Os refugiados judeus de países árabes
Por David S. Moran
Desde a Guerra da Independência de Israel, em 1948, iniciada por sete países árabes e a consequente saída de parte dos árabes que viviam na Palestina do Mandato Britânico, só se falava dos refugiados palestinos. Aliás, os ingleses que dominavam a área, chamavam de “palestinian” tanto aos árabes como aos judeus que habitavam a região.
Mas, ao mesmo tempo e nos anos seguintes, judeus que moravam há séculos em países árabes foram perseguidos e tiveram que deixar seus lares e pertences, saindo as pressas para refugiar-se em outros lugares, principalmente no Estado Judaico, recém-recriado, o Estado de Israel.
Enquanto o mundo todo se preocupava com os refugiados palestinos, principalmente depois da Guerra dos Seis Dias (1967), os refugiados judeus foram ignorados. Este fato deve-se à absorção dos judeus em Israel. No inicio da fundação do Estado de Israel, mesmo sendo um país pobre, teve que absorver judeus do mundo todo, principalmente refugiados da Europa (sobreviventes do Holocausto) e de países árabes. A população judia em cerca de três anos triplicou. Os ataques incessantes contra o jovem estado e a preocupação de absorver os imigrantes da melhor maneira possível, não deu lugar ao pensamento de pedir indenização pelo sofrimento dos judeus e das suas propriedades nos países árabes, hostis, que foram obrigados a deixar.
Mesmo sendo minoria, os judeus nos países árabes tiveram importante papel na sociedade onde viviam, na cultura, economia, comércio e desenvolvimento. Depois da Independência do Estado de Israel, os governos árabes, passaram a se vingar deste fato, perseguindo e obrigando a população judaica a fugir do país, deixando tudo para trás, sua história local e suas propriedades. Chegando a Israel, não encontraram as mesmas condições, foram colocados em maabarot (tipo de favela, em barracas). Oitocentos e cinquenta mil judeus de países árabes fugiram dos seus países e cerca de 600 mil chegaram a Israel.
Segundo dados da ONU, em 1947-8, 726 mil árabes atenderam a chamada dos países árabes de deixar Israel que, depois, seria destruído, para que voltassem e tivessem mais propriedades.
Enquanto os palestinos fizeram propaganda e indústria da “miséria dos refugiados”, os refugiados judeus trabalharam duro para construir um Estado de progresso e de sucesso e, automaticamente, eles mesmos prosperaram. Os países ocidentais e organizações internacionais enviaram bilhões de dólares aos cofres palestinos. Ninguém perguntou aonde foi parar este dinheiro e como os palestinos não conseguem prosperar.
Só em 2002 levantou-se a ideia de editar uma estimativa de propriedade alternativa à qual estava sendo feita pelos palestinos.
Em 2010, foi legislado no Knesset, que os judeus de países árabes e do Irã serão indenizados pelas suas propriedades deixadas, num futuro acordo com os palestinos. Em 2008 o Congresso Americano adotou unanimemente a resolução 185. Esta reconhece o direito dos refugiados judeus de países árabes e do Irã. Condiciona qualquer ajuda ou indenização aos refugiados palestinos a idêntica indenização aos refugiados judeus de países árabes e do Irã.
O Estado de Israel, em 2017, elaborou um projeto de colher dados e testemunhos das propriedades deixadas para trás. Os dados recentemente publicados apuram que o valor é gigantesco, de 150 bilhões de dólares, nos valores daquela época. Sinagogas centenárias foram destruídas e ou convertidas em mesquitas, residências, indústrias e tudo que pertencia aos judeus foram confiscados pela autoridades. O ex-Embaixador de Israel no Egito, Itshak Levanon contou que uma vez o Embaixador russo no Egito convidou-o a sua residência em Cairo. Era uma grande casa de luxo com grande jardim que não era adequada para um Estado proletário. O soviético lhe deu a explicação. O governo de Nasser nacionalizou a propriedade da Família judia Moseri, que foi expulsa do país. Depois a deu à URSS.
Manchete do Israel Hayom, 16/12/2019
Na Resolução da ONU 242, que é básica para processo de paz, está explicitamente escrito que há necessidade de solucionar o problema dos refugiados no Oriente Médio, todos os refugiados, não somente os palestinos. Uma parte, os refugiados judeus de países árabes se esforçaram para progredir e uma outra parte, dos palestinos, continua chorar e fazer atentados terroristas no mundo e em Israel.
Setenta e dois anos depois há movimentação em alguns países árabes desejando o retorno dos seus ex-cidadãos e de turistas judeus em geral. O rei Muhammad VI, de Marrocos, tem Andre Azulay como conselheiro, que serviu seu pai também. Judeus e israelenses visitam o país (inclusive eu) e são muito bem recebidos. Na semana passada, o rei participou da inauguração da Sinagoga Bet Dakira, na cidade de Essaouira. Foi elogiado por “promover a paz e a coexistência”.
No Egito, o governo de A-Sisi investiu 6 milhões de dólares para renovar a majestosa Sinagoga de Eliyahu Hanavi, em Alexandria, na tentativa de atrair turistas judeus ao país. Até no Líbano, o governo mandou renovar a Sinagoga Magen Avraham, perto do Parlamento.
Judeus nos países árabes em 1948 e em 1976
Marrocos: 265 mil (1948) – 17 mil (1976)
Argélia: 140 mil – 0,5 mil
Tunísia: 105 mil – 0,2 mil
Iraque: 135 mil – 0,4 mil
Egito: 100 mil – 0,2 mil
Líbano: 55 mil – 1 mil
Líbia: 38 mil – 0,02 mil
Síria: 30mil – 4 mil
Yemen: 8 mil – 0
(Dados: The Forced Migration of Jews from Arab Countries, Peace Review Journal of Social Justice. Pg 53-60, issue 1/2003
Judeus e árabes conviveram milhares de anos e não tem o porque de não continuar vivendo um ao lado do outro, em paz e prosperidade mútua. O mundo tem que saber um pouco melhor a história da região e que não há apenas refugiados palestinos. Na mesma época ocorreu forçosamente a expulsão dos judeus de países árabes, que não querem se considerar refugiados, querem prosperar. Assim devem fazer os palestinos.
Foto: Nebi Daniel Association public photo collection [Public domain]