BlogsMarcos L. Susskind

Que confusão é esta?

Purim, Irã, Haman, Mordechai, Fakhrizadeh, Mossad, Assuero e Khomeini

Por Marcos L Susskind

Se alguém vier matar você, previna-se matando-o. הבא להורגך השכם להורגו

No próximo dia 25, o mundo judaico estará comemorando a festa de Purim, definida por muitos como carnaval. Apesar de ser uma festa muito alegre, repleta de música, danças e fantasias, a festa difere frontalmente do carnaval por ter, ao mesmo tempo, um caráter religioso e nacional, além de definir louvação a D’us por um milagre onde D’us resolveu permanecer oculto. Antes de entrar no artigo em si, vale a pena lembrar que Purim é uma das três únicas festas Judaicas não mencionadas na Torá (Bíblia) – as três ocorreram muitíssimo depois da outorga da Torá. Purim ocorreu durante o exílio na Babilônia, após a destruição do Primeiro Templo, há cerca de 2500 anos. As outras duas são Chanuká, que ocorreu cerca de 400 anos mais tarde, no século II AEC (Antes da Época Comum) e Yom Haatzmaut, que ocorreu recentemente, em 1948.

Purim comemora a mudança radical do édito promulgado pelo rei Xerxes I, conhecido como Assuero ou Artaxerxes (Achashverosh em hebraico), que ordenava a morte de todos os judeus nos 127 estados que compunham o Reinado Persa. O Livro de Ester nos relata que Mordechai recusou a curvar-se frente ao Grão Vizir Haman, homem de confiança do Rei e este o convenceu a executar todos os judeus do reino. A intervenção de Ester, esposa de Assuero, leva o monarca a mudar o édito e seu Grão Vizir Haman com sua família acabam sendo enforcados.

A história de Ester se passa na Pérsia, o atual Irã. O homem forte do reino era o Grão Vizir Haman, principal assessor do Rei, que tem ódio de todo o povo judeu, baseado em duas situações que se repetem ao longo da história:

1. Uma imensa frustração por não ser admirado e bajulado pelo judeu Mordechai, o que o leva a estender seu ódio a todos os judeus do Reino, formado por 127 Estados!

2. O desejo de aniquilamento de todo um povo, onde quer que se encontrassem, porque, nas próprias palavras de Haman, “há um povo disperso e espalhado entre os habitantes de todas as terras do seu reino; E sua religião é diferente de todos os povos”.

Note-se que Haman, o Agaguita é o precursor de toda uma história de perseguições e aniquilamentos dos judeus por serem diferentes, por terem uma religião “diferente dos outros povos”. Vamos ver isto novamente inúmeras vezes – os Gregos que ameaçam os judeus por não se ajoelharem a seus deuses, os cruzados com suas sangrentas perseguições, a Igreja com suas fogueiras e torturas durante a inquisição, os nazistas com seus campos de extermínio etc.

Aqui vou levantar o interessante paralelo do ocorrido no Livro de Ester com nossos dias. A história de Ester, Mordechai, Haman e Assuero ocorre há cerca de 2500 anos na Pérsia. Um poderoso do reino não aceita o “povo diferente, com crenças diferentes” e decide aniquilá-lo. 2500 anos mais tarde, esta mesma Pérsia, agora sob o nome de Irã (nome mudado em 1936), faz exatamente a mesma ameaça: uma nação “diferente” habita a mesma área e não segue os mesmos preceitos: é uma democracia e não uma teocracia, oferece direitos iguais sem perseguir mulheres, LBGTs e minorias (diferente dos demais Estados da região). Na época o édito de aniquilação foi dado pelo Rei Assuero, hoje é dado pelo Ayatolá Todo Poderoso Khamenei, discípulo de Khomeini. Na época, foi o homem forte do governo, Haman, quem levaria o édito a ser cumprido. Na época atual, seriam o poderosíssimo físico nuclear, Fahrezade e o Militar Qassem Suleimani. No passado, a interferência de Mordechai salvou o povo judeu. No presente a interferência do Mossad salvou Israel. No passado decretou-se a morte do antissemita Haman, no presente foram executados Fahrezade e Suleimani.

As “coincidências” não param aí. O livro sagrado Meguilat Ester conta a história sem mencionar D’us sequer uma única vez. Tratou-se de um milagre onde D’us permaneceu oculto. Exatamente como em nossos dias.

As normas judaicas primam pelo respeito à vida de qualquer ser humano com uma única exceção: se alguém vier matá-lo, antecipe-se a ele e o mate. Cumprida esta norma nestas duas ocasiões, o povo judeu foi preservado.

Infelizmente um livro sagrado, desde 2000 anos, lança dúvida sobre a premissa de paz ao povo judeu. A Hagadá de Pessach diz claramente, logo em seu início: “em cada geração levantam-se contra nós a fim de nos destruir, mas o Santo, bendito seja Ele, nos salva de suas mãos”.

Queira D’us que o mundo e principalmente os maldosos dentro do mundo, deixem de perseguir os judeus. Mas ainda que isto não ocorra, este povo que existe há mais de 5.000 anos seguirá existindo!

Chag Sameach!

Foto: Giovanni Bonati. Esther before Ahasuerus (Google Art Project)

Um comentário sobre “Que confusão é esta?

  • José Maria TAVARES DE ANDRADE

    O vizir Hamann quadro da Capela Sisitina

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo