Sobre a síndrome do ninho vazio
Por Mary Kirschbaum
Uf Gozal (Canção de Arik Einstein)
Hagozalim sheli azvu et haken | Meus filhotes deixaram o ninho |
parsu knafayim ve’afu | Abriram as asas e voaram |
Va’ani tzipor zkena | E eu sou um pássaro velho que |
nisharti baken | fiquei no ninho |
mekave me’od shehakol | Eu realmente espero que tudo |
yihe beseder | fique bem. |
Tamid yadati sheyavo hayom | Eu sempre soube que este dia chegaria |
shebo tzarich lehipared | Que precisaria despedir-me |
Aval achsahv ze ba li Kacha pit’om | Mas isso agora me veio de repente |
Az ma hapele she’ani kztzat do’eg | Não é surpresa que eu me preocupe |
Uf gozal | Voe filhote, |
chatoch et hashamaiyim | Cruze o céu |
Tus le’an sheba lecha | Voe para onde quiser |
Rak al tishkach | Mas não se esqueça, |
yesh nesher bashamyim | Há uma águia no céu |
Gur lecha | Cuide-se |
Achshav nisharnu | Agora ficamos |
levadenu baken | Sozinhos no ninho |
Aval anachnu beyachad | Mas estamos juntos |
Chabki oti chazak tagidi li ken | Abrace-me forte, diga sim, |
Al tid’agi | Não se preocupe, |
beyachad kef lehizdaken | Juntos é bom envelhecer |
Uf gozal… | Voe filhote… |
Ani yode’a shekacha ze bateva | Eu sei que é assim na natureza |
Vegam ani azavti ken | E eu também deixei um ninho |
Aval achshav | Mas agora, |
ksheba harega | Que chegou o momento |
Az machnik ktzat bagaron | Então dá um nó na garganta |
Uf gozal… | Voe filhote… |
Esta linda canção foi escrita para marcar a “saída de um filho da casa dos pais”.
A letra fala de amor, de preocupação, dos sentimentos e principalmente das saudades.
Todos nós, pais e cuidadores, sabemos que faz parte da natureza, que os filhos voem, se lancem para o mundo, deixem seus ninhos, ou melhor, os “nossos ninhos”. Estes que foram construídos junto aos pais, junto a família, no aconchego do lar.
A “síndrome do ninho vazio”, não é por si só um diagnóstico clínico (ou seja, uma patologia a ser tratada). Mas sim, diz respeito a uma fase de transição, onde muitas pessoas experimentam sentimentos de solidão ou perda.
Existe um paradoxo: enquanto muitos pais ajudam e compreendem a importância dos filhos de saírem para o mundo e se tornarem adultos independentes, a experiência em si, os sentimentos envolvidos, podem ser bastante dolorosos.
Na psicanálise, nos referimos a este estágio, ninho vazio, geralmente para falar de uma fase: pós paternidade. A fase em que as crianças crescem e não vivem mais em casa.
Embora tanto homens, quanto mulheres experimentem emocionalmente essa transição, ela é normalmente mais sentida pelas mulheres, por mexer literalmente no papel da maternidade.
Embora observemos que os cuidados que se perdem, nesta “partida”, são as funções de atenção mais relativas à preservação, a própria criação, o contato que advém da relação mãe-bebê, amor que só pode ser expresso e reconhecido em termos físicos. A mãe na sua proximidade de amor incondicional, vivência maternal, que elas progenitoras, conhecem e reconhecem muito bem.
Os pais, ou cuidadores que desempenham este papel não possuem esta mesma relação de cuidado visceral, mas adquirem muito rapidamente um amor aprendido. Um amor adquirido na companhia, no viver junto, na participação parental no dia a dia da vida desta criança, deste filho.
Pois bem, aí chega a maturidade, os filhos crescem e o ciclo da vida segue seu rumo… Eis que eles resolvem sair de casa para estudar fora, casar, viajar, “sair pelo mundo afora”…
E aí, como ficam estes pais?
Muitas vezes melancólicos, tristes e depressivos. Muitos deles passam por um período de luto.
Principalmente aquelas (es), que abdicaram de uma vida mais própria (um trabalho externo, um projeto de vida) e de repente se sentem sós, se veem num vazio emocional enorme, como se sua função de vida acabasse.
O grau de sofrimento psíquico pode variar muito de pessoa para pessoa.
Quanto mais estes pais estiveram envolvidos na vida e nas atividades de seus filhos, abrindo mão das suas próprias necessidades, mais sofrerão.
Mas, temos que ter em mente que a natureza age desta forma, “criamos nossos filhos para o mundo”. Nós também já saímos de nossos ninhos, como diz Arik Einstein, na música. E parafraseando, Khalil Gibran, em sua obra prima “O Profeta”: “Teus filhos não são teus filhos, eles são filhos e filhas da vida, anelando por si própria… Vem através de ti, mas não de ti. E embora estejam contigo, a ti não pertencem”.
Bem, visto tudo isso, ao chegar a hora da partida, tão esperada e ao mesmo tempo tão temida, é o momento de fazer o caminho inverso, anterior a vinda de nossos filhotes ao mundo, antes que estes “tomassem conta” de todo o nosso “precioso” tempo.
Voltar na descoberta da alegria do casal, do “namoro” que já existia antes da presença dos filhos.
Esta é a hora da retomada. Filhos criados, “missão cumprida”… Quem somos nós?
Voltar a nos reencontrar, enquanto seres humanos desejantes de NOSSA própria vida, NOSSOS projetos, NOSSAS vontades.
Tenho certeza de que muitos planos ficaram pendurados, para quando os passarinhos abrissem suas asas e voassem em seu vôo solo para a continuidade da vida que somente a eles e a D’us pertence!!
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