Que será, Sara?
Infelizmente, isto chegou até Israel. A esposa de um Primeiro Ministro, exercendo sua função, foi acusada e condenada em ação penal. No domingo (16), a senhora Sara Netanyahu, após vários atrasos, assinou um acordo com a Procuradoria Geral, no qual admite a acusação, que tinha quatro seções diferentes: 1- Contratar eletricista (que é ativista do Likud, partido do premier) para sua residência particular e pelo recibo apresentado, foi em Yom Kipur, dia em que Israel para. 2 – Contratou uma cuidadora para o seu pai doentio e os pagamentos transferidos para o gabinete do Premier. 3 – Comprou móveis para o jardim da residência oficial e ordenou entregá-los na residência particular, em Cesareia. 4 – Aumentar inadvertidamente as despesas de refeições, em cerca de 100 mil dólares. Ocorre que na residência oficial há cozinheiras que preparam as refeições. Para a Sara isto não foi suficiente e ela encomendou comida para o casal e para amigos particulares em restaurantes famosos e ou de chefs. Quando o premier tem visitas oficiais, encomenda refeições de chefs ou de restaurantes que tem seção de despesas diferente e aprovada.
Essas despesas não autorizadas começaram em setembro de 2011 e continuaram até março de 2013. A dona Sara exigia do encarregado de material do Ministério do Primeiro Ministro, Ezra Seidoff tratar destes assuntos. As investigações das despesas da residência oficial começaram em agosto de 2015 e durante quase quatro anos, a família Netanyahu fez de tudo para que as acusações não chegassem ao tribunal. Alegaram que as acusações não tinham procedência, que a procuradoria geral vaza informações dos inquéritos aos jornalistas e que, na verdade, elas existem por perseguição a ela, para derrubar o Primeiro Ministro.
Depois de cinco negociações entre a procuradoria e seus advogados, chegou-se a um acordo que minimiza as acusações. A Sara confessou que cometeu um crime de “exploração deliberada do erro de outros, sem engano”. A acusação original seria de “fraude e violar a confiança em graves circunstâncias, quebra de confiança e apresentar fatos inverídicos”. Também os valores foram diminuídos dos 359 mil shekalim, para apenas 175 mil e a pena criminal é que a Sara terá que desembolsar e devolver aos cofres públicos 45 mil shekalim e mais uma multa de 10 mil shekalim. A família Netanyahu é milionária, mas isto não impediu a Sara de pagar os 55 mil shekalim divididos em 10 vezes. A Procuradoria Civil reserva a si o direito de apresentar queixa civil, ao restante do dinheiro confessado pela esposa do Primeiro Ministro, de retirar ilegalmente, no valor de 120 mil shkalim.
Logo após o veredito, Netanyahu acusou a procuradoria de “ter perseguido sua esposa por quatro anos por ordenar bandejas simples de comida. Perseguição que custou milhões aos cofres públicos. Se não fosse a Sara minha esposa não a teriam perseguido tanto”. O poder judiciário irritado com a critica do premier, repeliu: “Sara Netanyahu não foi perseguida. Ela confessou ter cometido um crime, porque ela sabe que este não é um caso de ‘não houve nada, por que não há nada’” (frase do Benjamin Netanyahu contra as acusações que pairam sobre ele). O primeiro ministro na verdade nega os fatos. Certamente se esperaria outro comportamento de qualquer pessoa, principalmente do Primeiro Ministro.
No dia seguinte, (17) em cerimônia de Izkor, aos primeiros ministros e presidentes falecidos, o atual Presidente, Reuven Rivlin (que foi deputado pelo Likud) alfinetou o premier dizendo: “a obrigação de respeitar as decisões dos tribunais é medida em ações e em palavras. Também em palavras que escolhem dizer os cidadãos e os representantes eleitos e seus líderes.” Em seguida subiu Netanyahu e replicou: “concordo com suas palavras, senhor Presidente, da importância e centralismo do poder judiciário na nossa vida e na democracia. Não esqueço desta importância em nenhum momento”. Rivlin do seu lugar lhe respondeu: “você sabe o que diria meu mestre e mentor, Menachem Begin: é bom que se diga, o que é compreendido antecipadamente”.
A Sara Netanyahu, que se queixa de ter se tornado uma mulher pública, é a responsável por isto. Ela não larga do marido, em viagens curtas ou longas, lá está ela em primeiro plano. Seu temperamento de pavio curto tornou-se notório em entrevistas que deram ex-funcionários da casa ministerial e de políticos. Sabe-se que quem quer arrumar bom emprego tem que se dar bem tanto com a esposa, como com o filho Yair. Estes fatos tornaram-se notórios e não teriam nada demais, se ficassem entre as quatro paredes da residência oficial. Ocorre que desde que assumiu o governo pela segunda vez, Netanyahu não governa só. Sua família, pelo menos parte dela, a esposa Sara e o filho Yair, também mandam. O que o pai evita falar altamente, o filho Yair twita. Dizem que qualquer ministro ou alto funcionário do governo tem que passar pelo aval da Sara e Yair. O outro filho, Avner, não se mete e a filha primogênita, Noa, de casamento anterior, a Sara o proíbe de ver ou falar.
Muitos ex-funcionários da casa oficial contam histórias assombrosas do comportamento da senhora Netanyahu. Só esta semana, o jornalista politico Amnon Abramovits trouxe relatos de que eles são obrigados a trabalhar no sábado (dia do descanso) e de fazer horas extras, sem serem remunerados.
Novamente, suas relatadas atitudes não deviam acontecer. Se acontecem, deveriam ser resolvidos dentro da residência oficial. O problema do povo é, como escreve o comentarista politico do jornal Há’aretz, Yossi Verter, “a intervenção da Sara e do Yair Netanyahu em questões do Estado ultrapassam todas as barreiras”. O último que deixou foi Yoav Horovits, chefe do gabinete do primeiro ministro, que todos descrevem como pessoa muito positiva e responsável. Ele se cansou dos gritos e da destruição que causa ao marido (caricatura do Amos Biderman, Yoav Horovits deixa o gabinete por não se dar com Sara e Yair)
O Netanyahu se aproveita da sentença dada a sua esposa e sai em sua defesa, não só por ser seu esposo. Certamente ele mira os seus casos com a justiça e quer atacar antes de ser formalmente acusado.
Muito bom este artigo. Eu estava curiosa para saber do que Sara tinha sido acusada e sobre o acordo judicial. Agora, sabemos de tudo, com detalhes e com imparcialidade. Isto é jornalismo profissional.