Os árabes-israelenses se matam
Por David S. Moran
O mês de Setembro foi muito violento para a população árabe-israelense. Com os tiroteios que esta comunidade está acostumada a enfrentar, 11 pessoas foram mortas em lutas internas de organizações criminosas árabes ou em lutas entre “hamula” (famílias) em que, muitas vezes, as vítimas são transeuntes inocentes. Como por exemplo, foi o caso da jovem Bian Bushkar, gravida de 22 anos, mãe de outra filha de 7 meses, de Busmat Tab’un, perto de Haifa. Ela com o marido e filha e mais 200 convidados foram à festa de “hina”, precedendo a festa de casamento na sua aldeia, que seria realizada no dia seguinte. No meio da festa, ocorreu uma violenta discussão e nisso revólveres foram sacados. A histeria foi total, mães começaram buscar os filhos para se esconder e assim fez a Bian. Só que um tiro perdido atingiu-a em cheio. Ela e mais uma pessoa morreram e outros foram feridos. Desde o inicio do ano, os dados mostram que nada menos de 70 árabes-israelenses foram mortos, comparado a 74 mortos no ano de 2018.
Vamos aos fatos. A população árabe-israelense tem muitas armas, ilegais. Em casamentos e festas, mostrar-se másculo é ir atirando e, às vezes, parece que você está numa guerra, pois munição também não falta. Claro que a maioria dos tiros é para o alto, mas mesmo assim, alguns podem atingir pessoas.
A comunidade árabe é bem conhecida pela preservação de sua honra e de sua família. Se alguém achar que outra pessoa magoou-o, ele não esquecerá e a revanche chegará. Na hora oportuna, mesmo que passem anos, pode encontrar o desafeto e lhe atirar ou esfaquear, sem nenhum remorso. Na mesma aldeia podem viver dezenas de anos famílias brigadas entre si, ou mesmo ramificações da mesma família, hostis por problemas de herança. O mesmo pode acontecer com as mulheres da família. Se os pais ou irmãos acharem que a filha ou irmã não está vestida a rigor ou que sua atitude é modernista ou se namora alguém que a família não gosta, eles partem para o que chamam de matar limpando a “honra da família”.
Além desses fatos há o maior perigo na briga entre “famílias do crime”. Elas se tornaram donas de certas áreas geográficas e áreas no crime e ai de quem ousar confrontá-los. Esses criminosos tornaram-se muito potentes economicamente e estão bem armados e nas suas lutas ocorre a maioria dos casos de mortes.
A população árabe-israelense é de cerca de 20% da população total do Estado de Israel mas em assassinatos entre si representam mais de 60% dos casos. Nas prisões, os árabes totalizam 46% dos encarcerados criminosos, mais do dobro de sua parte na população. Sua porcentagem no índice da pobreza também é grande.
Na última 5ª feira (3), a comunidade árabe israelense declarou greve geral, para protestar contra estas matanças. Até os seus representantes no Knesset, da Lista Árabe Conjunta não foram a cerimonia festiva do juramento do novo Parlamento, recentemente eleito. O motivo principal é a exigência de mais ação da policia.
Devido ao crescimento do uso de armas de fogo e estas mortes, muitos ativistas da comunidade árabe se manifestam. “A promiscuidade no setor árabe nos preocupa. Isto é uma epidemia que tem que ser extraída pela raiz” diz Amar Dirawi. O líder do Centro Aman de Combate à Violência na Sociedade Árabe, Xeique Kamel Rian, acusou a falta de ação policial: “é a Polícia que tem que recolher as armas e desvendar os crimes”. O líder da bancada árabe no Knesset, deputado Ayman Ouda confirmou, “temos grave problema de criminalidade e de armas ilegais. Primeiramente, pretendemos tratar disso”.
Bonitas palavras, mas meio hipócritas. Na foto ao lado, o Comissário da Policia e o Ministro de Segurança Interna colocam as patentes equivalentes a de General ao Comandante Jamal Hakrosh, árabe-israelense, na sua nomeação, em 2016, ao Diretório da Melhoria do Serviço ao Cidadão Árabe. Sua missão é também recrutar jovens árabes para a Polícia e criar novos postos nos povoados árabes. O problema maior é a cultura familiar de “hamula” (da mesma tribo e ou família), mentalidade que atrapalha no avanço da cultura geral progressiva. Como diz um árabe: “um assassinato na sociedade não árabe deixa órfãos, enquanto na sociedade árabe, atrai mais e mais assassinatos”.
