O tratamento “proporcional” em conflitos
Por Deborah Srour Politis
Hoje começamos novamente agradecendo a soltura de mais reféns, de mais crianças, algumas mães e cidadãos israelenses de dupla nacionalidade russa e francesa.
Mas, como sabemos, o coração tem quatro ventrículos. Um está cheio de agradecimento. O outro ainda está cheio de tristeza pelos mortos em 7 de outubro e os jovens soldados que até agora perderam suas vidas. Uma outra parte do coração continua com esperança de que os outros reféns, velhinhos, jovens, soldados, soldadas e é claro, crianças e bebês como Ariel de quatro anos, Kfir Bibas de dez meses e os pais dos dois sejam solto.
No meu último ventrículo está o ultraje, o protesto, o escândalo pela reação do mundo, seus líderes e suas organizações fúteis.
A primeira, a ONU Mulher, só agora, dois meses depois e após muitos protestos, publicou uma nota condenando o ataque do Hamas e a prática de estupro e abuso sexual de mulheres e meninas. Pouco demais e tarde demais.
A segunda, a UNRWA, é uma verdadeira vergonha e deveria ser não só desmantelada, mas seus empregados e diretores colocados na cadeia. Só nesta semana, o exército descobriu um deposito com centenas de mísseis, metralhadoras, munições, vestes e outros materiais de guerra nos armazéns da UNRWA. Um dos reféns soltos disse que tinha ficado preso no sótão da casa de um professor da UNRWA que só dava comida a ele quando ele chorava inconsolável de fome.
A outra é a Cruz Vermelha. Só de pensar nas dezenas de amigos, inclusive eu, que doava regularmente para a Cruz Vermelha, me dói. Esta organização, além de ser um Uber que em vez de taxis, passeia de ambulância, não serve para nada. Dezenas de reféns levados para Gaza são idosos que precisam dos remédios que tomam. A Cruz Vermelha se recusou, sim, escutaram bem, se recusou a entregar (não era dar), a entregar os remédios ao Hamas para que chegassem nas mãos dos reféns. E a “desculpa”? É que eles só podem fazer algo quando “convidados”. Eles não podem tomar a iniciativa.
Teve uma carta que circulou na internet nestes dias mostrando a hipocrisia, as duas caras da Cruz Vermelha, datada de 1944, quando diz que “depois de ter visitado Auschwitz, ela não encontrou evidências de instalações para o extermínio de pessoas”. Organização inútil. Se alguém ainda contribui, recomendo que usem seu dinheiro de forma mais construtiva.
A ONU em geral, só condena Israel pela falta de proporcionalidade, um fetiche que como o jornalista Douglas Murray disse, só se aplica a Israel. Numa guerra nunca há proporcionalidade. Será que a América colocou o teto de 2.977 pessoas para matar no Afeganistão, o número de mortos em 11 de setembro? Acho que não. De fato, 243 mil pessoas foram mortas. Onde ficou a proporcionalidade?
Ou será que os aliados levaram uma calculadora para contar quantos civis alemães ou japoneses poderiam matar no máximo, para se manterem “proporcionais” à ameaça deles? É só ver quantos civis morreram em Hiroshima e Nagazaki para ter certeza, que a tal da “proporcionalidade” nunca foi levantada em nenhum conflito conhecido na história, exceto em relação a Israel.
Isso sem falar da invasão da Ucrânia pela Rússia que continua a bombardear alvos civis e todo o mundo acho que tudo bem. É parte da guerra. Vilarejos inteiros exterminados, mulheres ucranianas estupradas, crianças ucranianas sequestradas e enviadas para a Sibéria para “reeducação” e nesta semana a Rússia aprovou uma lei criminalizando a prática homossexual. Toda a comunidade LGBTQA e o resto do alfabeto, agora é fora da lei. E este regime de terror ainda tem o poder de veto no Conselho de Segurança.
Ok. Que tal então Israel começar a usar a proporcionalidade, tratando os palestinos em seu poder, do mesmo modo que os palestinos tratam os israelenses?
