Quanto tentar custa – 20 anos de Camp David
Por Deborah Srour Politis
Todos nós já ouvimos a frase: Não custa tentar.
Mas às vezes custa. E muito.
Há 20 anos nesta semana, o Presidente Americano Bill Clinton recebia o primeiro ministro de Israel Ehud Barak e o presidente da Autoridade Palestina Yasser Arafat em Camp David para tentar resolver o conflito entre Israel e os Árabes.
Não é preciso prova mais contundente do total fracasso daquela iniciativa do que a completa falta de interesse da mídia e do mundo acadêmico em comemorar a data. E a razão é obvia: quem quer marcar o aniversário de um fracasso?
Mas eventos históricos não se resumem a sucessos. Fracassos também podem ser históricos quando marcam uma virada ou um marco divisório. E isso foi Camp David.
Este encontro deveria ter sido o ápice das esperanças dos Acordos de Oslo, assinados sete anos antes. O pensamento era que se Israelenses e Palestinos pudessem sentar à mesa e tentar longa e duramente, com um mediador imparcial e engajado como Bill Clinton, eles poderiam negociar o fim do conflito centenário, com raízes em religião, identidade e história.
Mas a lição que este encontro nos deixou foi um aviso de como não proceder no futuro. Aprendemos que o que o primeiro-ministro de Israel mais esquerdista de sua história pôde oferecer – e ele ofereceu mais que qualquer outro antes dele – ficou a quilômetros de distância do mínimo que Arafat exigia, especialmente sobre Jerusalém e os refugiados.
Barak ofereceu 94% da Judeia e Samaria, e outros 6% de território de Israel própria como compensação e concordou em dividir Jerusalém para não mencionar bilhões em investimentos internacionais em um novo estado palestino. Os palestinos só tinham que desistir do direito de retorno para Israel própria e assinar um acordo de “fim de conflito e de reivindicações” por perpetuidade. A resposta deles foi um sonoro “não”.
Arafat então decidiu que o que ele não pode conseguir negociando, ele ia conseguir derramando sangue. E assim, dois meses depois dos tapinhas nas costas de Camp David, começou a segunda intifada. Quatro anos de terrorismo diário com mais de mil mortos para Israel.
O que ouvimos incessantemente dos negociadores internacionais e da mídia é que todos sabem como resolver o conflito. Simples: tudo o que Israel tem que fazer é se retirar para as linhas de 1948 com pequenos ajustes, e fazer de Jerusalém oriental a capital do novo estado palestino. Se apenas Israel oferecesse isso, a paz reinaria.
Não foi exatamente isso o que Barak ofereceu em 2000?
E é aí que este pessoal se enrosca. Quando tentam racionalizar a intransigência palestina, e explicar porque todas essas concessões, que já foram oferecidas em 2001 e 2008, foram totalmente rejeitadas.
Se o objetivo dos palestinos é realmente constituir dois estados para dois povos, criar um estado palestino independente vivendo lado a lado com um estado judeu, por que esse conflito ainda não foi resolvido?
Não foi resolvido porque não se trata de uma disputa sobre território. É preciso entender que o termo “solução de dois estados” significa algo completamente diferente para os palestinos. Para eles, dois estados significam um estado árabe na Cisjordânia e um estado binacional em Israel. A exigência palestina é que todos os refugiados palestinos e seus descendentes perpetuamente tenham o direito de se mudar para Israel a qualquer momento que escolherem. Em outras palavras, a destruição demográfica de Israel como um estado judeu.
Os negociadores ocidentais e os políticos de ambos os partidos políticos americanos nunca entenderam completamente o que os palestinos estão realmente dizendo. Como todos bons diplomatas eles escreveram documentos gerais e ambíguos para que tanto os árabes como Israel pudesse declarar vitória!
O que aprendemos com o fracasso de Camp David é que temos que ser bem específicos colocando no papel exatamente o que é esperado dos palestinos e em troca do quê. Mas isso vai ficar para a próxima geração.
Por quê?
Porque os árabes não podem, no momento, assinar um acordo que encerre todas as reivindicações e ponha uma resolução final ao conflito. Que reconheça o direito de um Estado judeu de existir e viver sem ser molestado em terras que já foram muçulmanas. Israel sempre exigiu isso e foi rejeitada. Este é o eterno ponto cego dos negociadores e presidentes americanos que parecem querer apenas um papel assinado, achando que a ambiguidade criará confiança. Essa também foi a razão do fracasso dos Acordos de Oslo, pelos quais Israel trocou terras por promessas não cumpridas.
Eu vou agora esclarecer um outro ponto. Não há direito internacional para o retorno de refugiados, certamente não para descendentes de refugiados. De fato, todos os outros refugiados no mundo auxiliados pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados devem ser reabilitados no país onde receberam refúgio. E isto foi especialmente verdade para os refugiados judeus que fugiram dos países árabes depois da Declaração do Estado de Israel.
Os palestinos dizem “que continuarão a buscar uma paz justa que proporcionará às gerações futuras seu direito de primogenitura; suas terras serão devolvidas, de um jeito ou de outro.” Os ocidentais ingênuos só ouvem as palavras “paz justa” e assumem que isso significa dois estados para dois povos. Na verdade, o que isso significa é o direito ilimitado de todos os palestinos e seus descendentes de se instalarem em Israel em perpetuidade.
O debate da anexação obscureceu o verdadeiro paradigma do conflito. A questão a ser feita não é se Israel anexar 30% da Judeia e Samaria, se isso acabaria com o sonho de um estado palestino. A pergunta é: os palestinos estão prontos a aceitar a Judeia e Samaria com trocas de terras que garantam a segurança de Israel? Eles assinariam uma resolução de fim de conflito e aceitariam um estado judeu? A resposta hoje é não. Então como disse, este não é um conflito territorial, ou isso teria terminado há muito tempo.
Se os obstáculos para um acordo final são intransponíveis nesse momento, que assim seja. O que é necessário é não aceitarmos um suposto acordo de paz de apenas concessões infrutíferas por Israel.
Camp David e a Segunda Intifada fundamentalmente mudaram o cenário político de Israel. Nunca mais um partido de esquerda foi eleito para liderar o país e a esquerda vem perdendo cada vez mais apoio.
E tudo isso começou há 20 anos atrás quando tentar custou muito para Israel.
Foto: Domínio público
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