A dificuldade da policia é que quando entra num vilarejo árabe encontra hostilidade e até a bloqueiam. Mesmo que haja testemunhas de crimes, estas temem falar com a polícia para não serem acusadas de “traidores ou dedos-duros”. Mesmo assim, a metade dos casos de assassinatos foram desvendados e os culpados julgados. Prefeitos acusam a Polícia de não recolher armamentos e não impor a ordem. Se eles colaborassem mais teriam menos violência, infrações e mortes. A educação para a mudança de comportamento tem que começar nas escolas. É verdade que a Polícia tem que agir mais. Desde o inicio do ano, até fim de julho, a mesma apreendeu 3.661 armas de fogo, das quais 80% nas mãos de árabes-israelenses.
É bem sabido que nas cidades e vilarejos árabes há jovens que dirigem sem licença de habilitação, muitos carros roubados e há casas construídas sem licença. O número de infrações dos árabes é bem maior a do resto da população. Todos os casos são tristes, mas às vezes a casualidade é muito grande. No inicio do ano novo judaico, todos desfrutaram de quatro dias de feriado. O jovem Fadi dirigiu seu carro em alta velocidade, numa estrada do norte do país. Desgovernado bateu violentamente no acostamento e seu carro também bateu num outro veiculo. Morreu na hora. Enquanto isto, um dos seus primos, Abed al Karim divertiu-se numa praia proibida, que não tem salva-vidas. Entrou no mar e afogou-se, meia hora depois do primo morto na estrada. Dois casos típicos de não obediência à lei e de mortes desnecessárias, sem armas.
Infelizmente, os deputados árabes também não ajudam muito. Às vezes até parece que foram escolhidos para representar os palestinos e não os árabes-israelenses. Eles são eleitos pela norma, quase imposta, de votar nos partidos árabes. Antigamente, deputados árabes militavam até em partidos sionistas. Não é por acaso que mesmo votando neles, só 37% dos eleitores árabes acham que os deputados árabes os representam.
O Ministro da Segurança Interna, Gilad Ardan, ciente dos assassinatos na comunidade árabe-israelense, atacou (dia 23/9) a liderança árabe, que se opõe a colaborar com as autoridades, e pediu mudança profunda na atitude da mesma. “Temos que lidar com estes assassinatos como com o terror”.
O interessante é que estas violências não ocorrem nas cidades onde há grande população judia e parte árabe, como em Tel Aviv-Yafo, Acre, Haifa ou mesmo em Jerusalém. Sem dúvida, a grande maioria da população árabe-israelense é normativa e pacata. Segundo dados publicados pelo jornalista Ben Dror Yemini, do Yediot, (dia 25/8) 46% se identifica como árabe-israelense, enquanto apenas 14% se auto denominam palestinos e outros 14% como palestinos-israelenses. 87% gostariam que partidos árabes participassem na coalizão governamental. Os árabes-israelenses têm que ser integrados à comunidade geral e participar da vida israelense com suas obrigações e benefícios. Os árabes trabalham em todos os ramos da vida israelense, na construção, garagens, enfermeiras e médicos. Exemplo é o povoado árabe Dir Hana, na Galileia, que tem o maior número de médicos per capita do mundo. Lá vivem 10.000 habitantes conjuntamente, 80% de muçulmanos e 20% de cristãos. Antigamente era o inverso.
Relato de Ali Adi: Abraço minha identidade de árabe-Israelense (Israel Hayom, 29/8/2019). Trago alguns trechos do que escreveu este jovem árabe. “Mesmo o maior inimigo de Israel, honestamente lhe dirá que prefere o conflito com os judeus a qualquer outro com árabes, que gerará intermináveis banhos de sangue… cidadãos árabes- israelenses dirão que preferem governo israelense a qualquer outro governo árabe… Sinto vergonha. O mundo árabe, desde seus governos são corruptos e seguem o tribalismo, até o ‘zé povinho’ que vive na ignorância e violência… Por isso eu abraço fortemente a minha identidade israelense: sou árabe-israelense, porque é importante para mim desassociar-me da larga cultura árabe. É importante e conveniente para mim não me importar com o que ocorre na Síria ou Líbano e na queda do Egito, porque sendo israelense posso sentir de vez em quando orgulho.