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Trump dá banho de água fria em Netanyahu

Por David S. Moran

Alguns amigos leitores me perguntaram o que é que eu tenho contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e a resposta é bem simples. Netanyahu, que é do partido Likud (União) de tendência nacionalista (e no qual eu votava no passado), já está na direção do Estado há 17 anos (não seguidos) e, neste tempo, mudou muito. No passado dizia que ninguém tem que mexer com a Suprema Corte, as leis tem que ser obedecidas e, atualmente, age contrariando nas coisas que ele acreditava.

Atualmente o Likud é constituído de deputados de segunda, terceira, quarta categorias que, todos eles sabem, dependem dele para serem eleitos e por isso dizem amém a qualquer atitude e ou ato que ele faz, mesmo que contradigam as leis e falam abertamente: “não vou cumprir a ordem judicial”. Imagine que um ex-chefe do Shabak (igual ao FBI americano), Avi Dichter, deputado e ministro da Agricultura pelo Likud, não emite um pio ante o ataque desenfreado de Netanyahu e cia contra o atual chefe do Shabak, Ronen Bar, que Netanyahu quer demitir (“porque perdi a confiança nele”). A saber, Bar admitiu sua culpa pelo desastre de 7/10 e disse que vais se demitir. Netanyahu perdeu a confiança nele só agora quando o Shabak está investigando possível corrupção na qual Netanyahu e alguns ajudantes mais próximos teriam recebido do Catar, país hostil e radical islâmico, anti-israelense. Isto seria impensável na época em que Begin ou Shamir lideravam o partido. Atualmente, o Likud não é mais o Likud, a não ser pelo nome. Hoje, este partido é o partido do bibismo.

Netanyahu está interessado somente em manter-se no poder com os partidos da coalizão, como o Yahadut Hatorá ou mesmo Shas, que se isolam e nada tem a ver com o Estado de Israel a não ser receber verbas e benefícios. Na terça-feira (08/04) o líder do Shas, Arie Deri advertiu Netanyahu de que se a lei da isenção do serviço militar a haredim não passar, ele com seu partido sairá do governo.

O não alistamento às Forças de Defesa de Israel (FDI) é um ato antinacionalista. Israel é um pequeno país rodeado por inimigos e esquivar-se de servir implica que outro jovem tenha que trabalhar duplamente. Isto se nota agora quando há reservistas que, no último ano e meio, já fizeram mais de 400 dias no exército (aos reservistas o normal é de 30 dias ao ano). Isto por falta de soldados, na guerra mais longa que Israel trava contra uma organização terrorista.

Agora, todos os esforços deviam se voltar a resgatar os 59 reféns (35 mortos e 24 ainda vivos) e com mais um motivo, quando estamos na véspera de Pessach, que é considerada a festa da liberdade, da saída dos judeus do Egito para a Terra de Israel.

Netanyahu preferiu viajar com a esposa (como sempre) e curtir na Hungria 4 dias, só para comemorar seu aniversário de casamento. Se tivesse algo importante para tratar com o Orban da Hungria, poderia fazê-lo viajando de manhã e voltando a noite. Preferiu passar o fim de semana no luxuoso hotel Quatro Estações, com honrarias enquanto os sequestrados estão sofrendo opressão, fome e pressões psicológicas, inclusive os familiares em liberdade.

Na Hungria, Netanyahu conseguiu arrumar para si e sua comitiva uma viagem para os EUA, para encontrar-se com Trump. Encontro que foi um fiasco para Netanyahu. Se ele pensou que trataria da ameaça nuclear iraniana, de baixar a taxa de 17% sobre produtos que Israel exporta aos EUA, do avanço turco na Síria e das declarações do Erdogan em exterminar o Estado de Israel e, por fim, talvez tratar dos sequestrados, ainda daria para entender.

Mas, Netanyahu que colocou todas as fichas no Trump, que não é suportado até partes do partido Republicano, sem mencionar o partido Democrata, crendo que é amigo de Israel, pode no futuro prejudicar muito as relações bilaterais, com o Tio Sam.

O presidente Zelensky da Ucrânia foi aos EUA e passou um vexame do imprevisível Trump. Este conhece o Netanyahu desde seu primeiro mandato na presidência e fê-lo passar um pequeno vexame. Na entrevista com os jornalistas, só falou Trump e Netanyahu esteve sentado de lado e quieto. Quando se referiu ao Irã, disse exatamente o que Netanyahu não queria ouvir. “Temos contato com os mais altos escalões do governo iraniano e preferimos o dialogo ao ataque para destruir suas usinas nucleares”. Amanhã (12/10) começam as negociações às quais Trump concedeu dois meses. Com respeito à Turquia, Trump reagiu e disse: “tenho ótimas relações com um homem que se chama Erdogan. Eu gosto dele e ele gosta de mim”. Eventualmente, Trump poderia servir de mediador entre Netanyahu e Erdogan.

Sobre a questão dos sequestrados, Trump disse que a guerra se prolonga demais e as negociações sobre os reféns são muito longas e não deve ser assim. “Eu gostaria que a guerra terminasse”. Ao responder à pergunta que lhe foi feita, Trump disse com certo cinismo: “este homem que está ao meu lado [Netanyahu] é um bom homem e trabalha muito pelos sequestrados”. Isto presenciando os protestos populares em todo o país e as acusações de que, depois de 553 dias, ainda estão nas mãos da organização terrorista Hamas, 59 israelenses nos túneis desta organização.

Netanyahu, que declarou querer a “vitória absoluta” e Gaza sem Hamas, recusa ofertas para receber todos os sequestrados de uma vez em troca da libertação de terroristas do Hamas de prisões israelenses, da retirada de tropas israelenses da passagem de Filadelfia e que termine a guerra. Netanyahu não aceita estes termos, até porque alguns partidos da coalizão sairiam do governo se os aceitasse e a sobrevivência política é que conta.

Quanto a taxa de 17% e que Netanyahu pensou que o “muy amigo” Trump reduziria para 10%, nada mudou.

Muitos em Israel estão bravos com o primeiro-ministro e seu governo pois Netanyahu é o único da cúpula que ainda não assumiu a responsabilidade pela tragédia do dia 7/10 e se recusa a formar uma Comissão Nacional de Investigação. Pior ainda é a divisão que está se formando no país, pois quem não concorda com sua conduta é automaticamente taxado de esquerdista. Mesmo quando uma refém falou contra o Netanyahu, as redes sociais encheram-se de palavrões e insultos contra sua pessoa, como “pena que você voltou”, entre outros.

O atual governo não aceita quem foi nomeado como presidente da Suprema Corte, o juiz Itzhak Amit. Absurdo foi que, na quarta-feira (09/04), na posse de novos juízes na residência do presidente Herzog, o ministro da Justiça Yariv Levin não cumprimentou e nem olhou para o presidente da Suprema Corte. É algo insuportável. Dias melhores hão de vir.

Foto: Captura de tela

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