Os agregados
Por Nelson Menda
Desfruto do privilégio de contar com uma porção de netos, todos homens. Nada contra as meninas, mas ocorreu uma desproporção por ocasião do nascimento dessa geração de herdeiros. O mais velho dos netos acaba de completar vinte anos, ao passo que o caçula do grupo, um menino esperto de olhos vivos, está com nove anos.
É sobre esse neto mais novo que pretendo discorrer, aproveitando para abordar as ligações afetivas com filhos, filhas e aquele grupo de pessoas que meu pai denominava, com justa razão, agregados. São pessoas que vamos agregando ao nosso convívio, ao mesmo tempo em que descartamos várias outras, pelas mais distintas razões.
Esse netinho é o mais carinhoso e afetivo de todos, fazendo questão de me abraçar sempre que nos encontramos, o que acontece com relativa frequência. Afinal, moramos em localidades próximas, na Flórida. Costumamos realizar encontros de família de tempos em tempos, em que ele e o irmão mais velho competem para garantir a posse de um importante acessório doméstico, o controle remoto da TV. Quem se apossar primeiro desse estratégico equipamento irá garantir, para si, o privilégio de sintonizar seus canais e programas favoritos. Geralmente, não compartilho das mesmas preferências dos meninos, que curtem programas e películas com um certo grau de violência e non-sense, mas para que servem os avós, a não ser satisfazer as vontades dos netos?
Além da TV, eles tem acesso garantido ao compartimento mais cobiçado da geladeira, onde estão armazenadas as guloseimas de sua preferência. Apesar de autorizados a degustá-las, costumam fazê-lo de forma sorrateira, como se estivessem cometendo alguma infração.
Tenho me surpreendido com a atração desse neto mais novo pelo seu equipamento eletrônico, do qual não desgruda. É um tablet que funciona como uma espécie de biblioteca portátil, que reproduz, página por página, os textos de sua preferência. Há coisa de poucos dias pedi-lhe que me emprestasse esse gadget, por curiosidade, pois queria conhecer o conteúdo das páginas que o mantém interessado. Tomei um susto, no bom sentido, pois elas reproduziam trechos dos livros que ele está lendo. Textos de alta qualidade, especialmente para um menino com menos de dez anos. Caí em mim, ao constatar ser avô de uma criança extremamente inteligente, apesar de estar com apenas nove anos. Indaguei da minha filha, sua mãe, se o garoto frequentava alguma escola especial, além das classes habituais. Ela informou que o menino faz parte de um grupo de crianças que assiste, além das aulas regulares, classes especiais para crianças super dotadas, que os americanos denominam gifted.
Isso me tranquilizou, pois sofri na própria carne, durante a infância e adolescência, incompreensão no contato com outros colegas da mesma faixa etária. Não tinha com quem conversar e trocar idéias a respeito de projetos que gostaria de desenvolver. Alguns dos quais, posteriormente, consegui colocar em prática. Quando expunha meus futuros planos muitos faziam troça, pois eu mencionava recursos ainda inexistentes. Aprendi que seria melhor mantê-los em segredo antes de concretizá-los.
Por sorte, minhas filhas também são criativas e batalhadoras e, graças a elas, conseguimos realizar o chamado american dream.
Ao redigir o presente texto acabei me dando conta de que muitos de nós vamos agregando, no decorrer da vida, novas amizades. São filhos, filhas, netos e netas afetivos que, ao lado dos biológicos, vamos incorporando ao convívio, seja ele pessoal ou à distância. A que grupo que meu pai, em sua sabedoria, denominava agregados. Os tempos são outros, mas a relação entre as pessoas permanecem imutáveis.
Que texto lindo, Nelson! Minha neta, Heloísa (ou Helô, como ela prefere) já está com 22 anos! E é o amor da minha vida. Abraço da Cecilia.
Amei o texto!
Está tremendo e super verdadeiro!
Fiquei escandalizada como o tempo voou, porque da última vez que encontramos a Noah estava com uns 7 ou 8 anos!!!
Assim é a vida!
Grande Nelson!
Abraços.
No assunto NETOS estou te vencendo de goleada: tenho 4. Como nada é perfeito, só tenho contato frequente com os dois que moram aqui no Rio. Tenho duas netas que moram mais afastadas, uma em Campinas e outra em Houston, no Texas. Como sou muito jovem, meu neto mais velho acaba de completar 9 anos e seu irmão tem 3. É exatamente esse de 3 que é meu xodó. Chama-se Bernardo e tem um vocabulário quase de adulto, usando palavras pouco comuns entre crianças. É super arteiro. Está sempre aprontando alguma coisa diferente. Num dia desses fez um desenho com caneta na parede de sua casa e quando sua mãe perguntou pela autoria, foi logo dizendo: “foi o vovô!” Minhas netas tem a mesma idade, 9 anos e são muito bonitinhas porque tiveram a sorte de serem parecidas com o avô.
Pelo jeito, o texto agradou, tanto a Cecilia quanto a Vani e o Feliciano. Amigos queridos de longa data, que me fazem recordar de Porto Alegre, meu torrão natal, e também da Cidade Maravilhosa, onde residi e fui bastante feliz. Os quatro atualmente radicados em localidades geograficamente distantes, mas ligados pelo passado comum. Graças ao milagre da Internet, conseguimos nos manter em contato. Isso me estimula a continuar escrevendo, pois a satisfação de constatar que meus textos são lidos é um fator de positivo. Muitíssimo obrigado por ler e comentar.