Ramadã e a Guerra de Gaza
Por Deborah Srour Politis
Quem abriu o noticiário internacional esta semana notou a quantidade de artigos sobre o Ramadã e a guerra em Gaza.
O Ramadã, para quem não sabe, é o nono mês do calendário islâmico e é quando os muçulmanos do mundo inteiro jejuam do nascer ao pôr do sol. No Brasil é um jejum de em torno 13 horas durante o dia. É um mês para supostamente orar, refletir, fazer caridade e tentar ser uma pessoa melhor. Mas é também um mês que premia em dobro atos de sacrifício e martírio.
Enquanto a maioria das publicações focam na falácia da fome que paira sobre a Faixa e tristeza das famílias de Gaza por não poderem comemorar seu mês santo como sempre, com suntuosos jantares e cafés da manhã, elas omitem o que a história mostra do que se passa realmente durante o Ramadã. Elas também não conseguem evitar de interpretar os eventos com lentes ocidentais.
Então vamos lá. Primeiramente, não confundam Ramadã com Natal. Somente por ser um mês de jejum, Ramadã não deixa de ser um mês de avanço islâmico e de guerras e isso desde a época de Maomé. Entre outras e já em 624, a batalha de Badr contra Mecca foi travada em Ramadã. Em 653, os muçulmanos invadiram e conquistaram a ilha grega de Rodhes. Em 710, invadiram a Espanha, conquistando a Andaluzia e ocupando a região por 800 anos. Em 1187, Saladino venceu o exército Franco e tomou Jerusalém na batalha de Hattin também em Ramadã.
Mais recentemente, em 1981 e 1987, o Irã rejeitou dois cessar-fogos oferecidos pelo Iraque durante Ramadã. A guerra entre eles continuou. Em Israel, a primeira intifada palestina durou seis Ramadãs.
E não podemos esquecer a Guerra do Ramadã como é chamada a guerra de Yom Kipur, quando o Egito e a Síria lançaram um ataque de surpresa contra Israel, no seu dia mais sagrado, e também de jejum. De alguma forma, a oração, a contrição e a reflexão não inibiram aquele ataque traiçoeiro que massacrou 2.700 israelenses. Tampouco o jejum. Os soldados egípcios e sírios foram isentos de jejuarem porque estavam empenhados no dever religioso de matar infiéis, a categoria em que os judeus se enquadram.
Não dá para entender, então, por que o mundo exige um cessar-fogo e o respeito pelo mês santo islâmico quando os próprios muçulmanos veem a guerra neste mês como um dever religioso. Como disse, nada como aplicar valores ocidentais a situações e pessoas que estão longe deles.
Seria bom se os muçulmanos palestinos em Jerusalém, Judeia, Samaria e Gaza se aproximassem do Ramadã como eles querem que acreditemos: como um mês de jejum, caridade, oração, contrição e reflexão.
Tenho certeza que muitos muçulmanos devotos fazem isso, mas é igualmente verdade que o Ramadã tem sido frequentemente celebrado com uma orgia de violência muçulmana, especialmente palestina. Invariavelmente, o Ramadã é usado como desculpa para o aumento da guerra santa contra Israel.
Aqueles com alguma memória – e isso exclui muitos indivíduos na Casa Branca de Biden e no Departamento de Estado de Blinken – podem facilmente verificar que os inimigos de Israel há muito que usam o Ramadã para assassinar judeus. Em 2016, o Hamas rotulou o ataque assassino ao Mercado Sarona em Tel Aviv de “Operação Ramadã” e o celebrou como o “Primeiro Ataque do Ramadã”. Outros ataques terroristas contra judeus logo se seguiram, tornando aquele Ramadã num mês particularmente sangrento para Israel.
E isso não se limita nem aos judeus. Em 2016 e 2017, o ISIS bombardeou duas vezes uma rua popular em Bagdá durante o Ramadã, matando centenas de muçulmanos. Durante o mesmo Ramadã de 2016, um muçulmano radical atacou a boate Pulse em Orlando, Flórida, assassinando 49 pessoas. E estes não são exemplos isolados. Os árabes têm historicamente travado guerras cruéis uns contra os outros durante o Ramadã.
E, com certeza, mais uma vez este ano, todos temem uma “escalada” no Ramadã, que ao que parece, começa amanhã. Especialmente porque o Hamas e o seu porta-voz, o canal Al Jazeera, estão apelando aos fiéis para expandirem a “Inundação de Al-Aqsa” (o nome que o Hamas deu ao massacre de 7 de outubro) a Jerusalém e à Cisjordânia através do terrorismo e da revolta.
E o que está fazendo o Departamento de Defesa americano? Ele está ocupado enviando alertas aos líderes de Israel para prestarem reverência ao Ramadã, para serem extremamente cautelosos durante o Ramadã, para não fazerem nada para “provocar” os muçulmanos no Ramadã – especialmente dentro e em volta do Monte do Templo de Jerusalém – porque “as emoções muçulmanas são, oh, muito sensíveis durante este mês”.
