Presidente da Agência Judaica prega unidade
Doron Almog, irmão e pai enlutado, ex-general das FDI e atual presidente da Agência Judaica, está tentando reunir o povo judeu em um momento em que acredita que o novo governo pode separá-lo alterando a Lei do Retorno, a legislação que determina quem é elegível para a cidadania israelense.
Atualmente, isso inclui qualquer pessoa com pelo menos um avô judeu. Mas os partidos religiosos no novo governo estão tentando revogar a “cláusula do neto” e limitar a imigração apenas a pessoas que são judias de acordo com as interpretações ortodoxas da lei religiosa, ou halachá, e a seus filhos.
Almog vê essas propostas como divisivas, com o Estado de Israel fechando suas portas para pessoas que se sentem ligadas ao judaísmo, mesmo que não sejam judias de acordo com a halachá.
“O povo judeu está polarizado, hoje. Isso traz uma ameaça de que parte do povo não seja incluída”, disse Almog ao The Times of Israel.
Para Almog, parece óbvio que os descendentes de judeus fazem parte do povo judeu mais amplo, mesmo que não correspondam aos critérios religiosos. Os judeus passaram por tanta coisa em sua história – pogroms, discriminação, perseguição. Se alguns deles se casaram com não-judeus ao longo do caminho, isso não deveria significar que seriam expulsos do grupo, argumenta ele, especialmente se sentirem uma conexão e estiverem dispostos s viver no estado judeu.
“Isso afetaria a forma como as pessoas se sentem conectadas. Seria Israel virando de costas para eles. É como se o estado dissesse a eles – revogando a ‘cláusula do neto’ ou alterando a Lei do Retorno – que você não faz parte de nós. Porque você é reformista, você não faz parte de nós. Isso tem um significado tremendo”, disse Almog.
Na semana passada, Almog e outros seis líderes de organizações sionistas internacionais enviaram uma carta ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu alertando-o de que alterar a Lei do Retorno semearia divisão entre Israel e os judeus da diáspora.
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“A Agência Judaica é o órgão executivo do povo judeu. A Agência Judaica é a voz do judaísmo mundial. Nossa visão de mundo é ampla e acredita que há espaço para todos”, disse Almog. “É por isso que escrevemos ao primeiro-ministro pedindo-lhe que não mudasse o status quo, que uma mudança pode causar uma cisão entre Israel e a diáspora”.
“Faremos tudo o que pudermos para evitar que a ‘cláusula do neto’ seja revogada. Mas qualquer decisão que for tomada deve ser feita em colaboração com os judeus da diáspora. Devemos fazer parte disso. Esta não deve ser uma decisão unilateral. Ela aborda a conexão entre o Estado de Israel e o judaísmo mundial, então o último deve fazer parte da discussão”.
Almog disse que a Agência “vê o governo como um parceiro. Queremos representar todas as denominações do judaísmo para o governo de Israel. Se um comitê for formado, queremos estar lá para expressar a voz da diáspora”.
Mesmo quando a nova coalizão mostrou intenções claras de emendar a Lei do Retorno, Almog temia ser combativo, falando em termos positivos sobre a importância da imigração judaica para Israel.
Foi somente depois que o governo foi empossado e seus acordos de coalizão incluíram compromissos para alterar a lei que Almog, junto com outros funcionários da Agência Judaica, Federação Judaica da América do Norte, Organização Sionista Mundial e Keren Hayesod, emitiu críticas explícitas da proposta.
No entanto, mesmo assim, a carta se concentrou apenas na Lei do Retorno, apesar de o novo governo também ter mirado no Muro das Lamentações, uma área de particular interesse para a Agência Judaica. A organização, quando presidida por Natan Sharansky, em 2016, liderou o compromisso do Muro das Lamentações, de conceder reconhecimento oficial a denominações não ortodoxas na gestão do local sagrado. Neste verão, o Conselho de Governadores da Agência Judaica também aprovou uma resolução exigindo ação depois que extremistas ortodoxos invadiram as cerimônias de bar e bat mitzva que estavam ocorrendo na seção igualitária do Muro das Lamentações.
“Houve uma decisão de deixá-lo de fora”, disse Almog.
Outra área potencial de discórdia para Almog e a Agência Judaica é a questão das conversões ao judaísmo. Por mais de 20 anos, a Agência Judaica executou o programa Nativ (não confundir com o escritório do governo de mesmo nome que aprova a elegibilidade de imigração na antiga União Soviética) para facilitar a conversão principalmente para soldados das FDI e outros jovens israelenses. No passado, essas conversões rápidas foram duramente criticadas por rabinos ultraortodoxos e ainda não são aceitas por alguns deles.
“Acho que grande parte do desafio que enfrentamos hoje é chegar a um acordo, criar um mecanismo de conversão de aceitação, que aceite a todos, que expresse até mesmo como eu cresci, secularmente”, disse Almog. “O secularismo é uma forma de judaísmo, uma forma de judaísmo que tem valores de autossacrifício e serviço nacional e coloca nossas vidas em risco pela segurança do Estado de Israel”.
Os atuais programas de conversão do estado de Israel falharam rotineiramente em atrair interesse, com apenas alguns milhares de pessoas se convertendo por meio deles a cada ano. Isso é considerado um grande problema, pois há quase meio milhão de cidadãos israelenses que não são judeus de acordo com a halacha.
“Precisamos de um mecanismo de conversão mais receptivo que aceite a todos para que possamos ser um povo maior e mais forte”, disse ele.
Almog observou que há uma preocupação constante em Israel com a demografia, sugerindo que por isso também vale a pena encorajar a conversão ao judaísmo.
“O número de judeus entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo é uma coisa importante, certo? Queremos ter meio milhão a mais ou meio milhão a menos?”
A Agência Judaica opera em comunidades judaicas ao redor do mundo. Em suas décadas iniciais, concentrou-se principalmente em encorajar e facilitar a aliá (imigração judaica). Sob o comando do ex-presidente Ze’ev Bielski, de 2005 a 2009, a organização voltou sua atenção para a educação e o fortalecimento das comunidades da diáspora.
Almog disse que a aliá ainda é o ideal em teoria, mas disse reconhecer que em alguns casos é improvável e não necessariamente a melhor coisa para o Estado de Israel.
“Quero que o maior número possível de pessoas faça aliá. Mas também não acho que preciso ser missionário em lugares bons para os judeus como a América. Mesmo nesse ponto, você poderia argumentar que há um crescente antissemitismo, mas não preciso ser um missionário. Acho que aliá precisa vir do sentimento de ‘hineni’”, disse ele, usando um conceito da Bíblia que significa literalmente “aqui estou”, que geralmente é usado por pessoas que sentem que têm um chamado, que estão prontas e dispostas agir.
“Para os EUA, preciso incentivá-los a vir nos visitar. Mas em lugares onde os padrões de vida são mais difíceis, como na Europa Oriental, na América do Sul, precisamos falar mais explicitamente sobre aliá”, disse Almog.
“Vou dizer outra coisa. A aliança estratégica com os Estados Unidos é muito importante. Se não houver uma comunidade judaica forte lá, não sei se os EUA vão querer ser um aliado estratégico como é hoje”, disse ele.
Fonte: The Times of Israel
Foto: Maxim Dinstein (Agência Judaica)