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Os inquéritos de 7/10 começam aparecer

Por David S. Moran

Esta semana, as Forças de Defesa de Israel e o Shabak (antigo Shin Bet) publicaram seus inquéritos do que aconteceu antes e depois do sábado negro e trágico de 7 de outubro, 2023.

Os trabalhos de investigação foram conduzidos por mais de um ano por oficiais da reserva. As Forças Armadas de Israel (FDI – Tsahal) falharam na interpretação de que a organização terrorista Hamas não tinha a intenção de combater Israel e, se mudasse de ideia, o Serviço de Inteligência detectaria a tempo esta intenção e o exército interviria a tempo.

Já em 2014, o Tsahal começou reduzir seu arsenal e também o número de soldados. Sentindo-se forte, depois de Operação Guardião das Muralhas (2021), o Tsahal distanciou-se do que o Hamas realmente pretendia. Por outro lado, o Hamas sentiu que lutou forte contra Israel e iniciou a coordenação com o Hezbollah, para lutarem juntos contra Israel. O Tsahal também pensou estar protegido atrás da muralha que construiu ao longo da fronteira com Gaza. A grande falha no dia 7/10 foi que o Serviço de Inteligência nada detectou da preparação dos terroristas do Hamas para atacar Israel.

O Comando Sul do Exército foi apanhado de surpresa, não tinha visão geral do que estava acontecendo e a Divisão de Gaza durante horas não atuou como devia. O Comandante do Serviço de Inteligência estava de férias em Eilat.

A concepção foi de que Gaza é secundária. Antes, Israel tinha que lidar com o Hezbollah e o Irã. O Hamas seria contido e o plano do Hamas “Jericó Primeiro” (que descreve o plano exato de como o Hamas atacaria Israel), foi considerado irreal pelos analistas, também por confiar que o obstáculo da fronteira entre Gaza e Israel seria intransponível.

As 21:00h de 6/10, o Shabak detectou o uso incomum de SIMs de comandantes e combatentes do Hamas. Esta notícia foi passada ao Exército. Até 23:30h houve diálogos entre vários oficiais do Serviço de Inteligência, de que nada de anormal acontecia em Gaza. As soldadas cuja atividade é vigiar por meio de instrumentos e visores o que ocorre do outro lado da fronteira tinham alertado que algo acontecia, mas não lhes deram muita atenção.

Israel e, principalmente os kibutzim e populações vizinhas a fronteira, foram pegos de surpresa quando entre 3 e 5 mil terroristas, e com eles civis, penetraram facilmente o território israelense e em pouco tempo assassinaram 1.320 pessoas, entre eles 457 das forças armadas, e sequestraram 251 soldados e civis de 9 meses a 85 anos. Os terroristas vieram de surpresa e com a cobertura de 3.803 foguetes e morteiros

Fracasso gigante e impensável. O chefe do Estado Maior, Major General Herzi Halevi imediatamente assumiu a responsabilidade dizendo: “a responsabilidade é minha. Eu sou o comandante do Exército e tenho também toda a responsabilidade”. Disse que se demitiria no momento que pudesse e o fez na passagem da fase 1 para fase 2 do retorno dos sequestrados a Israel.

Depois da surpresa, veio a reação das Forças Armadas de Israel (FDI) que reagiram com eficiência e sucesso em dois fronts, já que o Hezbollah do Líbano também entrou na luta, resultando na morte dos líderes do Hamas e do Hezbollah.

O relatório do Shabak (ex Shin Bet) foi publicado na terça-feira (04/03). O chefe do Serviço, Ronen Bar, já no dia seguinte assumiu a culpa pela falha de sua entidade e disse que iria se demitir no momento oportuno. De acordo com o inquérito, na noite da véspera do ataque do Hamas, a 1:00h, o Shabak captou sinais de preparação do Hamas, mas a concepção foi de que Hamas não queria lutar contra Israel. As 3:00h, tiveram sinais de que os chips nos telefones de algumas unidades começaram a funcionar. Eram chips para telefones de comunicação em Israel.

Em 2018, e também em 2022, isto tinha ocorrido e não houve invasão. Falharam em não interpretar que na terceira vez era pra valer. Mas ficaram de alerta e às 4:30h, já houve reunião noturna entre o chefe Bar e os diretores de departamentos de todas as áreas. A unidade de elite, Tequila, foi ordenada a estar na fronteira atenta à invasão. O Shabak alega que as principais razões para o fortalecimento da organização terrorista Hamas e de sua ousadia em invadir Israel, deveu-se a permissão do governo ao envio de milhões de dólares do Catar a esta organização radical e à contínua contenção na dissuasão de Israel, a tentativa de lutar com Hamas baseado no Serviço de Inteligência e na defesa, evitando iniciativas ofensivas.

As provocações no Monte do Templo em Jerusalém, o tratamento com terroristas presos que é muito liberal e a divisão social da população israelense incentivaram Hamas atacar Israel. O chefe do Shabak, Ronen Bar disse: “levarei o peso da nossa falha, sobre meus ombros pelo resto da minha vida. Se o Shabak tivesse agido diferentemente nos anos anteriores ao ataque, o massacre seria evitado. Nós fracassamos”.

O único que não assume nenhuma culpa é o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Ele forçou Herzi Halevi a se demitir e agora está lutando contra Bar. Netanyahu foi quem introduziu a concepção de que o Hamas ficaria quieto se ele incentivasse o Catar a enviar centenas de milhões de dólares à população, que teria o que comer. Fechou os olhos ante a advertência de que parte do dinheiro ia ao fortalecimento da área militar do Hamas.

Pelo menos três ajudantes diretos do primeiro-ministro estão sob investigação do Shabak por ter contatos e trabalhar para melhorar a imagem de Catar, desde antes do Mundial, e passar uma boa imagem deste país islâmico radical que não tem relações diplomáticas com Israel. Esta é uma razão para Netanyahu querer substituir Bar por outro diretor, fato que não será fácil pelo conflito de interesses.

O primeiro-ministro, por meio do seu fiel Ministro da Justiça, Yariv Levin, quer se livrar da Consultora Jurídica do Governo, que é reta como uma régua e exige tomar medidas efetivas contra os haredim (ultraortodoxos) que se esquivam do alistamento militar. Os partidos haredim ameaçam retirar-se do governo e votar contra o orçamento da nação, que tem que ser votado até o final de março, caso contrário, o governo automaticamente cai.

Aliás, o Catar publicou um relatório contra o Shabak, que o acusou de financiador e de ter fortalecido o Hamas, fatos que o levaram atacar Israel. A publicação de Doha alega: “nunca passamos ajuda à ala política ou militar do Hamas” (???). Isto apesar de que todos os relatórios apontam o contrário e de que a direção do Hamas vive no Catar, banhada em dinheiro.

Foto: FDI (X)

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