Paz para a prosperidade
O “Plano do Século” do Presidente Trump para o Oriente Médio, que tanto se falava e trazia a esperança de mudança nesta turbulenta região, finalmente saiu do papel. Saiu em tom menor, no formato de conferência econômica em Bahrein, com representantes de 39 países, menos os dois principais interessados, a Autoridade Palestina e os israelenses.
Quando anunciada esta conferência intitulada Paz para a Prosperidade, a reação palestina não tardou a chegar. A frase do chanceler israelense na década dos anos 60 e 70 do século passado, “os palestinos jamais perderam oportunidade de perder oportunidade”, está provada mais uma vez. A Autoridade Palestina, boicota os EUA e nem quer saber dos pormenores de qualquer iniciativa americana, declarou que não está a venda. Hamas declarou: “o governo Trump continua a sonhar que os palestinos abrirão mão dos seus direitos, aspirações e lugares sagrados por dinheiro e projetos”. (caricatura do Roni Gordon, publicada em Israel Hayom, 26.6.19)
Os palestinos tentaram de tudo para abortar esta conferência e não o conseguiram. É verdade que o nível de representantes de muitos países, que deveriam ser Ministros da Fazenda e não o são. O Ministro da Fazenda israelense foi convidado e depois desconvidado. Mas participaram dos dois dias de convenção participaram representantes de 39 países, entre eles os Ministros da Fazenda da Arabia Saudita, Qatar, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, EUA e representantes do Egito, Jordânia, Marrocos, de países europeus e até da Russia e da China.
O Ministro do Exterior de Bahrein, Khaled al Khalifa anunciou: “a conferência tem por objetivo apoiar a economia palestina e não tem nenhum outro objetivo”. Isto não contentou os palestinos que declararam “Três Dias de Fúria”.
O conselheiro e genro do Trump, Jared Kushner abriu o seminário e tratou de falar diretamente aos palestinos, passando por cima de sua liderança. Disse: “o mundo quer resolver o problema palestino, mas em cada encontro escuto que já tentaram isso. O mundo avança e os palestinos ficam para trás… o Presidente Trump e os EUA não abrem a mão de vocês. Se vocês seguirem o caminho positivo, pegarão vosso futuro nas mãos, em vez de acusar os outros… muito dinheiro foi investido na área nos últimos 25 anos, gastos em corrupções e armamento.”
Jared deve estar frustrado depois de trabalhar na solução do problema palestino por dois anos, com inúmeras viagens em várias capitais e encontros com dezenas de líderes da região e por fim conseguir organizar um seminário econômico, sem a presença de palestinos. De Israel vieram alguns homens de negócios, mas mais jornalistas.
O plano americano é de captação de recursos no valor de 68 bilhões de dólares. Isto envolveria os EUA, a Arábia Saudita, EAU e outros num período de 10 anos. Deste valor mais de 28 bilhões de dólares seriam investidos na Autoridade Palestina e em Gaza, em 147 projetos. Entre eles, ligar a Faixa de Gaza com a Cisjordânia através de um túnel, no valor de cinco bilhões de dólares e outros no campo da energia, inclusive desenvolver campo de gás no Mediterrâneo, em frente a Gaza, construção de aeroporto e porto na Faixa de Gaza, desenvolver o turismo nas áreas palestinas e a indústria da alta tecnologia, em Ramallah. Também receberiam ajuda econômica países vizinhos como a Jordânia, o Egito e até o Líbano que não participou na Conferência. A Jordânia que tem pavor dos palestinos – mais da metade de sua população – receberia para aliviar seu sufoco econômico, cerca de 8 bilhões de dólares para o projeto de trem bala ligando Amã a Zarka, que ajudaria sua indústria. Melhoramentos nos aeroportos do reinado, para o projeto conjunto com Israel do “Canal dos Mares”. É cavar um canal aberto que leve água do Mar Vermelho ao Mar Morto, que pela diferença de alturas poderia gerar energia e a criação de um projeto de dessalinização de água, para o consumo jordaniano, israelense e palestino. O Egito investiria bilhões de dólares principalmente na Península de Sinai e na sua segurança e o Líbano receberia para projetos turísticos e de segurança.
