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O mundo decidindo como Israel deve vestir o luto

Por Deborah Srour Politis

Existe uma palavra em Hebraico que é muito usada para descrever o atrevimento, a ousadia, enfim, a cara de pau. É a palavra Chutzpah. E neste aniversário de um ano da mega-atrocidade do Hamas contra israelenses e não israelenses, judeus e não-judeus, e baixo a centenas de mísseis sendo enviados do Líbano pela Hezbollah, alguns da mídia internacional se sentem no direito de opinar, digamos, criticar, como Israel lamenta seus mortos e marca o evento.

O caso do jornal de esquerda The Guardian, da Inglaterra é um exemplo. Na semana passada, ele deu voz à uma certa eco feminista comunista, seja lá o que isso for, de origem judaica para lhe dar um certo grau de autoridade, publicando seu artigo titulado “Como Israel usou o trauma como uma arma de guerra”. Imaginem só isso!!!!

Isso é mais do que chutzpah, é uma chutzpah obscena.

Convenientemente, o artigo omite os detalhes do ataque bárbaro em que o Hamas, a Jihad Islâmica e outros terroristas invadiram o sul de Israel, assassinando, estuprando, mutilando e decapitando. Claro que ela escolheu omitir as famílias inteiras que foram baleadas, torturadas, pais na frente dos filhos e filhos na frente dos pais, ou queimadas vivas em suas casas. 30 crianças estavam entre os 1.200 civis naquele dia. E tampouco houve a necessidade de discutir as 250 pessoas, israelenses e estrangeiros, que foram sequestradas.

O principal medo do jornal e de outros similares, não foi o que poderia acontecer a Israel. O medo deles é o fato de que, relembrar aquele dia terrível e todo o seu trauma, pode (D’us nos livre) encorajar a islamofobia!

Estranho que só agora, que Israel está envolvido, este argumento é levantado. Quando o ISIS sequestrou 374 meninas cristãs de Chibok, na Nigéria escravizando-as, ninguém criticou as famílias das vítimas de provocarem islamofobia por conseguirem engajar até Michelle Obama para sua causa. Até hoje, só 100 delas voltaram. Ou quando o governo de Omar al-Bashir no Sudão fez uma limpeza étnica dos não árabes muçulmanos em Darfur, matando perto de 400 mil civis seja por chacina ou de fome, ninguém argumentou que a condenação de al-Bashir por genocídio pudesse levar à islamofobia. Ou que acusar os sérvios ortodoxos de genocídio contra os muçulmanos da Bósnia, poderia inflamar sentimentos anti-cristãos no mundo inteiro.

Mas quando se trata de Israel… Ele é acusado de usar a memória do massacre de 7 de outubro para justificar o ataque àqueles que o perpetraram e apoiaram a selvageria; aqueles… que ainda estão disparando mísseis indiscriminadamente contra israelenses, judeus e não judeus, civis e militares. Aqueles que continuam a comemorar o 7 de outubro.

Na perversão máxima, estão dizendo a Israel como ela deve lamentar seus mortos. E por favor, está proibido o uso da palavra “Holocausto”.

Entre os absurdos escritos neste artigo do The Guardian, está uma citação do palestino Abdaljawad Omar reclamando que a “forma colonial de luto de Israel transforma os palestinos em equivalentes modernos aos amalequitas”. É um espanto! Como se só o comportamento deles não fosse o suficiente para eles merecerem esse enquadramento!

O objetivo desta mídia suja é o mesmo: não se alongue sobre os horrores que foram feitos a Israel, porque isso pode fazer as pessoas terem um sentimento negativo sobre os terroristas que os perpetraram.

Aqui está uma amostra: “Com uma conflagração regional em larga escala parecendo mais possível a cada hora, o foco em como Israel intensifica e manipula o trauma judaico pode parecer irrelevante… No entanto, as histórias particulares que Israel conta sobre a vitimização judaica fornece a justificativa para a violência devastadora e a anexação de terras coloniais agora em exibição tão gritante”.

Vamos parar um pouco e concordar com alguns fatos incontroversos. Até a década de 60, os palestinos eram os judeus que moravam em Israel. Golda Meir dizia com orgulho que ela era palestina e isso estava em seu documento de identidade. Foi Yasser Arafat, um terrorista nascido no Egito, que quando fundou a OLP em 1964, três anos antes de qualquer “ocupação” inventou o povo palestino. Até então todos eram apenas “árabes”. Segundo fato incontroverso: desde a época dos romanos, há dois mil anos, os judeus sempre mantiveram comunidades em todo Israel, inclusive na Judeia e Samaria. Os Bizantinos cristãos, os Cruzados, os invasores árabes e os invasores turcos, escritores como Benjamin Metudela, rabinos como Ramban, Rambam e tantos outros, todos registraram a presença judaica ininterrupta em Israel, até hoje.

E aí temos. O primeiro crime do qual Israel é culpado: é de ser colonialista. Como podemos ser colonialistas na terra de onde viemos? Desde quando a ocupação ilegal de um país como a Jordânia, durante meros 19 anos, pode apagar a presença judaica de dois mil anos ininterruptos? Israel é o maior e melhor, provavelmente o único exemplo de descolonização bem-sucedida da História.