E digo palestinos porque como vimos esta semana, pelas declarações de Jibril Rajoub, da Autoridade Palestina em Ramallah, eles só estão esperando a hora propícia para fazer a mesma coisa que o Hamas fez, na Judeia e Samaria. E já tivemos vários exemplos. Vamos começar com o linchamento do vendedor de brinquedos Yossi Avrahami e o motorista de caminhão Vadim Nurzhitz, em 2000, porque eles erraram o caminho e acabaram entrando em Ramallah. Depois tivemos centenas de ataques na Judeia e Samaria e aqui em Jerusalém, o último nesta semana quando dois irmãos árabes metralharam o ponto de ônibus da saída de Jerusalém na hora do rush da manhã.
O apoio da Autoridade Palestina ao Hamas é palpável. Imediatamente após o massacre de 7 de outubro, Mahmoud Abbas separou milhões de dólares para pagar para as famílias dos terroristas, vivos ou mortos. Esta política de pagar para matar chegou a um ponto que um dos terroristas a ser solto por Israel na troca por reféns israelenses, se recusou a deixar a cadeia dizendo que ia perder o salário.
Então vamos lá. Proporcionalidade.
Para isso Israel teria que passar uma lei que qualquer judeu que matasse um palestino iria receber ele e sua família, um salário polpudo ad eterno. Ainda, Israel não forneceria água, eletricidade e energia para Gaza se o mesmo não fosse devolvido em espécie para Israel. O mesmo com as centenas de caminhões de alimentos, medicamentos e outra “ajuda”. Aliás, num destes caminhões de “medicamentos” foram encontrados 5 drones com capacidade de levar explosivos. Ainda bem que há inspeções de Israel mas fico imaginando quantos carregamentos destes não foram pegos.
Depois, tratamento médico em Israel, nem pensar. Sabem que foi Israel quem salvou a vida deste famigerado Yahya Sinwar? Ele estava com câncer na cadeia e um médico israelense lhe salvou a vida. Que agradecimento hein? E também a irmã de Ismayil Hanyeh. Acreditam que ela se tratou em Israel? E ainda, Mahmoud Abbas e sua esposa foram internados em tempos diferentes em hospitais em Tel Aviv para tratamento.
Sabem qual foi a equivalência que o Hamas deu para a refém Mia Schem? Mandaram um veterinário operar a mão dela. Ela, que estava estudando para ser artista gráfica não sabe se voltará a usar a mão direita dela. Que tal daqui para a frente Israel enviar veterinários para tratar dos doentes em suas cadeias?
Isso provavelmente faria com que Israel fosse suspensa do YouTube. Sabem por que? Porque de acordo com as diretivas do aplicativo, chamar alguém de animal é proibido. Podem ler lá. E foi pela razão que eu disse que se os terroristas do Hamas se comportavam como animais, Israel teria que trata-los como tal, é que a Rádio Bandeirantes cancelou a Hora Israelita. Então falar não pode. Mas mandar um veterinário tratar de uma moça ferida quando Gaza está supostamente cheia de hospitais, isso pode.
Pegar uma família inteira com dois bebês, isso pode. Torturar crianças, forçando-as a assistir horas de vídeos do massacre e apontar a metralhadora em suas cabeças quando choram, isso pode. Fazer idosas dormiram no chão, sem remédios, sem comida, sem luz do sol por 57 dias, isso pode. Vamos lembrar de tudo isso quando vieram nos falar na tal da “proporcionalidade” e para que tenhamos pena dos palestinos “inocentes”. Os mesmos inocentes que quando encontraram o refém Rony Krivoy, depois que ele tinha conseguido escapar, o entregaram de novo nas mãos do Hamas.
É a hipocrisia do mundo. Mas sabem o que? Os israelenses começaram a entender que a pressão do mundo só existe quando você a deixa te afetar. Israel aprendeu com este massacre que não pode depender de ninguém. E judeus ao redor do mundo estão aprendendo o mesmo. Assim, desta vez, podem mandar a pressão que for, Israel finalmente aprendeu a dizer não.
Israel desta vez tem que terminar o trabalho que começou, acabar com o Hamas e trazer de volta os 134 reféns que continuam em Gaza.
Foto: Captura de vídeo