Quanto mais velho, melhor o vinho?
Por Renata Rosenthal
Dizem que “panela velha é que faz comida boa”. Será que isso vale para o vinho também? Primeiro, vamos entender o que significa o envelhecimento de um vinho.
O vinho passa por algumas etapas desde o momento em que a uva é colhida, até ele estar na prateleira das lojas ou na sua mesa de jantar. Durante a produção do vinho, é opção do enólogo responsável incluir ou não algumas etapas. Podemos falar sobre todas essas etapas mais adiante. O que é importante entendermos agora é que, após a fermentação, há algumas formas de o vinho envelhecer ou não.
O vinho envelhece bem quando ele é produzido de forma pensada para isso acontecer. Quando o enólogo quer que o vinho envelheça, ele precisa trabalhar na estrutura do vinho para que isso aconteça. Isso significa que não é qualquer vinho que envelhece bem. Ou seja, saber que o vinho é velho não é necessariamente um indicativo de qualidade, pois se o enólogo não planejou o envelhecimento daquele vinho e você esperou 10 anos para abrir a garrafa, provavelmente o vinho estará estragado.
Quando falamos de envelhecimento, há algumas formas possíveis de executar esse processo. Uma delas é na própria vinícola, logo após a fermentação. Há produtores que mantêm o vinho onde ele foi fermentado (seja na barrica de carvalho, seja no tanque de inox) e aguardam meses ou até anos para engarrafá-lo; assim como há também produtores que transferem o vinho para barricas de carvalho após a fermentação e aguardam da mesma maneira para engarrafar. Por isso, muitas vezes quando compramos vinhos em 2020, podemos encontrar safras de 2018 ou 2017 à venda. Isso não quer dizer que o vinho está na prateleira desde o ano de sua safra: esse vinho pode ter sido engarrafado somente em 2020, quando saiu para vendas.
Alguns produtores que programaram o envelhecimento de um determinado vinho colocam no contrarrótulo ou na ficha técnica do vinho (que costuma ter no site da vinícola) a informação de quantos anos pode levar para o vinho chegar ao seu ápice de qualidade, o que dá um norte ao consumidor de quando é o ideal para abrir a garrafa. Mas claro que isso não é regra, muitas vezes o produtor pode dizer que o vinho chega ao ápice em cinco anos e você abrir em três e ele estar incrível. É apenas uma sugestão de consumo. Se você não encontrar essa informação, sugiro que não demore tanto para consumir seus vinhos.
Outro fator a ser considerado também é a condição de armazenamento. Se aquele vinho foi produzido com estrutura suficiente para envelhecer e não for armazenado corretamente, não há vinho que aguente anos. Podemos falar sobre armazenamento de vinhos também adiante. Lembrando também que aqui estou falando somente de vinhos fechados. Quando abrimos o vinho, mesmo que o vinho tenha sido produzido para envelhecer 20 anos, você terá que consumi-lo imediatamente. Envelhecimento não é o mesmo que oxidação: quando o vinho é aberto, ele oxida, ou seja, estraga rapidamente. Envelhecer ainda fechado com qualidade é melhorar com a idade, criar outros sabores, outras texturas.
Aqui em Israel existe uma vinícola especializada em vinhos envelhecidos. A vinícola chama Villa Wilhelma e fica no centro do país, em Bnei Atarot. Já os vinhedos estão na região norte do país, na Galileia. Com muita savlanut, a vinícola produz vinhos envelhecidos com dez anos ou mais.
Eu provei esse vinho deles, da uva Chardonnay, que passa 16 meses em barrica de carvalho após a fermentação. Ele é da safra de 2015, ou seja, teve suas uvas colhidas neste ano, mas só em fevereiro de 2018 é que foi engarrafado. Como comprei o vinho em 2020, ele ainda envelheceu mais dois anos na garrafa.
A evolução pode ser constatada pela cor dourada linda dele. Ele tem notas de mel, frutas secas, calda de pêssego e damasco. Parece doce, mas não é. Ele lembra essas frutas a cada gole sem perder a acidez, sem deixar de ser um vinho seco. Isso sim é um belo vinho branco complexo e encorpado – lembrando que não pode estar gelado demais para que seja possível constatar cada nuance de sabor. Maravilhoso!
Maravilhoso mesmo, esse vinho! Esses mais envelhecidos que conseguem trazer essa complexidade de sabor sao realmente especiais. Excelente texto!