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Os avós chegaram!

Por Simone Rothstein

Simone e Tal conversam sobre a realidade dos avós que fazem aliá.

Simone – Tudo bom, Tal? Como foi o fim de semana?

Tal – Foi bom. Aliás, vivi uma situação super banal, mas que me fez pensar e fiquei com vontade de conversar com você. Na sexta cruzei com um casal aqui no prédio, que já tinha visto há umas semanas. Quando a gente se encontrou pela primeira vez, eles estavam especialmente alegres, iam jantar, depois do longo período de isolamento, com filho, nora e netos. Me marcou a forma como eles me contaram: “Enfim vamos nos encontrar! Mudamos de país por causa deles! Viemos pra cá pra sermos avós!

Simone – E o que é que te deixou pensativa?

Tal – É incrível, como pessoas que viveram a vida inteira em um determinado lugar, fizeram uma história, largam tudo, cruzam o oceano, pra serem avós?! Por um lado, acho linda a ideia das gerações se reunindo. Por outro acho chocante a ideia de alguém se reduzir a ser avó ou avô.

Simone – Eu não sei se dá pra falar que alguém se reduz a ser avós, mas vamos lá: essa imagem do encontro de gerações é bonita e lembra que ser avô ou avó significa que a roda da vida girou, a pessoa mudou pro “andar de cima”, é a geração mais velha da cadeia e tem que lidar com várias perdas. Às vezes, a mudança de país pode ser a menor das mudanças e, qualquer que seja ela (física, emocional ou mesmo de continente) é vivida de maneira singular e muitas vezes, ambivalente.

Tal – Em que sentido, ambivalente?

Simone – Por exemplo, o sujeito pode fazer mil planos pro dia em que se aposentar, mas quando esse momento chega, se sente triste e perdido. Tem um lado que se alegra com a promessa de novidades e recompensas, mas um outro que se assusta com o futuro que se encurta. O futuro virou hoje e isso significa que o fim da vida já não está tão longe.

Mas vamos voltar à fala dos pais dos vizinhos. O que é: “Vir por causa deles”?

Bem, eu não tenho ideia do que esse casal queria dizer. De que “deles”, eles estariam falando? Os avós estariam vindo por necessidade deles (filho e netos)? Ou porque os avós gostariam que filho e netos precisassem deles (avós), para que se sentissem úteis?

Pode acontecer que diante das perdas que fazem parte do envelhecimento, algumas pessoas desenvolvam sentimentos depressivos e, sem conseguirem elaborar a passagem do “eu-jovem” para o “eu-não-mais-jovem”, sintam-se “fora do jogo” e quem está em campo, os titulares da vez, são os filhos. Neste caso, aos avós restaria apenas se alimentar da alegria dos filhos, criando assim, uma espécie de relação de dependência.

Agora, se pensamos na outra afirmação: “Viemos para sermos avós”, eles podem estar falando de um movimento de reconstrução de si, empolgados com a possibilidade de oferecer ajuda, de transmitir suas histórias pessoais, sua cultura familiar. Provavelmente elaboraram ou estão elaborando o luto pelas perdas inerentes ao envelhecimento e, podem se sentir vitalizados, como quem começa um novo capítulo da vida.

Tal – Uau, realmente, são posições muito diferentes!

Simone – Esse termo é muito bom: posição. Quer dizer, não se trata do fato em si, mas como a pessoa se coloca na cena, qual é sua posição subjetiva diante daquela realidade, naquele momento. O mesmo fato ou atitude pode estar revestido de sentimentos depressivos ou de vitalidade.

Tal – Bom, espero que meus vizinhos possam viver dessa forma, que seja um novo capítulo da família.

Simone – Provavelmente eles, como a maior parte das pessoas, viverão momentos ou posições diferentes neste processo de adaptação, aliás, na vida, em constante mudança. Mas sim, que seja o começo de uma etapa de muitas descobertas e de renovação.

Tal – Lembrei agora daquela expressão em hebraico, “Titchadesh”: que você se renove com o presente que ganhou.

Simone – Titchadshú: que se renovem com a vida que se deram de presente.

Foto: Linus Schütz (Pixabay)

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