Por que Biden está surrando Israel?
Por Deborah Srour Politis
Toda a senilidade do presidente dos EUA, Joe Biden, não explica por que ele esperou Netanyahu resolver congelar os trabalhos da controversa comissão de reforma judiciária para emitir a repreensão mais dura de todos os tempos ao governo de Israel, alertando que “o país não pode continuar neste caminho” – pois ele considera a reforma judicial “antidemocrática”. “Espero que Netanyahu se afaste disso”, disse Biden, declarando que não tem planos de convidá-lo para a Casa Branca “no curto prazo”.
Só para deixar claro, se todas as reformas forem aprovadas, Israel terá o mesmo sistema que a Austrália, a Nova Zelândia e a Inglaterra. Nenhuma democracia está sendo destruída e a continuação dos protestos, mesmo com o compromisso da coalizão, mostra que o objetivo não é a reforma judiciária, que tem sido defendida no passado por muitos da oposição, mas um golpe de estado da esquerda para depor o governo eleito em novembro.
Infelizmente, vamos ainda ouvir os porta-vozes da Casa Branca e do Departamento de Estado aumentando a pressão sobre Netanyahu, pontificando ainda mais sobre a necessidade de “proteger a democracia” e “evitar o autoritarismo”.
Esses porta-vozes irão repetir que “acreditam que o respeito pelos direitos humanos, é extremamente importante para uma governança responsável”, o que implica que Israel não compartilha dessa crença porque recentemente baniu seis ONGs palestinas apoiadas por terroristas e porque a reforma judicial prejudicaria os autoarrogados poderes da Suprema Corte de Israel.
Isso será dito junto com a condenação dos assentamentos, que, segundo eles, “são completamente inconsistentes com os esforços para diminuir as tensões e garantir a calma, e que prejudica as perspectivas de uma solução de dois Estados …” ou algo do gênero.
E ao primeiro sinal de ação do exército ou da polícia israelense contra manifestantes palestinos em Jerusalém ou na Judeia e Samaria – violência que, é bastante previsível neste mês de Ramadã, – o governo Biden atacará Israel outra vez.
Sua administração então pedirá a “todas as partes” para interromper a violência, mas deixará claro que Washington vê as operações de segurança de Israel como inflamatórias e “desproporcionais”.
E aí levantarão novamente a possibilidade de reabrirem o consulado americano no centro de Jerusalém, para servir somente os palestinos. Isso seria, de fato, uma embaixada para a Autoridade Palestina no meio da capital de Israel (Este consulado foi fechado pela administração Trump quando reconheceu a plena soberania de Israel em Jerusalém e transferiu a Embaixada dos EUA de Tel Aviv para a capital).
Mas por que o governo Biden está perseguindo Israel? Por que resmungar sobre um assunto completamente interno de Israel, como a reforma judicial, ou sobre Jerusalém, palestinos e assentamentos quando até mesmo os funcionários menos pró-Israel do governo americano sabem que a Autoridade Palestina não merece absolutamente nenhum prêmio de Washington e que não há um processo de paz em andamento?
Que vantagem ganha Washington na luta muito mais importante no Oriente Médio – a grande competição estratégica que os EUA enfrentam contra o expansionismo chinês e o engrandecimento russo – ao derrotar seu parceiro de segurança, Israel?
Será que é porque Biden realmente teme pela pureza da democracia em Israel? Longe disso! A atual escalada nas tensões entre os EUA e Israel prova a capitulação americana ao Irã.
Todo o time de conselheiros de Biden sobre o Oriente Médio veio direto da administração Obama. E eles têm Israel na garganta. Eles odeiam Netanyahu por ele ter passado por cima da Casa Branca quando se fez convidar pelo Congresso. E detestam Ron Dermer, que na época era o embaixador de Israel em Washington por ter articulado a visita.
Este time tem a filosofia de que deve haver um equilíbrio de poder no mundo. E se os Estados Unidos aprenderam a viver com a União Soviética nuclear, Israel terá que aprender a viver com o Irã nuclear.
Só que a União Soviética e a Rússia de hoje, a Índia, o Paquistão, e as outras nações nucleares, têm o sentimento de autopreservação. Não o Irã. Os próprios mulás enviaram seus filhos menores com chaves de plástico para o céu penduradas em seus pescoços para o front de batalha com o Iraque para se explodirem e limparem o terreno de minas. Que tipo de gente é esta?
Não há dúvida de que o Irã irá lançar a bomba contra Israel ou qualquer outro aliado americano, mesmo sofrendo as consequências porque para estes lunáticos, eles estarão trazendo o 12º Mahdi (seu messias) e o fim dos tempos.
Assim, com sua crítica, Biden está sinalizando para Netanyahu: cale a boca sobre a bomba nuclear do Irã e não ouse atacar o Irã, ou então os EUA tornarão sua vida miserável em muitas outras frentes.
Em outras palavras, Biden está surrando Israel sobre a escolha de juízes, a reforma judicial, Jerusalém e o uso de força nos territórios, principalmente para forçar Netanyahu à submissão em relação ao Irã.
Não nos enganemos! Biden não vai agir contra o Irã, apesar dos ataques iranianos às tropas americanas no Iraque e outros alvos no Golfo e apesar de sua exportação de drones militares para a Rússia para uso na Ucrânia. Apesar do enriquecimento de urânio a níveis próprios para uma arma nuclear, apesar do acúmulo de urânio para produzir armas nucleares e apesar da promessa de Biden de que nunca permitirá que o Irã adquira uma arma nuclear.
E como sabemos que Biden já capitulou? Uma declaração do chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark A. Milley, deixou isso claro quando disse em uma audiência no Congresso na semana passada que os EUA “permanecem comprometidos, como uma questão de política, de que o Irã não tenha uma arma nuclear em campo”. Observe o novo termo “em campo”. Isso sugere que o governo Biden agora está preparado para tolerar armas nucleares nas mãos do Irã, desde que a arma não seja “colocada em campo”, em outras palavras, lançada contra outro país.
Esta é uma mudança dramática na política do governo – de uma estratégia de proibição de armas nucleares para uma posição muito mais branda de impedir o lançamento de armas nucleares, mas não sua produção. Quase ninguém notou esse espantoso rebaixamento na política americana em uma das maiores questões de segurança global!
Ficou claro que Biden não usará a força para impedir que o Irã quebre seus compromissos de não proliferação e produza uma ou mais armas nucleares. Ele só quer o problema do Irã nuclear fora de sua agenda e fora do caminho – em outras palavras, ele quer chutar o abacaxi para a frente.
O governo Biden certamente não permitirá que israelenses ou outros críticos atrapalhem. Não quer que Israel ataque o Irã. O melhor caminho para garantir a conformidade israelense com a política americana em relação ao Irã, na prática, é ameaçar o distanciamento dos EUA de Israel em questões de “princípio democrático” ou em questões relacionadas aos palestinos.
O que é particularmente triste aqui é que existem maneiras de deter a marcha inexorável do Irã em direção a uma bomba nuclear e em direção à hegemonia regional sem necessariamente chegar à guerra. E isso inclui uma ameaça militar crível dos Estados Unidos contra o regime dos aiatolás.
Infelizmente, o presidente Biden prefere fazer concessões ao Irã e repreender Israel; poupar os aiatolás e repreender Netanyahu.
Foto: GetArchive
Muito bom artigo