O gosto amargo do sorvete Ben & Jerry’s
Por Deborah Srour Politis
A fábrica de sorvetes americana Ben & Jerry’s – fundada por dois judeus, Ben Cohen e Jerry Greenfield – é um bom exemplo do que acontece quando a bússola moral perde completamente a direção. E, ativistas que afirmam que não podem ser antissemitas porque são judeus, são tão patéticos que é como dizer que alguém não pode ser desumano porque é humano; ou que alguém não pode ser racista porque é de cor.
Em uma declaração confusa postada online na semana passada, Ben & Jerry’s disse: “Temos uma parceria de longa data com nosso licenciado, que fabrica sorvetes Ben & Jerry’s em Israel e os distribui na região. Temos trabalhado para mudar isso e, portanto, informamos nosso licenciado que não renovaremos a licença dele quando expirar, no final do próximo ano”.
É. Longa data mesmo. 35 anos que Avi Zinger promove e vende a marca em Israel e na Judeia e Samaria. E depois de todos estes anos, ele é descartado, como um sapato velho, porque não quer ter seu direito de vender onde quiser, tolhido.
A empresa disse, no entanto, que “ficará em Israel por meio de um acordo diferente”. Que deturpada virtude corporativa é essa? Os que gostam deste sorvete vão ter agora que contrabandear os potes, atravessando ruas por onde passa a Linha Verde? O que acontecerá com os sabores preciosos feitos especialmente para os palestinos? E mais importante: É essa decisão uma vitória para o movimento que busca boicotar Israel? O que esse movimento conquistou nas últimas décadas?
Desde a criação de Israel em 1948 houve o desejo de boicotar o estado judeu. O boicote árabe criminalizou o comércio com Israel e deixou claro para empresas do ocidente que seus mercados estariam fechados àqueles que vendessem para Israel. É por isso que nestes países não tinha Coca-Cola; só a “Bepsi”. Os árabes ainda usaram o petróleo como arma após a Guerra do Yom Kippur em 1973, criando uma crise mundial, somente para erodir o apoio ocidental a Israel.
Isso pareceu ter algum efeito durante a Guerra Fria, mas não durou. Em 2016, Israel e a Rússia completaram 25 anos do restabelecimento das relações. Novos acordos de normalização com o Golfo Árabe, chamados Acordos de Abrãao, e as novas relações com o Marrocos e o Sudão mostram que Israel está longe de estar isolada. Mas isso não significa que tudo está bem. O ódio ao Estado judeu existe e hoje está mais forte do que nunca.
Em 2012 a ONU divulgou uma lista de 112 empresas “envolvidas” com assentamentos israelenses, e a União Europeia, tem procurado rotular os produtos produzidos além da Linha Verde como produtos de assentamentos, como se isso fosse algo feio.
Em 2004, o movimento BDS alvejou a Soda Stream por ter sua fábrica em Mishor Adumim. Quem perdeu, depois que a empresa se mudou para Israel própria, foram as centenas de trabalhadores palestinos, que recebiam os mesmos salários de Tel Aviv, e que hoje estão na rua. Assim, a maioria dessas campanhas de boicote, ou fracassaram miseravelmente ou prejudicaram o lado que se propunham a ajudar.
Hoje, ONGs que se autointitulam promotoras de direitos humanos, mudaram o discurso e resolveram pregar que todas as áreas que Israel controla são “apartheid”, não apenas a Judeia e Samaria. Esta é a aceitação da retórica extremista de “Palestina do rio ao mar” efetivamente apagando Israel do mapa.
Mas se a Diretoria da Ben & Jerry’s pensou agradar a esquerda e os radicais, se enganou redondamente. O grupo Justiça para a Palestina do estado de Vermont, onde está a sede da empresa, disse que ela não foi longe o bastante. O grupo declarou que “ao manter qualquer presença em Israel, a Ben & Jerry’s continua a ser cúmplice da matança, prisão e expropriação do povo palestino e da violação do direito internacional”. Enquanto isso, o CodePink, um grupo internacional de mulheres de esquerda, elogiou a decisão, mas disse que a empresa deveria fazer mais. Que estava errado a Ben & Jerry’s incluir em sua declaração que manterá uma presença em Israel. “Esperamos que a Ben & Jerry’s continue a ouvir os palestinos e suas demandas e reconheça que o sistema de apartheid de Israel existe não apenas nos territórios ocupados, mas do rio Jordão ao mar Mediterrâneo”. Em outras palavras: não descansarão até que Israel inteira seja destruída.
