O mundo está acordando, os palestinos não
Por David S. Moran
O Estado de Israel é, talvez, o único país do mundo, que depois de 72 anos de existência, ainda não tem o reconhecimento de diversos países do direito de sua existência e é ameaçado constantemente. Os 22 países árabes que compõem a Liga Árabe, que muitas vezes lutam uns contra os outros, só se uniam para apoiar a causa palestina e condenar o Estado de Israel. A sua luta era reforçada pelos países islâmicos (58) e assim, não importando o quê, nos fóruns internacionais e na mídia, Israel estava com grande desvantagem.
Os países vizinhos, como o Egito e a Jordânia, entenderam cedo que não poderiam exterminar o Estado Judeu e seus líderes, resolveram firmar acordos de paz, para serem beneficiados, pela tecnologia, produtos e até empregos que Israel lhes oferece. O mal foi que os acordos foram com as elites do Egito e da Jordânia, que não trataram de implantar e ensinar o povo que Israel e os judeus são diferentes do que imaginaram.
O recente acordo de normalização (nunca houve guerra) entre Israel e os Emirados e Bahrein, fez cair a ficha para outros países “irmãos” árabes entenderem que o fato da existência de Israel não é mais contestado e vale a pena subir no bonde e se auto beneficiarem, enquanto os palestinos também notaram que estão sendo deixados de lado pelos próprios países árabes.
Na sequência ao acordo com os países do Golfo, cogitou-se que outros países seguiriam esta trilha. Os EUA, que também tiveram importante atuação para concretizar os acordos, podem mais uma vez ajudar aos que seguirem o trajeto da paz e normalização.
Os Emirados Árabes Unidos já anunciaram que as companhias aéreas Emirates e Israir farão voos entre os dois países, universidades procuram intercâmbio, firmas financeiras e homens de negócios israelenses estiveram com colegas dos Emirados vendo como poderiam operar conjuntamente.
Quem se manifestou contra os acordos foram o Irã, a Turquia do Erdogan e a Autoridade Palestina (AP), que anunciou proibirá os muçulmanos dos Emirados e Bahrein de rezar nas Mesquitas no Monte do Templo, em Jerusalém. Além disso, chamaram-nos de “traidores” dos palestinos e queimaram suas bandeiras.
Reações negativas aos dirigentes palestinos eram manifestadas timidamente antes desses recentes acordos, mas depois dos acordos e com as reações da liderança palestina, as críticas aos palestinos foram mais decididas.
O Príncipe saudita, Bandar Bin Sultan, dos homens mais influentes, que por mais de 20 anos foi Embaixador do seu país nos EUA e quando retornou ao reinado foi o Diretor Geral do Serviço de Inteligência da Arábia Saudita, disse numa entrevista à rede Al Arabiya de TV (Saudita e do Dubai) em 5 de outubro, que está assombrado com a conduta da liderança palestina, por sua reação aos acordos. “A liderança palestina tem a audácia de dizer coisas desprezíveis dos países do Golfo e de seus líderes. A causa palestina é justa, mas seus líderes falharam em angariar para sua causa”.
Historicamente, os líderes palestinos sempre apostaram no lado perdedor. Desde Haj Amin Al Husseini que apoiou os nazistas na 2ª Guerra Mundial, até o Saddam Hussein, quando invadiu o Kuwait, em 1990.
Os palestinos sempre pediram ajuda financeira e conselhos da Arábia Saudita, então pegavam o dinheiro e ignoraram os conselhos. A Arábia Saudita sempre defendeu publicamente os palestinos, mesmo sabendo que estavam equivocados. Agora a liderança palestina acredita que o Irã é seu aliado, apesar de que usam a causa palestina para “libertar Jerusalém”, através do Iêmen, o Líbano e a Síria.
As palavras que o Príncipe Bandar expressou jamais foram assim expostas e por personalidade como ele. Evidentemente, houve muita reação e críticas, que foram refutadas por um príncipe saudita da cúpula do seu país, que confirmou as palavras de Bandar em entrevista ao Roy Keiss do Canal 11, israelense (9.10) e adicionou que “a liderança palestina usa manobras e não cumpre acordos, são mentirosos, hipócritas, terroristas e criminosos”. Sem dúvida há rachaduras na linha pró-palestina no mundo árabe e, ainda por cima, por um país de muita importância.
O jornalista libanês Noufal Daoud, em entrevista à TV libanesa MTV (20.9), disse que seu país deve agradecer ao presidente francês, Macron, pelo seu plano de reconstruir o Líbano e sua economia, mas só se a Hizballah for desarmada. Adicionou que se reconstruírem o Líbano para continuar ocupado pela Hizballah, prefere que fique em ruinas. Palavras como estas não se ouviam até há pouco tempo.
Fahd Ibrahim Al Dughaitner, jornalista saudita, publicou no diário estatal Okaz,(14.9) um longo artigo com o título “A paz com Israel é uma necessidade, não escolha”, relatando que as ameaças turcas e iranianas são muito maiores do que as de Israel. Sem dúvida, artigo desses não seria publicado, sem aprovação das autoridades.
Como já escrito, há muitos artigos e entrevistas no mundo árabe que expressam a insatisfação dos palestinos e aprovando (por enquanto cautelosamente) a coexistência com o Estado Judeu.
Até entre os palestinos há certas divergências, que num governo autoritário como o é, está difícil para transparecer. Um dos exemplos é o membro da Fatah e ex-Ministro para Assuntos dos Detentos, da Autoridade Palestina, Ashraf Al Ajrami. Ele escreveu artigo no jornal Al Ayyam, criticando duramente a AP e sua atuação política nos últimos 20 anos. Ele exige que os palestinos reconheçam seus erros e tracem uma nova visão e planos políticos razoáveis. Ele menciona, entre os erros, a 2ª Intifada, que continuou também após os ataques em Nova York, em 11 de setembro, quando o mundo todo condenou o terrorismo. A intifada também custou a vida de muitas pessoas e perda de dinheiro e isto traçou as bases para Hamas conseguir dominar a Faixa de Gaza.
Expressões como estas acima relatadas não eram possíveis anteriormente, pois nenhum governante aprovaria e os que assim se expressam corriam perigo de vida. Até o encontro entre representantes israelenses e libaneses, na quarta (14), em Nakura, na fronteira com Israel, não poderia ocorrer por temer atentados da Hizballah contra os representantes libaneses. Depois da explosão no Porto de Beirute, que todos sabem ter sido provocado pelo material ali estocado pela Hizballah, e com a falência econômica da antiga “Suíça do Oriente Médio”, até a Hizballah não pôde se opor ao encontro com israelenses.
Se todos acordarem a tempo e entenderem que juntos somamos e progredimos, o dinheiro árabe e o gênio israelense podem trazer muitos benefícios à região e ao mundo.