Quo Vadis, Netanyahu?
Por David S. Moran
O atual governo de Israel, liderado pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, assumiu em 29.12.2022, após receber apoio de 63 deputados, contra 54. Netanyahu já serviu como primeiro-ministro pelo tempo mais longo da história do novo Israel. Teve um intervalo de um ano e meio, mas parece que quer montar tudo de novo. Criou muitos ministérios que nunca existiram, só para dar emprego (e apoio) a deputados da coalizão.
Uma das primeiras medidas que tenta aprovar é uma mudança total no poder judiciário. Desde a escolha de juízes para a Suprema Corte, até o poder do legislativo de sobrepor sua vontade ante o judiciário. “Assim evitaremos que o judiciário proíba nomear ministros de Estado, que queremos”. Isto vem depois que o Judiciário obrigou o deputado Arie Deri, líder do partido haredi sefardita, Shas, de servir como ministro.
Deri, que já foi três vezes julgado na justiça e inclusive passou alguns anos na cadeia. Em 2022, chegou a acordo com a justiça, que o condenaria por evasão de impostos. O acordo foi que Arie Deri, comprometeu-se a se afastar da política e não iria a cadeia, só pagaria multa. Deri não pensou nem um minuto em sair da política.
Voltou à política no dia seguinte ao acordo. Netanyahu considera-o homem de sua confiança e, mesmo depois de afastado do ministério, convocou-o a participar do gabinete de segurança depois da chacina de palestinos, na Sinagoga em Neve Yaakov. Deri diz em voz alta: “se me fecharam a porta, entrarei pela janela e se me a fecharem, entrarei pelo teto”. Ele entregou os dois ministérios que liderava – o do Interior e o da Saúde (um não é suficiente?) – a dois deputados do seu partido, mas é ele que faz o trabalho, com reuniões em sua casa.
Na sua luta contra o Judiciário, Netanyahu tem o apoio do deputado Simcha Rothman, do Partido Sionismo Religioso, que é o chairman da Comissão da Lei, Constituição e Justiça. Ele que está na Knesset há apenas dois anos, e tira da comissão cada deputado que é contrário às ideias que ele apresenta.
Netanyahu, que também tem está em processos na justiça, de fraude, suborno e quebra de confiança, faz de tudo para fugir das acusações. Seu homem de confiança, Yariv Levin, foi nomeado ministro da Justiça e quer mudar tudo no poder Judiciário, para que políticos mandem neste poder também. Na quinta-feira (2/2), a Conselheira de Justiça do Governo, Gali Baharav-Miara, mandou aviso a Netanyahu, para se afastar de tudo que se relaciona à justiça, pois pode haver conflito de interesses. Aliás, seguidores do premier a perseguem e ela tem a proteção mais elevada do Shabak (antigo Shin Bet).
Não só o Judiciário está na mira do atual governo. O ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, do Likud, apenas três anos na Knesset, a mando do seu líder, logo de início disse que vai acabar com o serviço da mídia pública. A Kol Israel (a Voz de Israel) foi extinta pelo governo Netanyahu há 6 anos e nas suas ruínas, foi remontado o Ka n- a Corporação da Radiodifusão Pública. Esta que agora quer destruir, por não lhe dar preferência e tenta ser objetiva. Netanyahu prefere canais como o Canal 14, que empreendeu como canal de Tradição Judaica e com o tempo permitiu-lhe transformar-se em canal de noticiários e programas favoráveis a Netanyahu e ao Likud. Tem apenas 3% de audiência, segundo o “IBOPE” israelense. Como disse a ministra Miri Regev (Likud), “de que adianta ter uma mídia pública, senão a controlamos?”
Dias depois de falar no fechamento da Kan, foi publicado que não a fecharia (por enquanto, pois Netanyahu segundo informa o jornalista da direita, Ami Segal, quer se concentrar primeiramente no Judiciário e depois…), mas corta drasticamente suas verbas inclusive o Departamento de Atualidades e Noticiários.
Quem também corre perigo de ser exterminado é a estação Galei Tsahal, que servia ao Exército e com o passar do tempo tem também noticiários, mas tem grande audiência, inclusive na sua estação caçula, Galgalatz, que transmite músicas.
Desde sua formação, o atual governo enfrenta cada sábado à noite, em várias cidades, manifestações públicas com dezenas de milhares de pessoas protestando contra as atitudes que o governo pretende tomar. Agora, já há protestos de setores da economia e setores do público israelense que se manifestam. Exemplo disso, foi o dos donos e funcionários da principal locomotiva atual da economia nacional, a alta tecnologia.
Como aprendemos em Estudos Sociais, quando há problemas, o governo prefere fazer a opinião pública lidar com coisas externas. Netanyahu encontrou-se na semana passada com o rei Abdullah II da Jordânia. Esta semana, o Secretário de Estado americano, Antony Blinken, passou três dias em Israel e com um pulo de algumas horas à Autoridade Palestina, com Mahmoud Abbas em Ramallah. Blinken pediu a Netanyahu passar as reformas programadas no Judiciário (e não a revolução) em concordância entre os partidos políticos. Netanyahu deu entrevista à TV. Não à TV israelense, com a mídia local não fala. Prefere falar no seu ótimo inglês com a TV americana. Como é possível que o primeiro ministro de Israel não fale diretamente com o público israelense? Na quarta-feira (1/2) encontrou-se com o presidente do Chad, que veio para reabrir a sua Embaixada em Israel. Na quinta feira (2/2) partiu com sua esposa e filho (?) à Paris, onde jantarão com Macron por duas horas, mas a visita se prolongará até sábado à noite, afinal Paris é a cidade do amor.
Deixa em Israel os problemas que seu ministro da Defesa Galant enfrenta com o seu ministro da Fazenda e também adjunto do ministro da Defesa, Smotrich. A este foi prometido ser o dono da Administração Civil na Judeia e Samaria. Galant não lhe transfere a autoridade, pois crê que o exército é que tem que lidar com esta área.
Netanyahu voa ao exterior apesar de o Hamas e/ou a Jihad Islâmica terem lançado nas duas últimas noites mísseis contra as cidades e kibutzim próximas da fronteira de Gaza, que fizeram seus moradores entrarem nos abrigos antiaéreos. Que nunca é agradável, em especial no atual frio e com as chuvas que irrigam Israel. Também deixa a polêmica de mudar as barracas dos beduínos de Khan al Ahmar, que se apoderaram de região governamental e nove vezes a justiça ordenou sua transferência. Seu governo “de direita total” receia agir de acordo com a lei. Não se trata de expulsá-los, apenas transferi-los do local estratégico onde estão. Ainda não mencionei a dura luta incessante contra o pior inimigo atual de Israel, o Irã. Apesar de no início da operação em Isfahan, dizer-se que Israel não estva envolvido, já no dia seguinte os EUA avisaram que não foi força sua que provocou a explosão e sugeriu que foi o Mossad israelense, o responsável pelo ato (EUA tem medo de represália iraniana?).
O público israelense está passando por uma divisão que é maligna. Quem não concorda com o atual governo, logo é taxado de esquerdista. Isto apesar de muitos ex-deputados e ministros pelo Likud se manifestarem contra a atitude do governo Netanyahu. O país é pequeno, tem tantos inimigos e não precisa desta divisão interna. Parece que o populismo e a gritaria ganham do bom senso e isto só prejudicará o país.
Foto: World Economic Forum (Flickr)