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Quo Vadis, após 259 dias

Por David S. Moran

Esta semana começou muito mal do ponto de vista israelense. No domingo, oito soldados do Corpo de Engenharia caíram quando seu veículo blindado foi acertado por RPG e em consequência houve explosões secundarias das minas e explosivos que os acompanharam.

As forças de Defesa de Israel já conquistaram todo o Eixo de Rafah ao longo da fronteira com o Egito. Agora, o trabalho é de “limpeza”, descobrir e destruir os túneis. As estimativas são que ainda haja centenas de km de túneis. Os americanos estimam que são cerca de 500 km. Tanto é que não se tem noção de onde está o Sinwar e outros líderes da organização terrorista Hamas, com os 120 reféns que estão em seu poder, há 259 dias. Aliás, os reféns não foram visitados nenhuma vez pela Cruz Vermelha, ou qualquer organização de direitos humanos e não se ouve reclamações e condenações ao Hamas.

Há uma certa discordância entre o governo e as Forças de Defesa de Israel para se retirar ou não da Faixa de Gaza. Netanyahu quer “vitória completa”. Na quarta-feira (19/06) o porta voz militar, Daniel Hagari, general de brigada, disse numa entrevista: “estamos próximos de vencer a guerra. Não exterminaremos a organização terrorista Hamas que é uma ideologia e não dá para exterminá-la. Se a enfraquecermos aparecerá uma nova”. Esta declaração é uma confrontação ao governo que diz que o extermínio do Hamas militar e governamental é uma das metas do governo.

Netanyahu, agora que os ministros Benny Gantz e Gadi Eizenkot, dois ex-comandantes das FAI, se demitiram e eram tidos como os “adultos responsáveis”, está à mercê de dois ministros chantagistas e da extrema-direita, Ben-Gvir e Smotrich. Os dois exigiram entrar no Gabinete de Guerra e Netanyahu preferiu dissolver este gabinete. O premier ofereceu ao Ben-Gvir fazer parte de um gabinete maior e foi recusado, pois Ben-Gvir lhe disse que quer fazer parte dos que decidem e não dos que leem após as decisões. Netanyahu acusou-o de vazar informações à mídia, ao que foi respondido pelo Ben-Gvir: “estou disposto a fazer teste de polígrafo, contanto que o façam também a quem tem marca passo”, fazendo referência a Netanyahu.

O primeiro-ministro faz uso do seu filho, Yair (foto), de 33 anos, auto-exilado em Miami e que não foi ao exército. Ele, que é conhecido por suas mensagens nas mídias sociais, lançou seu veneno contra o Chefe do Estado-Maior, Tenente-General Herzi Halevi, contra o Comandante do Serviço de Inteligência, general Aharon Haliva (que já se demitiu) e o chefe da Shabak (antigo Shin Bet), Ronen Bar. Acusou-os de serem “falhas fatais” e de formar “conceptzia” contra o governo, junto com Benny Gantz que é o rei desta armadilha e quem nomeou os três. Um absurdo por si só. Um dia depois, já o “filhinho” perguntou onde estava o general Tomer Bar, em 7/10 e o que fez. O Comandante do Estado-Maior já assumiu a culpa, bem como o chefe da Shabak, em outubro de 2023. O único dos líderes do Estado que não assumiu a culpa é o próprio pai do Yair, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Vale a pena ressaltar que Netanyahu Junior vive em Miami num apartamento de luxo que custa 5 mil dólares mensais. Vai à ginastica e à piscina, mas não trabalha, por falta de visto de trabalho. É protegido por dois agentes da Shabak, pagos pelos impostos de israelenses.

Quem juntou-se ao Yair Netanyahu num coro é o Yaakov Bardugo, muito próximo do Netanyahu. Este alega que o Chefe do Estado-Maior quer deixar o Hamas no poder. Outro absurdo, pois, Herzi Halevi disse inúmeras vezes que quer acabar com o Hamas. Através do seu porta-voz Hagari, emitiu a nota de que Bardugo mente e prejudica as FDI e seus comandantes. É uma lástima que o primeiro-ministro seja muito influenciado por sua esposa e filho que não foram eleitos para nada e por um grupo de groopies, que o seguem cegamente. Em todos os tuites venenosos do filho, ou de Bardugo, o premier não os criticou ou censurou.

Esta semana, além da guerra que se estende sem fim e quando ainda centenas de milhares de israelenses estão “exilados” de suas casas, Netanyahu não conseguiu passar a lei da isenção dos haredim (ultra ortodoxos) do exército, por rebelião de deputados do Likud, fato que irritou muito o deputado Arie Deri, do Shas.

Os protestos nas ruas se estendem, mas parece que não mexem com o governo. Familiares dos reféns e dos soldados mortos em combate se queixam que ninguém do governo os visita, mas quando conseguem resgatar alguém como foi o caso dos quatro reféns, Netanyahu, mesmo no sábado, viajou até o hospital para tirar fotos com os libertados. Os partidos da coalizão sabem que podem falar alto e até irritar Netanyahu, mas se saírem do governo, ninguém os espera fora. Atualmente a coalizão tem 64 deputados, dos 120 na Knesset. Se forem realizadas novas eleições, a tendência, pelas pesquisas de opinião pública é de ficarem na oposição, com grandes perdas.

Como se não faltassem problemas ao governo e com a intensificação de ataques da Hizballah, do Líbano contra Israel, Netanyahu lançou um vídeo (17/06) no seu polido inglês, criticando o governo Biden por atrasar entrega de material bélico a Israel. Em resposta, bastante nervoso, o Secretário de Estado Blinken disse: “continuamos entregar material bélico a Israel. Com respeito a bombas de 1 tonelada, expressamos nossa preocupação de usar ou não em áreas densamente populadas e isto está sendo analisado”. O governo americano, que também vê nessas declarações intervenção nos assuntos internos americanos/eleições em novembro e que Netanyahu prefere lidar com Trump – decidiu cancelar no último segundo o encontro do Fórum Estratégico, que aconteceria em Washington na quinta-feira (20/06). Durante semanas, os dois lados se prepararam para tal, inclusive em assuntos relativos a armas nucleares do Irã. Setores governamentais alegam que a fala de Netanyahu provocou danos massivos a ambos os lados. Netanyahu deve viajar a Washington no inicio da semana que vem e falar no Congresso, na segunda feira (24/06). Muitos deputados e senadores democratas disseram que vão se ausentar.

Foto: U.S. Embassy Jerusalem, CC BY 2.0 (Wikimedia Commons)

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