Qual a lógica de desejar um ano novo bom e doce?
Por Marcos L Susskind
Estamos às portas de 5781 – um novo ano que se inicia para os judeus, a data de nascimento de Adão e Eva de acordo com o judaísmo. Eu e milhões de judeus estamos recebendo e enviando votos de ano novo, palavras que emocionam, filmes que tocam o coração, desenhos e fotos que alegram a vista.
A Lei Judaica exige que este período seja dedicado à reflexão, ao arrependimento pelos mal feitos e à tomada de decisão de não repetir erros passados. No entanto um estudo do psicólogo Richard Wiseman publicado em 2007 revelou dados interessantes. Ele acompanhou 3.000 pessoas e constatou que 88% não atingiram as metas a que se propuseram apesar de que 52% estavam seguros que as atingiriam. Ainda que o estudo não tenha focado nas características importantes para os judeus, há com o que se preocupar.
As resoluções de ano novo em geral focam em objetivos mundanos: viajar, casar, ganhar dinheiro, mudar de casa. Nada disto faz parte das tradições judaicas de ano novo, que se centram em melhorar como ser humano, ser mais ético, mais solidário, mais engajado na vida comunitária e na espiritualidade. Mas acho que, infelizmente, os resultados não sejam tão diferentes entre nós.
Então, qual o motivo de enviar tantos desejos e augúrios? Na minha opinião há mais de um ponto central e enumero alguns:
1 – O envio de mensagens refaz conexões perdidas e reforça as conexões existentes. É muito gostoso saudar e ser saudado, lembrar e ser lembrado.
2 – Falar ou redigir os votos nos levar a refletir, ainda que por um curto momento, sobre qual o real significado de um ano feliz, quais os componentes que nos darão alegria, felicidade, plenitude e tranquilidade.
3 – O sentido de irmandade e comunidade que impera nesta época ameniza dores e nos aponta para o sentido do coletivo e a importância de não nos isolarmos.
4 – No judaísmo esta data é usada para um profundo exame de consciência. São dez dias de reflexão e tomada de decisões importantes. A verdade é que muitos judeus dedicam pouco tempo a cumprir este mandamento religioso, o que é uma pena. Posso assegurar a quem quiser ouvir que a prática deste preceito, mesmo que não imbuído de religiosidade, contém profunda espiritualidade e traz imensa satisfação e sobriedade.
O judaísmo diz que no Dia do Perdão, dez dias após o ano novo, D’us perdoará os pecados de quem tiver feito um arrependimento verdadeiro e se comprometido não fazer o mesmo erro no futuro. Há também o pecado cometido frente a outro ser humano – mentir, roubar, enganar, envergonhar, manipular etc. O judaísmo prega que D’us só pode perdoar este tipo de pecado se o ofendido perdoar antes. E exatamente por esta lógica que eu peço a cada um de vocês, meus leitores, meus amigos e meus familiares, que me perdoem por algo que eu tenha feito – ainda que sem intenção – e que tenha gerado em você algum dissabor, mágoa, raiva ou qualquer outro sentimento negativo. Saiba que seu perdão é importante para mim, para meu bem estar. E, pela mesma lógica, eu perdoo a quem quer que tenha me causado qualquer uma das sensações descritas.
Espero que o toque do Shofar (o chifre de carneiro, que deve ser ouvido presencialmente por todos os judeus) desperte em cada um o desejo de arrependimento e a determinação de novas atitudes, mais positivas, em nossas vidas. E que todos nós sejamos abençoados com saúde, com sustento digno, com paz em nossas casas e nossas nações.
Em meu nome e de meus familiares, Feliz 5781 e feliz sempre!
Marcos L Susskind, no “apagar das luzes” de 5780
Foto: Pikist