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O Secretário-Geral mais antissemita da história da ONU

Por Deborah Srour Politis

Alguém ouviu em algum noticiário que quase 650 pessoas foram mortas numa recente onda de ataques em Bangladesh, entre 16 de julho e 11 de agosto último, por muçulmanos contra a minoria hindu? Esse número foi o publicado pelo Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre relatos de execuções extrajudiciais, prisões e detenções arbitrárias. Os ataques foram chamados de “ataques comunitários islâmicos contra os hindus”.

A Grande Aliança Nacional Hindu de Bangladesh disse que a comunidade enfrentou ataques e ameaças em 278 locais em 48 províncias, classificando-os como um “ataque à religião hindu”. Vários templos, casas e empresas da comunidade minoritária hindu foram destruídos este mês. O jornal The Guardian relatou em 7 de agosto que “imagens de hindus sendo linchados por multidões, templos incendiados e empresas saqueadas inundaram as mídias sociais na Índia, embora a escala total dos ataques não esteja clara”.

Em 1971, na época da independência de Bangladesh do Paquistão, os hindus representavam 20% da população. Hoje os hindus são menos de 8% dos 171 milhões de habitantes do país numa clara limpeza étnica.

Outro conflito amplamente ignorado pela mídia global é a guerra no Sudão nos últimos 15 meses. O conflito entre as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido custou algo aproximando em 150.000 vidas.

As duas forças rivais saíram das forças armadas do regime de Omar al-Bashir, um radical islâmico que se manteve no poder de 1989 até 2019. Essas milícias foram responsáveis pelos enormes massacres da população africana em Darfur, na primeira década deste século.

O genocídio em Darfur, que começou em 2003, resultou em cerca de 300.000 mortes de civis, e cerca de 10,2 milhões de pessoas deslocadas até hoje (de uma população total de 47 milhões). Um relatório recente do Programa Mundial de Alimentos estima que cerca de 25 milhões de pessoas no Sudão precisam de assistência humanitária. O relatório descreve a situação no Sudão como constituindo a “maior crise de fome do mundo”.

E, ainda assim, o silêncio é ensurdecedor. Pessoas estão morrendo de fome todos os dias, e o foco permanece em debates semânticos e definições legais que não levam a qualquer ação prática para resolver o problema.

Por outro lado, todos ouviram sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Desde o começo da guerra, a Rússia tem atacado indiscriminadamente edifícios residenciais, maternidades, hospitais, escolas e outros alvos civis, sem qualquer repercussão no âmbito mundial. Até 31 de julho deste ano, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos verificou 35.160 vítimas civis, e até fevereiro deste ano havia cerca de 6,7 milhões de refugiados ucranianos. Aproximadamente 14,6 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária. E pior. Na última sexta-feira, a Rússia ameaçou a OTAN com uma guerra nuclear e de transformar a capital da Ucrânia num monte de cinzas se o Ocidente der a Zelensky permissão para usar mísseis de longa distância, ameaçando também os Estados Unidos e a União Europeia com uma guerra nuclear.

E tudo bem. Com tudo acontecendo, a “comunidade internacional” e a “sociedade civil global” parecem largamente indiferentes. E porque isso? Porque nestes casos nem judeus, nem Israel podem ser acusados.

O fato de Israel ter sido atacado em 7 de outubro, da maneira mais brutal, desumana, sádica por uma horda de seis mil árabes de Gaza, entre combatentes do Hamas, Jihad Islâmica e outros grupos e “civis inocentes” que invadiram o sul do país, conseguiu a simpatia do mundo por mais ou menos 36h. Aí chegaram as justificativas do injustificável, como cantos de “por todos os meios necessários” e “do rio ao mar”. Junto com isso, países ao redor do mundo enviaram avisos para Israel não retaliar, para não entrar em Gaza e ameaças continuam a vir a cada passo da defesa legítima do estado judeu em todos os campos, desde o embargo de armas até ações na Corte Internacional de Justiça. O mundo está focado, obsessivamente no que faz Israel.

E a hipocrisia é tanta, que o “amor” do mundo pelos palestinos, não se estende à população palestina refugiada em outros países árabes. Alguém ouviu falar do massacre do campo de refugiado de Yarmouk na Síria? Claro que não. Isso porque foi perpetrado pelas forças do exército sírio de Bashar Al-Assad. 3.196 palestinos foram mortos incluindo 352 crianças e 312 mulheres. 491 morreram torturados nas prisões sírias. Pelo menos 2.663 refugiados palestinos estão ainda encarcerados ou desapareceram desde 2011 incluindo 10 crianças e 23 mulheres. Onde esteve a condenação do mundo, da UNRWA, da ONU?

