O Ocidente mais uma vez contra Israel
Por Deborah Srour Politis
Dois assuntos estiveram nas manchetes de Israel nesta semana da Páscoa. Uma foi uma postagem do filho de Benjamin Netanyahu, Yair, insultando o presidente da França, e a outra, o vazamento das intenções de ataque de Israel às usinas nucleares do Irã e o veto americano.
O presidente francês Emmanuel Macron disse de forma muito sucinta que Israel “tem o direito de se defender, mas dentro das proporções” (sejam lá quais forem as proporções da cabeça dele). Ele também reafirmou a necessidade de fortalecer a Autoridade Palestina, reconstruir Gaza e caminhar em direção à criação de um Estado palestino, ao mesmo tempo em que advogava pela retirada militar israelense da Síria, Líbano e Gaza. Só não pediu para visitar a Alice no país das maravilhas.
A reação do filho do primeiro-ministro de Israel foi rápida. Ele mandou o presidente francês se danar (para usar uma palavra mais educada) e depois lembrou da hipocrisia francesa, que se recusa a dar independência à suas colônias na África, na Polinésia e até no Mediterrâneo, para a Ilha da Córsega.
Yair criou um incidente diplomático, mas ele tem razão.
O fato de Macron e a esquerda política no Ocidente não terem aprendido nada com os ataques a Israel de 7 de outubro de 2023 (e o apoio de Mahmoud Abbas a eles) é decepcionante, mas não é nenhuma surpresa.
O que é mais desanimador é que eles nem mesmo aprenderam com as lições do apaziguamento de Hitler antes da segunda guerra mundial. Para Macron e outros lacaios ocidentais o mais importante hoje é prevenir uma terceira guerra a qualquer preço. Especialmente se este preço incluir sacrificar Israel. Então, o Estado judeu não pode ser tão poderoso e controlador, tão “provocador”. As mãos de Israel precisam ser amarradas.
Para isso, Macron e seus puxa-sacos querem deslegitimar a doutrina de defesa de Israel de reduzir preventivamente a capacidade de ataque dos inimigos. Isso inclui operações contra o Hamas em Gaza, o Hezbollah no Líbano, as milícias xiitas no Iraque, na Síria, contra células terroristas na Judeia e Samaria, e é claro, o Irã.
Esta doutrina é o que em Israel chamamos de Doutrina Begin. Em 1981, o primeiro-ministro de Israel, Menahem Begin ordenou a destruição da usina nuclear do Iraque. Dois dias após o ataque, Begin falou para o mundo: “se tivéssemos ficado quietos, dois, três anos, no máximo quatro anos, e Saddam Hussein tivesse produzido 3, 4, 5 bombas, este país e seu povo teriam sido perdidos: um outro Holocausto teria ocorrido na história do povo judeu. Nunca mais é Nunca mais. E nunca permitiremos que o inimigo desenvolva armas de destruição em massa contra nós”. Begin, em 1981, estabeleceu um novo padrão para os líderes israelenses: se uma ação preventiva for possível, ela deve ser considerada, especialmente quando a sobrevivência do país estiver em jogo.
Algumas autoridades israelenses esperavam um ataque ao Irã enquanto o comandante do Comando Central americano, General Michael Kurilla, ainda estivesse no cargo, reconhecendo sua afinidade operacional com Israel. Mas Kurilla está de saída. O presidente Donald Trump, embora anteriormente tenha incentivado a ação militar israelense, desde então, decidiu dar uma chance para a diplomacia, chegando a enviar Kurilla para pedir a Israel que recue, por enquanto.
Outras autoridades acreditam que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se tornou dependente demais da aprovação americana. E ainda outras dizem que Israel pode e deve agir sozinho, especialmente considerando que as defesas aéreas do Irã, antes consideradas formidáveis, foram severamente degradadas pelas operações israelenses.
