Semana com altos e baixos
Por David S. Moran
Encontro um amigo e lhe pergunto o costumeiro “como vai?”. A resposta atualmente é “pessoalmente, tudo bem, do ponto de vista da nação, mal”.
Fui ao cinema com meu neto e depois dos trailers apareceu uma nota que só aparece em Israel: “Atenção espectadores, se no meio do filme ecoar o alerta, não se apavorem, mantenham-se calmos e agachem debaixo das poltronas. O cinema está no subsolo e, portanto, serve também de abrigo”.
Parece que a Guerra Espadas de Ferro que já está quase no seu 11º mês, tornou-se o habitual. No norte do país, 61.000 habitantes estão deslocados de suas casas nos kibutzim e de Kiriat Shmona. No Sul, há também dezenas de milhares que ainda não voltaram e não têm para onde voltar, pois suas casas foram destruídas em 7 de outubro de 2023.
O ano letivo escolar deve começar no domingo (01/09), mas dezenas de milhares de alunos não estão em suas casas e, além disso, o sindicato dos professores ameaça entrar em greve pois o Ministério da Fazenda não autoriza o aumento que deve aos professores. O ministro Smotrich estica e dá aumentos de verbas aos ultraortodoxos e não à maioria da população.
Embora haja manifestações em todo o país para chegar a um acordo com a organização terrorista Hamas sobre a libertação dos sequestrados vivos e mortos, parece que o premier Netanyahu não liga. O seu Ministro da Defesa, Yoav Gallant e os mais altos comandantes das FDI são favoráveis a um acordo, mesmo que deixem o corredor Filadelfia e dizem que poderemos voltar para lá quando quisermos, em oposição a Netanyahu que quer forças israelenses permanecendo lá. A discussão é que primeiramente tem que libertar os que estão nas mãos da Hamas, é um mandamento judaico e moral de primeira. Parece que Netanyahu teme que, se o fizer, os partidos de Ben-Gvir e Smotrich deixarão o governo e ele cairá. Já agora dizem que o Ben-Gvir é que realmente governa o país. Mais a respeito, a seguir.
Na madrugada de domingo (25/08), O Serviço de Inteligência de Israel notou movimentos das forças da organização terrorista Hezbollah, no Líbano, e detectou que eles iriam lançar um grande ataque de mísseis e drones sobre Israel. Entre seus alvos estavam também a sede do Mossad e da Unidade 8200, nas redondezas de Tel Aviv. Quinze minutos antes do ataque previsto, FDI realizaram um amplo ataque preventivo, envolvendo 100 caças, que destruíram milhares de estabelecimentos lança mísseis. Cerca de 250 mísseis e drones conseguiram escapar do Líbano e a maioria foi abatida antes de alcançar os alvos. Segundo especialistas do exército, o ataque preventivo imobilizou mais de 50% dos povoados no norte do país.
Esta semana, a ONU aprovou a permanência das tropas da UNIFIL, postadas na fronteira do Líbano com Israel, por mais um ano. O problema é que terroristas da Hezbollah lançam mísseis contra Israel junto a unidades da UNIFIL e estes se retiram quando mais precisam de sua intervenção.
Na noite de domingo, o líder terrorista Nasrallah, que havia planejado falar da grande operação do Hezbollah contra Israel, encontrou dificuldades em falar a verdade. Ele não foi tão categórico como geralmente é e falou confuso e contou um monte de mentiras. Por isso foi alvo de gozação até mesmo em jornais do mundo árabe.
