“Querem tornar o museu do Holocausto uma Disneylândia”
O diretor de cinema russo, Ilya Khrzhanovsky, o novo diretor artístico do Babyn Yar Holocaust Memorial Center, na Ucrânia, um memorial às vítimas do massacre de Babi Yar, está sendo acusado de querer transformar o museu numa Disneylândia do Holocausto.
Segundo o ex-diretor Karel Berkhoff, o cineasta russo, que não é judeu, quer trazer seu estilo cinematográfico hiper-realista para o museu e torná-lo, nas palavras de um ex-diretor do projeto, uma “Disneylândia”.
O último lançamento cinematográfico de Ilya Khrzhanovsky é tão extremo que ele está atualmente sob uma investigação policial por suposta tortura de figurantes, incluindo órfãos menores de idade.
O diretor da série “Dau”, filmado na cidade ucraniana de Kharkiv, durante mais de uma década, para recriar de forma fictícia a dureza da vida sob a União Soviética comunista, inclui cenas de espancamentos, interrogatórios, estupro e outras formas de abuso interpretada por atores, quase todos amadores e muitos menores de idade, incluindo alguns provenientes de orfanatos.
Até recentemente, os filmes eram aclamados como conquistas inovadoras. Mas agora, Khrzhanovsky é acusado de abusar de seus atores, explorando-os através da exposição à violência física, humilhação e assédio sexual.
O nome do museu é uma homenagem ao massacre de Babi Yar, uma ravina nos arredores de Kiev, onde nazistas e colaboradores locais assassinaram mais de 150.000 pessoas, incluindo 50.000 judeus.
O governo ucraniano investiu um milhão de dólares no projeto, o maior investimento já visto em um memorial do Holocausto no país.
De acordo com Karel Berkhoff, que foi nomeado historiador-chefe do museu em 2017, mas que já deixou o cargo, Khrzhanovsky planeja fazer exibições interativas “nas quais os visitantes se veriam fazendo o papel de vítimas, colaboradores, nazistas ou prisioneiros de guerra.”
Mas o escândalo sobre seu último filme, “Dau: Degeneration”, colocou em risco o trabalho de Khrzhanovsky com o museu. Dezenas de artistas e historiadores ucranianos escreveram uma carta aberta, exigindo sua demissão do projeto Babi Yar, alegando que “a nomeação de Khrzhanovsky como diretor artístico já manchou a reputação do Memorial e está minando as realizações dos três anos anteriores de trabalho”, escreveram os signatários.
Em comunicado a Fundação de Caridade do Memorial do Holocausto Babyn Yar disse que o projeto “Dau” é praticamente irrelevante para o trabalho em andamento de Khrzhanovsky no memorial e que o Centro Memorial do Holocausto Babyn Yar e o Dau são dois projetos completamente distintos.
Os museus mais importantes do Holocausto, incluindo o Museu de Auschwitz-Birkenau, desencorajam ou proíbem interação com o material exposto. Em Auschwitz, por exemplo, é proibido escalar os vagões de gado, semelhantes aos que os nazistas transportavam judeus.
O museu de Auschwitz foi criticado em 2015 apenas por jogar jatos d’água nos turistas que se encontravam na fila de entrada durante uma onda de calor. Judeus ofendidos em todo o mundo argumentaram que “pareciam os chuveiros que os judeus foram forçados a entrar” antes de serem levados para as câmaras de gás nazistas.
Khrzhanovsky se recusou a falar sobre sua visão para Babyn Yar, dizendo que ela será apresentada ainda este ano.
“Meu maior medo é que o museu vire complexo de entretenimento. Isso é um memorial”, disse o ex-diretor.
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