra carta de rabinos nacionalistas dirigida ao Trump já o qualificam como “enviado de Deus na luta global pelos valores de moral e justiça. Ele (Trump) foi escolhido para o bem dos EUA, Israel e o mundo”.
A organização terrorista Hamas disse no decorrer da semana que suspenderia a próxima etapa na libertação de três reféns, acusando Israel de violar o acordo. Parece que esta foi uma tática para fazer pressão em Israel para as negociações da segunda fase. Na quinta-feira (13/02), o Hamas informou que continuará segundo os planos. Resta saber se entregará mais do que três sequestrados programados ou todos e se não cumprir com a ameaça de Trump, seguida por Netanyahu e pelo Ministro da Defesa, Israel Katz, o que acontecerá.
Resumindo, Trump é um presidente imprevisível. Chuta alguma ideia e depois de notar a reação e ou a possibilidade de efetuar o seu desejo, é muito fácil de voltar atrás e dizer: “We’ll see what happens”. Hoje ele é a favor de Israel e espero que assim continue mas, olhando em volta, vejo que numa fala com Putin na quarta-feira (12/02), Trump pareceu querer acabar com a “morte de milhões na guerra da Rússia e Ucrânia” e se posicionou dizendo que os dois países terão que voltar atrás ao território na véspera da guerra. Isto significaria que a Ucrânia perderá a Crimeia e outras partes que a Rússia invadiu.
Foto: Ministério do Exterior