Na terça-feira (27/08) as tropas do Comando Naval, da Unidade Yahalom (Diamante) da Engenharia Militar, brigada 401 e guerreiros do Shabak, conseguiram resgatar um sequestrado de um conglomerado de túneis no sul da Faixa de Gaza. Trata-se de um dos seis beduínos que trabalhavam no Kibutz Magen, Farhan Alqadi de 52 anos, casado com 11 filhos. O menor tinha dois meses quando ele foi sequestrado. Ele está em boas condições apesar de comer, durante os 326 dias de cativeiro, basicamente só pão e água. Emagreceu 20 kg. e não viu o sol, oito meses. Parece que seus vigias fugiram quando perceberam que tropas israelenses estavam “batendo nas portas”. Ele é o oitavo refém libertado com vida e o primeiro de um túnel. Ele agradeceu a Tsahal (FDI) por tê-lo salvo. Queixou-se que o sofrimento é indescritível. Pediu ao governo fazer de tudo para libertar os demais sequestrados. “Há mais reféns que esperam, o pessoal sofre muito mesmo. Façam tudo para libertar todos os reféns”. Recebeu telefonemas do presidente Herzog, do primeiro-ministro Netanyahu e de lideranças partidárias e militares. Aqui também criticaram o Netanyahu, pois ele ainda não visitou as localidades que foram invadidas em 7/10 no Sul, nem as que foram evacuadas no norte do país. Ele não telefona aos familiares de soldados que tombaram na guerra e só se fotografa e fala em operações de sucesso. Todos os grandes jornais e TV’s nos EUA, Inglaterra e outros países destacaram o grande logro das tropas israelenses.
No dia seguinte, graças a informações retiradas de terroristas da Hamas em poder de Israel, o Shabak apontou onde estava enterrado, desde 7/10 o corpo de um israelense de 86 anos, que foi levado para o Hamas barganhar a sua libertação.
Agora, depois de 329 dias, ainda há em poder do Hamas 107 reféns, dos quais sabe-se que 34 já estão mortos. Yahya Sinwar insiste em fazer acordo (se o fizer) em pelo menos duas etapas, para que possa continuar mantendo reféns como proteção humana de sua vida. O exército dá passo a passo, para poder retirar reféns das mãos do Hamas, mas com muito cuidado, pois qualquer deslize poderá acarretar a morte de reféns. A operação que permitiu a libertação de Farhad Alqadi, levou cinco dias, com movimentos bem cautelosos.
O Ministro da Segurança Nacional (Policia), Ben-Gvir continua provocar Netanyahu e sem a devida resposta do premier. Depois de levar dezenas, talvez centenas de simpatizantes ao Monte do Templo para lá rezarem, contrariando o status quo reinante desde 1967, na segunda-feira (26/08), Ben-Gvir declarou numa entrevista por rádio que construiria uma sinagoga no Monte do Templo. Até ministros do partido religioso Shas exigiram de Netanyahu “colocar Ben-Gvir no seu devido lugar”. Mas, como dito antes, Netanyahu teme reprimi-lo ou demiti-lo. Ele só replica: “não há nenhuma mudança no status quo no Monte de Templo”. Este lugar é explosivo. Lá estão construídas as Mesquita de Omar e Al Aksa, o terceiro lugar mais santificado no mundo muçulmano. Ben-Gvir por, sua vez, diz que ele é a autoridade e assim confronta Netanyahu. Na religião judaica é proibido ir ao Monte do Templo, onde antigamente estavam os dois templos, que foram destruídos, há 2.600 anos e há 1.954 anos.
O chefe da Shabak (antigo Shin Bet), Ronen Bar, advertiu publicamente que o “fenômeno dos jovens das colinas” transformou-se numa organização ativa e violenta contra os palestinos. Ele chama seus atos de terrorismo. A polícia, geralmente chega tarde, talvez devido aos ventos que sopram do ministro encarregado da polícia, Ben-Gvir, que já foi um deles no passado e os apoia ocultamente. Em contrapartida, Ben-Gvir acusou Ronen Bar de ser um dos responsáveis pelos acontecimentos em 7/10 e que ele se rendeu ao Hamas no Monte do Templo e exige sua demissão. Netanyahu e outros ministros apoiaram a postura de Bar e que ele decide a política sobre o local. Ben-Gvir, sem hesitação lhe respondeu: “então demita-me” e saiu da reunião ministerial. Nada aconteceu depois.
Daqui a pouco o calor infernal vai passar e dar lugar ao inverno. Dentro de um mês entrará o ano novo judaico e todos os israelenses esperam que, com isto, mude o cenário de guerra para um cenário de paz e prosperidade na região e no mundo.
Foto: Gabinete do Primeiro-Ministro