Mas é precisamente porque o Estado judeu é um dos países mais bem-sucedidos do mundo, um parceiro global para o comércio e investimento, produzindo tecnologia que transforma o mundo, que alguns acham que podem pressionar o governo de Israel a fazer a paz com os palestinos de qualquer jeito, mesmo à custa de sua existência, usando algum tipo de boicote.
Então, na prática, o que isso significa? O PIB de Israel continua crescendo, e o país, apesar de sua pequena população, está indo muito bem em comparação com outros países. As empresas israelenses de alta tecnologia estão recebendo influxos maciços de investimento que ultrapassaram os US$10 bilhões apenas nos primeiros cinco meses deste ano.
Enquanto isso, supermercados e lojas em todos os Estados Unidos, Canadá e até na Austrália, anunciaram que não mais venderão o Ben & Jerry’s e uma campanha na mídia social está pedindo não só o boicote do sorvete, mas da Unilever, dona da Ben & Jerry’s e que o Kof-K retire sua certificação de kashrut da marca.
A Ben & Jerry’s se gaba de seu compromisso com a justiça social. Mas quando mísseis de Gaza choveram sobre sua franquiada israelense e o resto da população civil de Israel em maio, ela não abriu a boca sobre crimes de guerra ou abusos de direitos humanos do Hamas. O silencio foi ensurdecedor. Ou talvez quando não se pode culpar o estado judeu, não conta?
A esquerda tentou fazer a decisão de B&J parecer mais palatável do que realmente é. Mas sua lógica é tão sustentável quanto sorvete deixado fora do freezer num dia quente de verão. De acordo com deles, distinguir entre Israel “propriamente dito” e os territórios além da Linha Verde é um desenvolvimento positivo. Sério? Desde quando isolar um país – ou apenas uma população por causa de sua religião – é uma coisa boa?
Se empresas quiserem evitar fazer negócios em países com disputas territoriais, vão encontrar uma lista de mercados bem curta. Cerca de 150 países estão envolvidos em disputas territoriais / marítimas e / ou conflitos de independência; Nenhum continente se salva.
Os chefões da Ben & Jerry’s podem pensar que entendem a situação, mas o boicote não beneficia ninguém. Mais uma vez, a decisão de suspender as vendas na Judéia e Samaria, não prejudicará os judeus. Prejudicará os trabalhadores palestinos que trabalham para o principal distribuidor local. Será que os palestinos nos “Territórios Ocupados” estão contentes de não mais terem o produto lotado de açúcar (uma bolinha é 300 calorias), disponível nos supermercados locais? Ou será que as lojas palestinas teriam permissão para vender os potes, a venda proibida apenas a judeus? Será que judeus que moram no sul da cidade de Jerusalém continuarão a comer o Ben & Jerry’s, mas os moradores dos bairros no norte da cidade ficarão sem? (Sim, porque “Leste” de Jerusalém, também é um termo complicado.)
O BDS e atos de anti-normalização não fazem nada para trazer a paz. Pelo contrário. Outro exemplo do teatro do absurdo foi a ação das forças de segurança da Autoridade Palestina que prenderam um cantor palestino por ter se apresentado em Ariel, uma cidade judia na Samaria, numa fábrica israelense para seus trabalhadores palestinos. O cantor será julgado por promover a “normalização com Israel”. A Autoridade Palestina ficou chateada porque alguém ousou tentar rebater a difamação do apartheid de Israel.
O movimento BDS se tornou tão ridículo que, em nome da “justiça social, direitos humanos e dignidade”, pressionaram e conseguiram que o Festival Internacional de Filmes de Durban barrasse a participação de Yakie Ayalon simplesmente por ele ser israelense. Ironicamente, Ayalon é conhecido por seus documentários sobre questões sociais, incluindo a situação dos africanos.
Como a história nos mostra, boicotes não funcionam. Nem contra o Irã, a Coreia do Norte ou a Síria. Eles se viram com o que têm. O Irã tem que reformar velhos Boeing 747s, C-130s e F-14s porque, desde os anos 1970, não pode comprar novas aeronaves do Ocidente. Enquanto isso, Israel está voando com os F-35s mais recentes. Se alguém quiser perguntar se o “boicote” resultou em alguma coisa, basta olhar para essas realidades.
O BDS é um movimento fracassado, antissemita e ignorante. Mas independentemente do que aconteça no caso Ben & Jerry’s, este sorvete já deixou um gosto ruim em todos nós.