“Sérvia e Kososvo abrirão embaixadas em Jerusalém”, será?
Por David S. Moran
A frase acima citada foi do presidente americano, Donald Trump, na Casa Branca, ladeado pelo presidente sérvio, Aleksander Vucic e pelo primeiro ministro de Kosovo, Avdullah Hoti. Ao ouvir este estupendo anúncio, eu me perguntei: que estranho, os três líderes tratam dos seus problemas e chegam – pelo visto – a um acordo. O que isto tem a ver com o Estado de Israel?
Kosovo fez parte da antiga Iugoslávia, liderada pelos sérvios. Em Kosovo a grande maioria da população é de origem albanesa, muçulmana, lá há alguns lugares importantes para os sérvios. Entre estes dois povos ocorreram sangrentas batalhas e a última foi em 1998-9, que acabou com a intervenção de forças da OTAN, principalmente com intenso bombardeamento americano.
Em 2008, Kosovo, de 1,8 milhões de habitantes, declarou independência da Sérvia, que a considera uma área autonoma da própria Sérvia. Este país, de maioria cristã, não aceita esta situação. Na Sérvia, com sete milhões de habitantes, que era o “coração” da antiga Iugoslávia, havia população judia, dos quais muitos (entre os quais meu falecido sogro e seu irmão gêmeo, que morreu combatendo os nazistas) ingressaram nos ‘partisans’ comandados pelo Marechal Tito e lutaram contra os nazistas.
Enquanto o presidente Trump lia a sua declaração, os dois líderes ao seu lado prestavam atenção ao discurso. Trump informou que a Sérvia e Kosovo assinaram acordos separados com os EUA, normalizando suas relações econômicas e, de repente, anuncia que a Sérvia abrirá um Escritório Comercial em Jerusalém, já neste mês e que, até 1º. de julho de 2021, transferirá sua Embaixada de Tel Aviv para Jerusalém. Neste momento nota-se que o presidente sérvio, está espantado e folheando as paginas do acordo e depois olha à direita para seus assessores procurando saber o que acabara de assinar. Trump continua informando que Kosovo abrirá também embaixada em Jerusalém.
Isto é algo que os líderes de Kosovo declararam desde que proclamaram sua independência, em 2008. Na época do Holocausto, os albaneses-muçulmanos se viram ligados historicamente aos judeus e salvaram muitos judeus dos nazistas. Muitos países não reconheceram a declaração de Independência unilateral de Kosovo, incluindo Israel, que mantêm boas relações com a Sérvia. A instalação de Embaixada de Kososvo na Capital do Estado de Israel, Jerusalém, o tornaria o primeiro país com maioria da população muçulmana, reconhecendo Jerusalém como a Capital do Estado Judeu. O Primeiro Ministro de Israel, Netanyahu, apressou-se em cumprimentar os três líderes e exaltou Kosovo por ser o primeiro país muçulmano a abrir embaixada em Jerusalém. Os kosovenses são muçulmanos, liberais e europeus. Eles temem a vizinha Turquia, também muçulmana cada vez mais radical e os radicais xiitas do Irã.
Logo que a ficha caiu, o governo de Belgrado avisou o governo de Israel para não reconhecer Kososvo como estado independente. O presidente sérvio, Aleksander Vucic, disse que discutiu com os EUA o seu pedido de reconhecimento mútuo de Israel e Kosovo e que a Sérvia não concorda pois isto prejudica sua política. Adicionou: “se Israel e Pristina concordarem com isto seria ótimo e se Israel respeitar a Sérvia, nosso país trenasferira a embaixada à Jerusalém”. Aí vem a pergunta, o que significa “se Israel respeitar a Sérvia”? Explicação simples é: se Israel não reconhecer a independência de Kosovo, a Sérvia – que está praticamente falida e precisa da ajuda americana – transferirá sua embaixada para Jerusalem, senão…
Outra ducha fria veio da União Europeia (UE). Na segunda (07/09) a UE alertou a Sérvia e Kosovo de que se estabelecerem embaixadas em Jerusalém, isto poderá minar suas aspirações de aderir a UE. A posição do bloco das 27 nações que compõem a EU é de não reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, enquanto israelenses e palestinos não elaboram e resolvem esta questão. Hipocrisia europeia.
Outro empecilho nesta questão é o reconhecimento por parte de Israel da independência de Kosovo, da Sérvia. Não só que viria por conta das boas relações entre Israel e a Sérvia. Kosovo não é membro da ONU, pelo veto da Rússia (um dos cinco países membros permanentes no Conselho de Segurança, com poder de veto). Outros países que temem reconhecer Kosovo são aqueles que têm problemas com separatistas, como a Espanha, Rússia, Grécia, Chipre, Eslovênia e Romênia. Israel teme de que se reconhecer Kosovo, como Estado independente, poderá dar ideia aos palestinos declarar unilateralmente independência e Israel não poderá protestar aos países que o reconhecerão.
A liderança palestina, como de costume e o esperado, ficaram zangados declarando: “esta é uma clara agressão contra o povo palestino”. Chamaram o reconhecimento de Kosovo de Jerusalém como a capital de Israel de “traição muçulmana”.
Por outro lado, o Presidente da República Checa, Milos Zeman, que há muito é favorável a transferência de sua Embaixada para Jerusalém, cumprimentou a Sérvia e disse: “isto deve dar-nos inspiração para tomar a mesma atitude”.