O Irã, dor de cabeça ao mundo
Por David S. Moran
Uma das primeiras advertências ao mundo de um possível perigo nuclear iraniano foi dado pelo Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no pódio da Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2012. Na época Netanyahu mostrou o avanço do regime clerical e radical islâmico no campo nuclear, com desenho.
Em 2015, os cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha chegaram a Acordo Nuclear com o Irã. Segundo este, haveria limitações na produção de urânio enriquecido iraniano e as potências aliviariam as sanções sobre o Irã. Na realidade, o Irã nunca cessou sua produção conforme aceitou no acordo. Prova disso foi apresentada por Israel, quando o primeiro ministro Netanyahu revelou, em setembro de 2018, arquivos inteiros e CD’s trazidos por agentes do Mossad, do Irã.
Já em maio daquele ano, Trump anunciou que os EUA se retiravam do acordo com o Irã devido às violações deste país. Logo depois, iniciou uma série de sanções econômicas sobre o Irã, a fim de enfraquecer o regime dos aiatolás e entrariam no regime das imposições do acordo. Até o momento, apesar de muitas consequências (logo a seguir), o regime iraniano não só não voltou atrás, como até intensificou suas ameaças: aos vizinhos de um lado e ao mundo todo do outro.
Regime que louva terroristas suicidas e os chama de “shahid” (mártires) não se amedronta. É verdade que agora produz muito menos petróleo do que antes, mas mesmo países ocidentais ainda negociam com os aiatolás. Estes estão presentes na guerra civil síria, na rebelião no Iêmen, se atrevem a tentar lançar mísseis sobre Israel da Síria, abateram drone americano, bombardearam refinarias sauditas, apreenderam navios ingleses em águas internacionais no Golfo Pérsico, enfim, desafiam todos sem temor.
Na quarta-feira (6), o Irã, depois de ameaçar, iniciou o fluxo de gás às centrífugas do reator atômico em Perdue, perto de Qom. Este reator deveria servir só para fins de pesquisas. O chefe do programa nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi, anunciou que o enriquecimento será de 5% e poderá ser de 20%, se for preciso. Adicionou : “Por enquanto temos suficiente urânio enriquecido de 20%”. Esse nível de enriquecimento permite rápida passagem para 90% que é necessário para produzir bomba atômica. O absurdo é que o iraniano Salehi estudou no MIT em Boston, EUA.
O presidente iraniano Rouhani adiantou: “a partir de hoje (6) o Irã não mais se limita à quantidade de urânio e de água pesada. Se os signatários do acordo (em clara referência aos EUA) não assumirem seus compromissos e os interesses do Irã, nos também recuaremos do acordo em 60 dias”. O Prof. Isaac Ben Israel, diretor executivo da Agência Espacial de Israel e do Centro Cibernético da Universidade de Tel Aviv, comentou o aumento do enriquecimento de urânio em Perdue e disse: “isto significa um passo dramático e viola o acordo”. Ao mesmo tempo, ele criticou a retirada americana do acordo, que permitiu mais liberdade ao Irã na corrida nuclear.
O dilema é expor ou não o país violador. Se ele é confrontado publicamente e se trata de um regime opressor e ditatorial, este regime não leva ninguém em conta e acelera o programa que teve e paralisou momentaneamente. Isto vemos com o Irã. Na guerra entre o Irã e Iraque, que durou oito anos, na década dos 80 do século passado, foram sacrificadas um milhão de pessoas.
O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres publicou uma pesquisa de 217 páginas, sobre a influência do Irã no Oriente Médio. Segundo o estudo, apesar das sanções econômicas dos EUA contra o regime dos aiatolás, a influência deste regime aumentou significativamente. “O Irã está integrado no governo sírio e nas suas instituições de segurança, aumentando o nível da ameaça sobre Israel”. A pesquisa também indica que além da Síria, o Irã tem grande influência no Líbano, Iraque e Iêmen, através de milícias xiitas.
Um alto funcionário da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, em inglês), Massimo Apar, revelou em reunião a portas fechadas para diplomatas, em Viena, que Teerã recusa-se a atender as exigências da organização e permitir visitas e inspeções no reator em Abada (descoberto e revelado por Israel). Ao mesmo tempo, uma inspetora do IAEA foi impedida de cumprir sua missão de inspeção na instalação de Natnaz e seu passaporte confiscado.
É isto que ocorre quando as potências não se unem contra um país que é capaz de ameaçá-los também. Pior, alguns desses países continuam fazer negócios com os clérigos do Irã e dão-lhe “sangue novo” com o dinheiro que cada país precisa para sobreviver.
Outro fato que não devemos esquecer é a atuação do governo Trump dos EUA. Ele ordenou a retirada de seus militares da Síria, abandonando os aliados curdos e sinalizando que não tem interesse na área. Pior do que isto é sua falta de ação ante o abatimento até do drone americano que sobrevoava para obter informações na área. O Irã entende que os EUA não intervirão na região e isto o incentiva a agir para trazer o mal ao mundo.
Há rebelião contra o Irã em países árabes
De forma que pode até parecer estranha, multidões no Iraque de maioria xiita – a mesma religião do Irã – se rebelaram contra seu governo e contra a presença iraniana no país. Na cidade sagrada dos xiitas, Karbala a multidão investiu contra o consulado iraniano na cidade, lançou coquetéis molotov e gritou para que Khomeini não intervenha nos assuntos internos do Iraque.
O mesmo ocorreu desde o mês passado no Líbano, com manifestantes nas ruas das principais cidades do país protestando contra a corrupção governamental, a situação econômica e a transferência de verbas para milícias xiitas pró-iranianas no Iraque e a Hizballah, no Líbano.
Estas manifestações anti-iranianas em dois países chaves para a influência iraniana acenderam luzes vermelhas na sede do governo iraniano. Até agora, o regime de Teerã estava sentindo-se vitorioso com sua expansão pelo Oriente Médio e a falta de atitude americana ante suas ações militares. O único país que age sigilosamente e ultimamente mais abertamente contra o maligno regime de Teerã é Israel. O Estado Judeu se vê ameaçado pelas declarações – e ações – abertas dos líderes do Irã.
As sanções econômicas americanas têm certa influência na Faixa de Gaza e também em verbas que abastecem a Hizballah. Apesar de não ter muita divulgação, a pobre população de Gaza está farta do regime da Hamas. Esta semana, forças de segurança foram prender um jovem, que pelo visto acabou jogado pelos policiais da Hamas do terceiro andar e morreu. No seu sepultamento, os acompanhantes gritaram slogans contra Hamas, coisa que geralmente temem fazer. Além disso, as rebeliões populares no Iraque e no Líbano podem incentivar a população iraniana, que sofre de privações pelas sanções americanas, como ocorreu em 2009 e em 2017.
O regime de Teerã contém as rebeliões tanto no Iraque, no Líbano e no Irã à mão da força. O comandante da Força iraniana Quds, Qassem Soleimeni voou a Bagdá e instruiu as autoridades a conter a rebelião a força e dias depois, 150 civis foram mortos. No Líbano, forças da Hizballah bateram nos manifestantes.
Se países como a China, Índia e outros não comprassem o petróleo iraniano, certamente seria mais fácil mudar os rumos da história do Oriente Médio e as ameaças que o mundo sofrerá, seriam contidas.