Mas a mídia se concentra, como sempre, na narrativa palestina influenciando as universidades, a opinião pública e os organismos internacionais como a ONU e a Corte Internacional de Justiça. Estes organismos não se cansam de acusar Israel não só de colonialista, mas de genocídio e de apartheid. Na opinião de vocês, quem é o genocida? Aquele no qual a população árabe se multiplicou 10 vezes desde a criação do estado, ou aqueles que têm em sua própria constituição, o único objetivo de destruir o estado judeu, e todos os seus habitantes judeus, como é com o Hamas e a Hezbollah?

E quem é o Estado apartheid? Aquele que promove suas minorias a todos os cargos inclusive de chefes de hospitais, presidentes de empresas, generais do exército e até a juiz do Supremo que colocou um presidente e um primeiro-ministro judeus de Israel na cadeia? Ou aqueles que não aceitam que qualquer judeu resida em qualquer parte do território que reclamam como seu, do Rio ao Mar?

E crimes de guerra, então? Outro crime do qual Israel é acusado. Que outro país está em guerra não contra um exército reconhecido, mas contra dois grupos terroristas apoiados por estados terroristas como o Irã, a Síria, o Iêmen? Quem comete crimes de guerra? Israel que avisa por telefonemas, panfletos e rádio para a população civil sair dos objetivos militares, ou grupos terroristas que lançam mísseis indiscriminadamente contra a população civil e usam seus civis como escudo humano?

Ou os que, como foi encontrado esta semana por Israel, escondem em todas as casas de civis, no sul do Líbano, milhares de mísseis, armas, munições, coletes e capacetes, além de túneis sofisticados que adentravam o território israelense, tornando todas as casas em alvos militares? Mas não. Não podemos criticá-los porque isso poderá gerar islamofobia!

E entre toda a piedade professada pelos palestinos e libaneses na guerra que seus líderes lançaram contra Israel, não há um que poupe um pensamento para os mais de 60.000 israelenses ainda desabrigados após um ano. Ou para as jovens famílias mortas e mutiladas, para os mais de 100 reféns que continuam em condições subumanas em Gaza. E para milhares de israelenses emocional e fisicamente feridos.

Sim, querem que apaguemos tudo isso para justificar o injustificável. Não gostaram do filme Prestando Testemunho do exército israelense, que compilou os momentos mais gráficos e horríveis capturados pelos próprios terroristas naquele dia… Ou que permitimos a Sheryl Sandberg ex-COO da Meta produzir o “Gritos Antes do Silencio”, sobre a violência sexual brutal perpetrada pelo Hamas; ou o documentário #Nova, que criou um relato “minuto a minuto” das atrocidades. E outros.

Não! Deveríamos ter ficados quietos e apagar o que estes selvagens fizeram.

Tudo isso explica muito sobre o que está acontecendo nas ruas e nos campi universitários do mundo.

Brendan O’Neill, editor-chefe do site Spiked!, acabou de publicar o livro “Depois do Pogrom: 7 de Outubro, Israel, e a Crise da Civilização”. Ele escreveu: “Parece que a histeria [pró-Hamas] no pós-outubro foi o fruto podre da virada do Ocidente contra a civilização. Do nosso abandono progressivo da razão. Da nossa troca dos ideais do Iluminismo, do pensamento racional e deliberação democrática pelo beco sem saída da política de identidade”.

Eliminar a documentação traumatizante é destruir as evidências, apagá-las da memória futura. Isso pode beneficiar os palestinos e o estado patrocinador do terrorismo, o Irã, que ainda busca capacidade nuclear militar. Não ajudará a sobrevivência de Israel, que já está sendo arrastado por tribunais internacionais.

A selvageria vista em 7 de outubro nunca poderá ser perdoada ou esquecida. E ninguém tem o direito de dizer a Israel como lembrar, lamentar marcar ou comemorar esta data. Não queremos preservar o trauma. Longe disso. Queremos sim evitar e nos proteger de atrocidades futuras.

Foto: Wikimedia Commons. Memorial da festa de Reim

2 comentários sobre “O mundo decidindo como Israel deve vestir o luto

  • Excelente, como sempre, o artigo de Deborah Srour! Obrigada, Deborah e obrigada, Bras.il!

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  • Leandro Nogueira Salgado Filho

    Texto muito bem escrito e fundamentado! Vivemos um momento histórico sem precedentes, no qual a combinação da boçalidade da extrema-esquerda global com o estupidez genocida do islamonazismo, promovem ambos e em conjunto a apologia ao ódio, ao terrorismo e à completa destruição dos valores que fomentam a proteção da vida e da civilização baseada no Estado de Direito. Israel, vanguarda da civilização ocidental, trava uma guerra que representa o combate crucial contra os filhos da trevas, que de fato não pode retroceder porque isso significará além do fim da tradição judaico-cristã, o cancelamento da liberdade, da iluminação e de qualquer possibilidade de redenção para toda a humanidade.

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