Os palestinos que estão falidos economicamente, tem lideranças que parecem pouco se importar com a população. Mahmoud Abbas de 83 anos, multimilionário não quer ser registrado na história palestina como “traidor”. Já há 6 meses recusa receber de Israel o dinheiro recolhido dos impostos, que constituem mais de 50% das verbas da Autoridade Palestina, pelo desconto que Israel faz se passarem valores a terroristas condenados. O relatório do Banco Mundial mostra a queda da assistência mundial à AP que, em 2010, foi de 5,5 bilhões de shekalim e em 2018 caiu para apenas 2 bilhões. As verbas a UNRWA também caíram muito, depois que os EUA pararam de a apoiar. A Faixa de Gaza depende muito do dinheiro que vem do Qatar.
As duas regiões palestinas (Cisjordânia e Faixa de Gaza) dependem muito de Israel. A cada dia passam legalmente a Israel mais de 100 mil trabalhadores palestinos. Cento e trinta mil palestinos ganham o seu pão dos mercados israelenses. Israel é na realidade o tubo de oxigênio da AP.
O negociador chefe dos palestinos e alta autoridade palestina, Dr. Saeb Erikat criticou a iniciativa americana e disse “isto não é conferência, é piada”. Por outro lado o Ministro do Exterior egípcio disse: “há muita importância na participação egípcia na conferência em Bahrein”. O problema palestino ainda persiste no mundo árabe, mas não com a importância que já foi. Atualmente, depois da Primavera Árabe cada país tem suas preocupações e a com os palestinos está num plano secundário.
Se os palestinos participassem e aceitassem fazer parte do plano, talvez até pudessem dizer que em Bahrein, Trump fundou o Estado Palestino, porque além de melhorar sensivelmente sua economia viria a coisa real. Esta seria o “plano da Esperança do Século” que “substitui o Plano do Século”. Aí tanto Israel como os palestinos teriam que abrir mão de muitos tabus. Dificil, sim. Impossível, nunca se vai saber até não sentar seriamente com as lideranças certas e resolver por vez o problema. Um diplomata saudita disse ao jornal econômico israelense Globes (21/06): “o conflito sangrento dura tempo demais. Nós sauditas, os países do Golfo, o Egito e a Jordânia sabemos claramente que a era das guerras com Israel é passado e agora as vantagens para relações normais são grandes para todo o mundo árabe… a tecnologia israelense é avançada e o mundo árabe, mesmo os que vos odeiam, olham Israel com admiração pelo seu sucesso e querem copiá-los”.
A Conferência de dois dias no Bahrein, “Paz para a Prosperidade”, terminou em acordes baixos. Talvez a importância foi de que além da apresentação econômica do plano a Esperança do Século, os participantes árabes de países que não mantêm relações diplomáticas com Israel puderam sentar informalmente com os israelenses e conhecer algo do nosso mundo e até tratar de negócios. Não é a toa que um dos israelenses presentes foi o vice diretor geral do Hospital Shiba, dos maiores do país. Todos querem a estabilidade e o sossego na região. O verão árabe demonstrou a todos o que ocorre em países instáveis. Se a tão desejada paz chegasse a região todos viveriam melhor.
Bahrein é uma pequena ilha entre o Qatar e a Arabia Saudita (à qual é ligada por extensa ponte), com menos de 1,5 milhão de habitantes. A maioria é xiita, governada pela família real, sunita, desde 1971, quando obteve sua independência.Tem riqueza baseada em campos petrolíferos e de gás e é um centro econômico, bancário e comercial da região do Golfo. Mantêm boas relações com todos os países, mas se vê ameaçada pelo Irã. Segundo várias publicações, tem boas relações (informais) com Israel. Já em 1994, depois dos acordos de Oslo, uma delegação israelense fez visita ao país. Em 2005, o Bahrein cancelou sua participação no boicote árabe a Israel. Segundo documentos vazados pela Wikileaks de conversa entre o Embaixador americano e o rei, foi entendido que o Mossad tem representação no Bahrein. Em 2013, foi o primeiro país árabe a considerar Hizballah, organização terrorista. Três anos depois, enviou delegação ao enterro de Shimon Peres. Em 2017 o rei condenou o boicote a Israel e declarou que israelenses podem visitar o seu país. Em maio de 2018 declarou que não vê problema com a mudança da Embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, na parte ocidental. Pelo visto os dois países mantêm boas relações na área cibernética e da inteligência.