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O que sabemos sobre o “ataque” dos tubarões em Hadera

Por Mabel Augustowski

Em 21 de abril deste ano, um fato raro e trágico aconteceu na praia em Hadera: subitamente começou-se a ouvir gritos de que havia sangue na água e que alguém estaria sendo atacado por tubarões.

Um homem de cerca de 40 anos, de Petach Tikva, foi atacado enquanto nadava próximo à usina de energia termoelétrica Orot Rabin – uma área que se tornou conhecida por atrair cada vez mais tubarões, principalmente o tubarão-fidalgo (Carcharhinus obscurus, ou em inglês, Dusky Shark, e em hebraico, כריש עפרורי / crish afrorí) e o tubarão-galhudo (Carcharhinus plumbeus, ou em inglês, Sandbar Shark, e em hebraico, כריש סנפירתן/crish snapirtan).

São tubarões que vivem em águas relativamente superficiais – o tubarão-galhudo, que chega a ter cerca de 2,5 metros de comprimento quando adulto, vive entre a superfície até cerca de 280 metros de profundidade, e o tubarão-fidalgo, que chega a 4 metros de comprimento na fase adulta vive até uma profundidade de até 400 metros. São encontrados em zonas arenosas (por isso o nome em inglês “sandbar shark”), mas a zonas de arrebentação não são suas preferidas, aproximando-se delas geralmente para caçar seu alimento, os peixes. Existem diversas legislações internacionais para a proteção de várias espécies de tubarão, pois esses animais têm um papel ecológico fundamental no ecossistema marinho.

O que parece ser consenso entre os pesquisadores é que não há uma razão natural para esse ataque e há pouquíssimos casos de ataques de tubarão em Israel. Essas espécies não atacam pessoas deliberadamente, alimentam-se basicamente de peixes – o ser humano não faz parte da sua dieta. A área próxima a Orot Rabin costuma atraí-los principalmente no inverno, pois as águas aquecidas pela usina no seu processo de resfriamento das turbinas acabam atraindo muitos peixes quando são devolvidas ao mar, e assim atraem também os tubarões à busca de alimento. A presença de tubarões nessa área acabou se tornando uma atração turística para a qual os especialistas vêm desenvolvendo uma regulamentação na área para que a observação ocorra de forma organizada.

Neste ano, entretanto, observou-se uma quantidade de tubarões muito maior, amplamente registrada pela mídia israelense já na semana passada. As mudanças climáticas globais, segundo eles, também contribuíram para esse aumento. Não só a disponibilidade de alimento é maior com o aquecimento da água, mas ele favorece também o metabolismo natural dos tubarões dessas espécies. Com o clima agradável deste início de primavera e o mar calmo e transparente em dias que coincidiram com a semana do feriado de Pessach, também centenas de pessoas foram atraídas às praias.

Pesquisadores israelenses como Dr. Aviad Scheinin e Dr Ziv Zemah-Shamir, ambos da Estação de Pesquisa Morris Kahn, assim como a Dra. Ady Barash, da Universidade de Tel Aviv e Diretora da instituição Sharks in Israel, entre outros, vêm desenvolvendo um amplo trabalho ao longo dos anos nessa e em outras áreas da costa mediterrânea de Israel para a conscientização da população sobre a importância global dos tubarões como espécies altamente migratórias e ameaçadas de extinção. Parte desse trabalho abrange os cuidados que devem ser tomados para evitar acidentes com tubarões, tais como não aproximar-se e não interagir com eles.

Infelizmente, apesar do intenso trabalho desenvolvido pelas instituições junto com a Autoridade para Natureza e Parques (Reshut haTeva vehaGanim em hebraico), o que mais se viu nestes dias em Beit Yanai e Giv’at Olga, em Hadera foi exatamente o oposto: as pessoas faziam de tudo para aproximar-se dos tubarões, dar comida, e até acariciá-los! Esse tipo de comportamento termina por gerar stress sobre os tubarões, e sua reação é imprevisível. Tanto podem simplesmente afastar-se da área para evitar o stress, como podem ter uma reação agressiva – como parece ter sido o caso do trágico acontecimento de 21 de abril. Além disso, é possível também que os tubarões “errem”: como estão à procura de alimento, quando os peixes passam por entre as pessoas, estas podem ser atingidas quando na verdade o tubarão só está interessado no peixe. Outra forma de “erro” possível pode ocorrer quando as pessoas tentam atrair os tubarões segurando pedaços de peixe e acabam tendo parte do braço “abocanhadas” por engano.

É importante ressaltar que os tubarões não tem visão acurada, sua orientação e a identificação de alimentos se dão principalmente por outros sentidos como o olfato (por variações químicas na água), por vibrações mecânicas na água, ondas eletromagnéticas e outros. Portanto, uma praia repleta de pessoas pode-se tornar um ambiente muito confuso e estressante para eles, podendo gerar reações muito variadas.

Por esta razão é que o “ataque” dos tubarões no título deste texto foi colocado entre aspas: o tubarão não atacou deliberadamente e sim estava se defendendo de algo que provavelmente não entendia o que era, ou que interpretou como uma ameaça.

Então, vamos utilizar o bom senso: não há a menor razão para entrar no mar onde há tubarões se alimentando e uma “selfie” com eles pode custar muito caro, até mesmo a própria vida. Respeitem as normas de segurança.

Foto: Captura de vídeo

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