Macron e seus comparsas hoje priorizam o retorno da Síria às suas antigas fronteiras em vez de se preocuparem com a segurança e a paz a longo prazo para Israel. Ficamos com a impressão de que eles preferem uma região liderada por ditaduras e tiranos, como Turquia, Catar e Egito, a uma região estabilizada pelo poder militar israelense e seus países parceiros do Acordo de Abraão.
O cheiro que emana desses cidadãos europeus e americanos da velha guarda é de antipatia por Israel. Eles simplesmente não conseguem tolerar um Israel forte.
Em vez de abraçar Israel – a única democracia no Oriente Médio, o único país que constantemente se comprometeu com a paz no Oriente Médio e o único verdadeiro aliado americano no Oriente Médio – como uma potência regional positiva e proativa que está remodelando o Oriente Médio para melhor, eles a difamam como uma bully, ou pior.
Aqui tenho que explicar por que Israel não considera mais ajudar a criar um “governo eficaz e reconstrução” envolvendo, bilhões de dólares e euros adicionais para a Autoridade Palestina ou acordos diplomáticos que não valem nada como acordos com a Síria e o Irã.
Quarenta anos de acordos ao estilo de Oslo, nos quais o Ocidente persuadiu e pressionou Israel a retiradas territoriais e a uma política de contenção contra seus inimigos, provaram ser um fracasso completo. A política de “contenção”, que priorizava a diplomacia em detrimento de triunfos militares, fracassou completamente. Tudo explodiu na cara de Israel, com o terror e a invasão da Judeia, Samaria, Gaza, Síria e Líbano, e a marcha do programa de bombas nucleares do Irã que podemos dizer, já chegou lá.
Isso foi acompanhado por décadas de cegueira intencional do Ocidente em relação à natureza jihadista dos inimigos de Israel, à ameaça dos jihadistas a outros países da região e à infiltração de influências jihadistas no próprio Ocidente – das populações migrantes com mentalidade jihadista.
Assim, nos últimos 18 meses, Israel não teve outra escolha a não ser buscar uma avenida melhor para prevenir e neutralizar ameaças inimigas. Em seu discurso à nação sábado à noite, Bibi Netanyahu deixou claro que Israel deve e continuará a guerra em Gaza e em outros lugares até a vitória.
Israel quer ser temida e sim, militarmente “dominante”, não amada. E Israel também sabe que seus vizinhos buscarão uma verdadeira parceria somente quando ela for forte.
Assim, Israel não pode mais aceitar políticas que enfatizam “silêncio por silêncio” ou “contenção”, pois isso permite que o inimigo desenvolva suas capacidades de ataque sob o pretexto de um período de trégua.
Depois do dia 7 de outubro, entramos numa nova era. Israel tem que projetar sua força para neutralizar definitivamente os adversários e, assim, liderar a região para reunir uma coalizão de nações verdadeiramente em busca da paz. Sim, para realmente “estabilizar” a região, mas não por meio da dependência de modelos diplomáticos batidos e fórmulas fracassadas que transbordam fraqueza.
É triste e tão destrutivo que políticos como Macron e outros pensem que o caminho para a paz no Oriente Médio seja, mais uma vez, a monotonia, pressionando Israel à contenção, a “mostrar boa-fé” na diplomacia, a se curvar às demandas árabes e a concordar com retiradas que supostamente “satisfarão” a sede de sangue do inimigo. Isso sabendo que somente Israel suportará as consequências de um Irã nuclear.
É horrível que eles se rebaixem a demonizar Israel como uma ameaça, em vez de reconhecer que Israel é o maior trunfo do Ocidente. O único país que conseguiu trazer seus valores de liberdade para a região e o único que não terá medo de defender estes valores face aos tiranos que continuam a ameaçar o mundo. O momento está aqui novamente. A Doutrina Begin não deve ser somente uma memória histórica. Deve ser uma política ativa. Israel precisa se preparar para agir, sozinha se necessário, e logo.
Foto: Ministério do Exterior (2020)