Ainda assim, nada se compara com a tortura que o Hamas infligiu e continua a infligir aos reféns israelenses em seu poder. Nesta semana, o exército de Israel mostrou as condições do túnel onde foram encontrados os corpos dos reféns Carmel Gat, Eden Ierushalmi, Ori Danino, Hersh Goldberg Polin, Almog Sarussi e Alex Lobanov, todos os seis brutalmente executados com tiros na cabeça.

As câmeras focaram no sangue no chão, num túnel muito estreito e baixo onde não é possível nem mesmo ficar em pé. Um saco do lado guardava garrafas não de água, mas de urina escura. Um balde servia de privada. O túnel cavado a 20 metros do solo começava no quarto de crianças de uma casa, com a figura da Branca de Neve, do Mickey Mouse, e da palavra “Love” pintados na parede. Não havia luz ou ventilação. Deixaram para os reféns uma lanterna e um alcorão no meio de magazines de balas de metralhadoras.

Estes seis reféns são os verdadeiros heróis por terem sobrevivido 11 meses nestas condições sob as quais nem animais conseguem sobreviver.

Mas a guerra de Israel não é só em Gaza. Neste final de semana tivemos barragens de mais de 60 mísseis lançados sobre Israel do sul do Líbano pelo Hezbollah. E, hoje, um míssil de longa distância conseguiu chegar na cidade de Lod, do lado do aeroporto internacional de Israel lançado do Iêmen pelos Houthis. O Irã continua a ameaçar Israel que ainda tem que lidar com a infiltração iraniana na Síria e no Iraque. E finalmente, os ataques terroristas diários vindos da Judeia e Samaria. Esse é infelizmente o novo “normal” da vida em Israel.

Ainda se tivéssemos o apoio da comunidade internacional… Mas não. O próprio secretário-geral da ONU, o português António Guterres, e isso não é piada, declarou no X que os últimos acontecimentos no que ele chama de Cisjordânia e nós de Judeia e Samaria, são muito preocupantes. A escolha de Guterres de condenar a luta de Israel contra o terrorismo para impedir o estabelecimento do Hamas na Judeia e Samaria, especialmente em face dos ataques terroristas diários só pode ser interpretada de uma maneira: antissemitismo.

Ele não expressou preocupação com as ameaças de guerra nuclear da Rússia, ou os milhões de refugiados ucranianos. Não dá bola para a ameaça nuclear ou a opressão das mulheres no Irã. Não está nem mesmo em seu radar, a possibilidade da morte por fome de 700 mil crianças no Sudão. Nem tampouco a fome no Haiti, ou as tensões entre a Armênia e o Azerbaijão.

Esta última condenação não vem do vácuo. Guterres se posicionou como um dos maiores antissemitas do nosso tempo. É muito estranho que este título pertença a um homem que lidera uma organização encarregada da estabilidade e harmonia globais.

O fato de Israel se defender, incomodar mais o Secretário-Geral da ONU do que o terrorismo que necessita ser debelado ilustra o fracasso das Nações Unidas.

E para parecer que ele é o adulto responsável, equilibrado e objetivo na sala, Guterres tenta traçar uma equivalência entre o Hamas e Israel, retratando ambos como igualmente violentos. Mas isso só o torna mais perigoso e malévolo.

E isso, após Guterres tentar justificar os crimes do Hamas, iniciar uma votação no Conselho de Segurança da ONU para impedir Israel de tomar ações militares em Gaza e condenar Israel toda vez que ela tenta combater o terrorismo regional.

Mas em seu tuite ignorante e antissemita, Guterres não responde a perguntas óbvias: se Israel não agir contra os terroristas, quem impedirá um outro 7 de outubro? Quem protegerá as filhas de Israel de outro pogrom que a ONU não condenará? Quem devolverá nossos reféns, que a ONU não reconhece? Quem nos dará um estado alternativo se este, D’us me livre, for destruído? Até que ele responda a isso, talvez ele devesse gastar menos tempo passando sermões a Israel e mais tempo ajudando as crianças famintas do Sudão.

Elas também não surgiram do vácuo.

Foto: Captura de vídeo

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