O presidente americano, Joe Biden, chegou ao ponto de sugerir que Israel deveria interromper a sua guerra contra o Hamas em Gaza para permitir que os muçulmanos observassem piedosamente o Ramadã e, aproveitassem parte daquele famoso espírito de caridade, para fazer o Hamas se derreter e concordar em soltar os reféns (Halevai, mas na dúvida, vamos esperar sentados).
Para nós judeus e israelenses, tais sentimentos parecem tão bizarros, tão bizarros… porque são bizarros. Nunca ouvi que um judeu tenha saído para matar não-judeus por emoção à uma festa judaica. Ou um cristão que saiu para metralhar pessoas sob a influência do “espírito natalino”. Na verdade, é inconcebível para qualquer judeu – ou qualquer pessoa normal, moral e de pensamento correto – gritar “Allah uAkbar – Deus é Grande” como um prelúdio para assassinar, estuprar, saquear, decapitar, explodir, esfaquear, atirar em pessoas inocentes, por qualquer motivo. Talvez os bons muçulmanos devessem usar este Ramadã para um exame de consciência e a melhor forma de erradicar este mal do seu meio.
E não como os chamados “especialistas” em segurança, políticos, diplomatas e estadistas dizem: “Bem, é claro, as tensões são sempre elevadas durante o Ramadã e, assim, os judeus devem se manter discretos, abaixarem suas cabeças, voltarem a serem cidadãos de segunda classe, dhimmis, porque a violência muçulmana deve ser antecipada durante o mês sagrado”.
Tal sentimento insulta ou deveria insultar a maioria dos muçulmanos do mundo, bem como a nossa inteligência. É a própria definição de se render aos agressores, em vez de confrontá-los e vencê-los.
Além disso, a tal “piedade” em Ramadã, deveria começar em casa. O Hamas, que diz ser primeiramente um movimento islâmico, deveria sim soltar todos os reféns e se render para salvar as vidas de outros muçulmanos inocentes que certamente morrerão com a continuação da guerra. Mas o Hamas quer apenas uma coisa: a sobrevivência e a preservação de seu poder em Gaza. Eles pouco se importam se o mês é santo ou não, a não ser para inculcar nos jovens terroristas o desejo de morrerem neste mês pois a recompensa é dobrada. Se o mundo permite ao Hamas tirar as luvas no Ramadã, não esperem que Israel guarde as suas.
Para finalizar, comemoramos na sexta-feira o Dia Internacional da Mulher. Muito tem sido escrito sobre a vergonhosa traição das mulheres israelenses por suas “irmãs” em todo o mundo, a maioria das quais permaneceu em silêncio sobre a “tortura sexualizada” a que foram submetidas no dia 7 de Outubro.
Os grupos de mulheres, incluindo a ONU Mulheres, agravaram este sofrimento com o seu silêncio, alguns até chegando a exigir à apresentação de provas para apoiar as alegações de violação e abuso sexual que agora o Hamas nega. Tragicamente, muitas das vítimas do Hamas foram assassinadas em 7 de Outubro ou ainda estão em Gaza, onde permanecem reféns.
Levou quatro longos meses, para que a enviada da ONU, Pramila Patten, visitasse Israel. O relatório que se seguiu confirmou que “violência sexual, incluindo mutilação genital, tortura sexualizada ou tratamento cruel, desumano e degradante” foi cometida durante os ataques de 7 de Outubro.
No entanto, mesmo agora, com a confirmação por parte de uma organização internacional afiliada à ONU, da ocorrência de tais atrocidades contra as mulheres, o mundo permanece em silêncio.
Então entre os 134 cativos, vou repetir o nome aqui das 14 moças (apesar da violência sexual também ter sido cometida contra homens e rapazes), que ainda estão sendo torturadas ou mortas em Gaza: Liri Albag, de 18 anos, Daniella Gilboa, de 19 anos, Naama Levy de 19 anos, neta de sobreviventes do Holocausto, Karina Ariev, 19 anos, Agam Berger de 20 anos, Noa Argamani, de 26 anos, Romi Gonen 26, Arbel Yehud de 28 anos, Carmel Gat de 39 anos, Eden Yerushalmi de 24 anos, Doron Steinbrecher de 30 anos, Shiri Bibas, a mãe dos dois meninos Ariel de 4 anos e o bebê Kfir que continuam cativos, Amit Buskila de 28 anos e Emily Damari de 27 anos. Não esqueceremos, não perdoaremos até que retornem.
Foto: Tasnim News Agency, CC BY 4.0, (Wikimedia Commons)
Irretocável ! Falou e disse👏
El Shaddai, liberta os reféns das mãos desses demônios 🙏
Só lembrando que, historicamente, especialmente na Rússia, e na Ucrânia, mas não só, o Natal era ,sim, uma desculpa para pogrons. As pessoas iam para as igrejas para serem ” preparadas” pelos sermões para ” vingar Jesus “. Os judeus se preparavam para ” as festividades” escolhendo lugares para se esconder e reforçando portas.