Os protestos em Israel continuam
Por David S. Moran
Pela sétima semana consecutiva, os protestos que assolam o país inteiro, continuam. O início foi em Tel Aviv e depois foi se alastrando para outras cidades. A maior manifestação foi na última segunda feira (13), quando entre 150 mil a 300 mil pessoas, tiraram um dia de férias e subiram à Jerusalém para protestar frente ao Knesset, o Parlamento israelense. Foram em ônibus, trens e carros particulares. As ruas nas redondezas da esplanada do governo estavam lotadas. Com a bandeira nacional em punho e muitos cartazes exigindo manter a democracia. Os manifestantes também entoaram slogans, não contra o governo, mas sim a favor da democracia e de manter segurança de todos os cidadãos, mesmo aqueles que não votaram nos partidos da atual coalizão.
Muitas organizações, firmas, inclusive da alta tecnologia, que é a locomotiva da economia israelense atual, professores, sete detentores de Prêmio Nobel e outras pessoas que já fizeram algo por Israel, além de pessoas simples saíram e pediram ao governo que freie a corrida para a mudança do Judiciário. O Legislativo quer dominar o Judiciário, que muitos acreditam ser uma revolução política e não como o governo a chama de reforma do judiciário.
O Secretário de Estado americano, Anthony Blinken, passou em fins de janeiro, três dias em Israel e deu um pulo na Autoridade Palestina, encontrar-se com Mahmoud Abbas em Ramallah. Pediu ao Benjamin Netanyahu passar as reformas programadas no judiciário em concordância com os partidos da oposição também.
O renomado colunista do New York Times, Thomas Friedman em entrevista ao Canal 11 de Israel disse: “Israel é certamente um milagre e num curto espaço de tempo, já está entre as 20 maiores economias do mundo. Tudo estava certo, inclusive o sistema Judiciário durante 75 anos. O que houve de repente? Netanyahu está enfrentando a justiça, então precisa mudar imediatamente o sistema Judiciário?”
Outro, o renomado jurista e Prof. dm Direito na Universidade de Harvard, Alan Dershowitz, amigo do Estado de Israel e amigo pessoal de Netanyahu, em entrevista ao Canal 12, disse: “Tem que haver igualdade entre todos. Israel tem que ter grandes debates e que o público julgue após ouvir os dois lados. Estive com Netanyahu, recentemente na última viagem a Israel, ele falou nos termos de justiça “balanceada e com lógica”. Dershowitz conclui: “quem escolherá os juízes do Supremo, tem que continuar apartidário”.
O que se conseguiu com estas manifestações, a duras penas, é que certas leis, como a referente ao ex (e futuro) Ministro do Interior e da Saúde, Arie Deri e a lei da Superação (isto é, que a Knesset pode decidir e a Suprema Corte não pode intervir), foram adiadas em uma semana. Esta decisão irritou profundamente ao Deri, que está proibido pela Suprema Corte de servir como ministro de Estado, bem como ao deputado Gafni, do Yahadut Hatorá, que quer adiar ainda mais a decisão do recrutamento de quem estuda em Yeshivá. Hoje eles são isentos, enquanto os outros jovens tem recrutamento obrigatório aos 18 anos. O deputado Moshe Gafni avisou a coalizão que não votará na próxima semana devido a este atraso.
O primeiro ministro Netanyahu tem bastante dores de cabeça com esta coalizão, devido a brigas internas. Neste curto prazo de tempo em que se formou, Netanyahu teve que abdicar em favor dos partidos da coalizão funções que eram do Likud. Mesmo nas pastas que o Likud manteve, como o Ministério da Defesa, parcelou a Smotrich, que além de ministro da Fazenda é ministro no Ministério da Defesa, com cargo sobre a segurança nos territórios ocupados, que por enquanto o Ministro Galant (Likud) não lhe cede. Na quarta (15) o exército arrancou 1.100 oliveiras recém plantadas por um colono judeu, em terra que não era dele. Smotrich e Ben Gvir gritaram.
Por falar no Ben Gvir, que continua ser “moleque “e inflama o ambiente com declarações e ações, sem trabalho de pensamento de equipe e que não podem ser efetuados. Ele é populista. Na quinta-feira (16) o ex-Ministro da Defesa, Benny Gantz pediu ao premier Netanyahu para demitir Ben Gvir, que ataca sem base os chefes da Polícia, do Shabak e do Exército. O diretor do Shabak advertiu Ben Gvir que suas ações podem levar a conflito militar.
Na oposição, o Gantz, anda aborrecido por não ser o líder da oposição, título do Yair Lapid, e às vezes parece que estaria disposto a entrar no governo do Netanyahu. Ele está disposto a sentar com a coalizão se suspenderem o andamento das leis “anti-democráticas” por uma ou duas semanas, enquanto o deputado Lapid exige congelamento de 60 dias.
Netanyahu, que parece determinado e faz as coisas por proxies, é sábio e acompanha as manifestações populares, as falas de personalidades israelenses e estrangeiras e por cima tem as reações internacionais. Na fala à Nação do presidente Biden, não falou de Israel, que é muito raro e interpretado como um tipo de protesto contra as ações do governo israelense. Os governos dos EUA e europeus condenaram a declaração de legalizar nove assentamentos construídos sem permissão e às pressas. Este passo é interpretado como um obstáculo para a criação da Palestina ao lado de Israel. Esta ação será discutida na segunda-feira (20) no Conselho de Segurança da ONU e, se não tiver veto, Israel será criticada e condenada.
O presidente Herzog foi a pessoa responsável. No último domingo (12) Herzog convocou uma coletiva, que foi esperada por todos. No noticiário do horário nobre, Herzog disse à nação, principalmente aos políticos: “ouço e vejo os protestos em todo o país de patriotas que concretizam seu direito de protesto democrático. Sinto que estamos a um passo de colisão, até mesmo violenta. Apresento cinco princípios para imediata negociação concreta. 1) Elaborar uma Constituição. 2) Reforma para que Israel tenha mais juízes. Atualmente há enorme sobrecarga no sistema judiciário. Temos 1/3 dos juízes dos países do OECD. 3) O ministro da Justiça e a presidente da Suprema Corte elaborarão plano para simplificar e agilizar o sistema jurídico. 4) Mudança na Comissão de escolha de juízes para que reflita igualdade entre os poderes. 5) Razoabilidade. Só em comum e amplo acordo entre as partes”.
Vale a pena ressaltar que sua fala veio após consultar muitas pessoas também da direita, do Likud e identificados com Netanyahu. Entre eles o ex-diretor do Mossad, Yossi Cohen, íntimo do Netanyahu, que foi cogitado para lhe substituir e Uzi Dayan, general da reserva e ex-deputado do Likud. Todos lhe exortaram a dialogar. O problema é que há tanta rivalidade pessoal e não necessariamente política entre coalizão e oposição e falta de confiança um no outro que está difícil terminar esta rixa de um momento a outro em acordo.
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