O mundo atento às eleições americanas
Por David S. Moran
Na próxima terça-feira (3) realizar-se-ão as eleições gerais nos Estados Unidos, para eleger o Presidente e Vice-Presidente da maior potência mundial. No páreo estão o excêntrico, grosso e o menos ‘politically correct’ homem de negócios e atual Presidente, Donald J. Trump, de 74 anos, do Partido Republicano, que enfrenta um oponente do Partido Democrata, o mais idoso a concorrer, Joe Biden, de 78 anos (dia 20/11), que foi o Vice-Presidente durante os oito anos de governo Obama.
À vice-presidência concorrem o atual, Mike Pence, de 61 anos, e a candidata na chapa do Biden, a Kamala Harris de 54 anos. A importância da idade destes candidatos à vice-presidência é que se o presidente que for eleito (os dois candidatos são os mais idosos da história americana) tiver que se ausentar do cargo, automaticamente, o vice toma posse.
A presidência do Trump foi repleta de desarmonia interna, dispensando os mais fieis auxiliares e dos cargos mais importantes, quando divergiam do seu ponto de vista. Entrou em confronto comercial e de influência com a China, Rússia e outros países. Com outro que queria elevar, nem sempre as coisas deram certo, como o “caso de amor” unilateral com o ditador da Coreia do Norte.
Trump, Israel e o Oriente Médio
Do ponto de vista de Israel, Trump foi o melhor de todos seus antecessores. Cercado do seu Vice, Pence, evangélico e de muitos auxiliares e conselheiros judeus, como o próprio genro Jared Kushner, Trump fez por Israel o que todos os presidentes americanos prometiam e não cumpriram: reconheceu Jerusalém como a Capital do Estado de Israel e para lá transferiu a embaixada americana. Também reconheceu a soberania israelense sobre o Planalto do Golan, principalmente, por notar o perigo que corre o Estado Judeu, sem o Golan, se o lunático presidente sírio, Bashar al Assad, que massacrou seu próprio povo, tentar atacar Israel.
Sanções econômicas dos EUA sobre o Irã e a Síria, além de retirar seu país do Acordo Nuclear das seis maiores potências com o Irã, enfraqueceram estes países.
Trump queria trazer os palestinos da Autoridade Palestina a um acordo com Israel. O “Acordo do Século” envolvia traçar fronteiras finais entre as partes envolvidas e a ajuda americana, em dezenas de bilhões, na construção de um Estado Palestino. Mas, como ocorreu durante dezenas de anos, os palestinos não perderam oportunidade de perder oportunidade.
Os palestinos não entenderam que o trem já saiu da estação. A ameaça do Irã e os radicais islamistas apavoram alguns países árabes e, em outros países, a ajuda econômica americana ajudou-os a mudar o paradigma levando-os a entender que normalizando relações com Israel e sob a tutela americana, só podem ganhar. Assim, o Oriente Médio está mudando totalmente a sua história. Países como o Bahrein, Emirados Árabes Unidos e até o Sudão, que foi dos mais hostis, normalizam suas relações. Outros hão de vir. A novidade é que estes países o fazem a luz do dia. Há dezenas de anos Israel tem relações e até representações em Omã, Qatar e outros países. Levará mais tempo ou menos tempo para que mais países árabes normalizem suas relações. O mais importante será a Arábia Saudita.
A história sempre mostra que são necessárias as circunstâncias certas e as pessoas certas para levar a frente o que deveria acontecer há tempos.
Biden, Israel e o Oriente Médio
O Vice-Presidente do Barak Obama, talvez o menos favorável a Israel, por oito anos, Joe “Sleepy” (Dorminhoco, como o ironiza Trump) Biden, justamente do Partido Democrata (que recebe 75% dos votos de judeus americanos) é visto com cautela pelo eleitorado judeu e pelos israelenses. A primeira viagem do Obama ao exterior foi ao Cairo, falar na Universidade Islâmica de A-Zahar. Pensou que eles entenderiam o que são direitos humanos, democracia. Foi Obama que pressionou Mubaraq a deixar a presidência, veio Mursi, da radical Irmandade Muçulmana.
Os representantes democratas pressionam Israel para abrir espaço aos palestinos, direitos humanos e toda esta fala bonita. Quando os americanos pressionaram para realizar eleições na Faixa de Gaza, em 2006, um ano após a retirada unilateral de Israel desta área, a extremista organização terrorista venceu as eleições e em 2007, massacrou ativistas da Fatah e tomou o poder. Por outro lado, o Senador Biden (desde 1973), no passado, se declarou sionista, esclarecendo que não é preciso ser judeu para ser sionista. O Ex-Embaixador de Israel nos EUA, Danny Ayalon, que serviu de 2002 a 2006, depois deputado pelo Israel Beiteinu, considera Biden um amigo de Israel.
O “establishment” israelense sempre se manteve neutro com relação às eleições americanas. Tinha e tem boas relações com a maioria dos congressistas. Quem mudou esta atitude foi o Primeiro Ministro Netanyahu, que viajou a Washington, na véspera da eleições, em 2016, e no Congresso deu seu apoio ao candidato Trump.
As mudanças por que o mundo todo passa, ocorrem nos Estados Unidos também. No Partido Democrata há uma ala “progressista”, mais radical, e dela fazem parte as deputadas Ilhan Omar, que emigrou da Somália, Rashida Tlaib, descendente de palestinos, e Alexandria Ocasio-Cortz (AOC) (foto abaixo). As três jovens, no seu primeiro mandato, mas com muita voz e se expressam contra Israel. Estas, junto com outros “progressistas”, como Barnie Sanders, judeu, que é critico a Israel, tentam mudar o consenso a favor de Israel no Congresso americano.
Esta é mais uma razão pela qual o Irã, a Autoridade Palestina, a Síria e outros países e organizações radicais esperam e rezam para que o Biden vença as eleições.
Por outro lado, evidentemente Israel, Arábia Saudita e países do Golfo querem que Trump seja reeleito, pois temem o que chamam de “a mão frouxa” de governos democratas, principalmente com o Irã e sua ameaça para obter arma nuclear.
É interessante notar que o presidente que declarou a retirada de tropas americanas do Oriente Médio para economizar despesas desnecessárias e viu-se obrigado a voltar a tona por causa da guerra civil síria e pela ameaça iraniana, foi o que mais se envolveu em acordos entre países árabes e Israel.
Nesta hora, a poucos dias das eleições, nota-se que o público americano está envolvido na política do país. Um número sem procedente de mais de 70 milhões de eleitores já votaram em urnas especiais e pelo correio. As pesquisas de opinião pública dão pequena margem de vantagem, desde junho, ao Senador Biden. Entre 6% e 10%. Talvez o Trump esteja pagando o preço de sua arrogância e a falta de exemplo no combate a COVID-19, que só nos EUA já teve 235 mil mortos.
Porém, nada está definido. Pelo sistema americano, o voto é indireto e o eleitor define os eleitores de cada Estado. São necessários pelo menos o voto de 270 eleitores, de um total de 538 eleitores. Em 48 Estados dos 50, há o sistema em que o partido que ganha o maior número de eleitores leva todo o “corpo eleitoral”. Assim, nas eleições passadas, a Senadora Hillary Clinton teve 2,9 milhões de votos a mais do que o Trump, mas este venceu por “pontos”. Obteve mais “eleitores” do que a Hillary.
O mundo todo está acompanhando a acirrada disputa à presidência americana. Como disse o Primeiro Ministro israelense, Levi Eshkol, ainda na década dos anos 60’ do século passado, “Quando os Estados Unidos espirram, o mundo está resfriado”.