O assassinato de Ismail Hanyieh
Por Deborah Srour Politis
O assassinato do líder do Hamas Ismail Haniyeh em Teerã, na última quarta-feira, provocou uma onda de condenação internacional, com vários líderes e organizações mundiais condenando o ato como uma escalada perigosa.
A Turquia, que faz parte da OTAN e queria fazer parte da União Europeia, mandou hastear suas bandeiras a meio mastro até mesmo em sua embaixada em Tel Aviv em sinal de luto. De luto por um terrorista.
Mas o melhor foi o Irã, o centro do islamismo xiita, que apesar de estar louco da vida com o assassinato de Hanyeh não só em sua capital Teerã, mas no complexo da sua Guarda Revolucionária, não quis enterrar o mártir que é sunita, em seu país, e despachou seu corpo junto com o de seu guarda-costas para o Catar, para ser enterrado lá. Isso mostra o quanto as duas seitas se odeiam, e o limite de sua solidariedade.
Apesar de Israel não ter reivindicado o ataque que matou Hanyieh, o Irã e seus capangas na região, incluindo o Hamas, prometeram vingança contra o Estado Judeu.
E estranho que até agora os iranianos não tenham chegado a uma conclusão de como Hanyieh foi morto. De acordo com uma investigação feita pelo jornal The New York Times, uma bomba teria sido colocada no quarto de Hanyeh meses atrás.
A própria Guarda Revolucionária Iraniana declarou que ele foi morto por um projétil de curto alcance que levava uns 7kg de explosivos, que fora lançado de fora do complexo.
O jornal inglês The Telegraph, especulou que o Mossad de Israel teria engajado agentes de dentro da Guarda Revolucionária Iraniana para plantar o explosivo no quarto aonde Hanyieh estaria hospedado.
Qualquer que fora o método usado, no entanto, Hanyieh finalmente se juntou no inferno aos outros assassinos que comemoraram o massacre de 7 de outubro.
A onda de condenação do mundo, no entanto, não conseguiu reconhecer a importância desse ato no contexto mais amplo da segurança global e da guerra contra o terrorismo que travamos desde o 11 de setembro de 2001. Uma guerra que Israel trava desde sua criação. Em vez de críticas, o mundo deveria elogiar quem quer que tenha tido a coragem de levar à cabo este ataque.
Por mais de sete anos, Ismail Hanyieh, como líder em Gaza do Hamas, uma organização terrorista reconhecida, orquestrou violência e terror contra civis. Sob sua liderança, o Hamas assassinou milhares de pessoas inocentes.
Seu regime em Gaza foi marcado pela militarização agressiva, o lançamento de mísseis contra Israel e a repressão brutal de adversários políticos, tendo assassinado milhares de membros da Fatah e da Autoridade Palestina em Gaza. E nesta posição, Hanyieh criou muito mais inimigos que amigos. Apesar das expressões de luto, ninguém em Ramallah está chorando por ele.
A aliança de Haniyeh com o Irã piorou ainda mais as tensões na região, porque o Irã forneceu a ele os recursos necessários para a construção de túneis, para a produção de mísseis especificamente para alvejar a população civil de Israel e outras atividades terroristas.
Designado como terrorista por vários países, incluindo EUA, Israel, Canadá e União Europeia, Hanyeh tem um currículo que fala por si só. Seu envolvimento inclui o planejamento de vários ataques terroristas, o uso de homens-bomba, a produção e ataques com mísseis e a orquestração de revoltas violentas, que deixaram um rastro de destruição e tristeza, não só para Israel, mas também para os árabes de Gaza. O Departamento de Estado americano observou especificamente seu papel na desestabilização da região e na contribuição para um clima de medo e violência.
Em março de 2004, Hanyieh orquestrou um duplo ataque de homens-bomba no porto de Ashdod que matou 10 israelenses e feriu dezenas. Durante a Operação Margem Protetora, em 2014, sob o comando de Hanyeh, mais de 4.500 mísseis foram disparados de Gaza contra Israel.
Haniyeh desempenhou um papel critico no planejamento e implementação da “Grande Marcha do Retorno” em 2018, que envolveu dezenas de milhares de moradores de Gaza tentando romper a fronteira com Israel. Embora enquadrados como protestos pacíficos, muitos desses eventos se tornaram violentos, com participantes armados atacando soldados e civis israelenses.
Esta campanha resultou em inúmeras mortes e ferimentos. Além disso, o Hamas, sob a liderança de Haniyeh, foi responsável pelo sequestro de soldados israelenses. O caso mais notável foi o sequestro de Gilad Shalit em 2006, que foi mantido em cativeiro por mais de cinco anos antes de ser libertado em um acordo de troca de prisioneiros. Um acordo que libertou entre outros sanguinários, Yahya Sinwar, hoje comandante militar do Hamas em Gaza.
E Hanyeh também patrocinou a chacina de 7 de outubro. Em seu pronunciamento sobre o massacre ele declarou exultante: “Devemos nos agarrar à vitória que ocorreu em 7 de outubro e aproveitá-la”. “Há um jihad de palavras, mas chegou a hora do Jihad da espada”. “O povo palestino deve se unir, na Jordânia, na Síria e no Líbano e precisa intensificar o confronto contra Israel” e para não deixar a parte religiosa para trás, ele conclamou seus seguidores em Gaza dizendo “Khaybar, Khaybar, ó judeus! O exército de Maomé voltará. A Palestina é do rio ao mar e nunca, nunca reconheceremos Israel!”.
Vários países, incluindo os EUA, Egito e Catar, expressaram a preocupação de que o assassinato de Haniyeh prejudicaria as negociações de paz em andamento e aumentaria as tensões regionais. O Ministério das Relações Exteriores do Egito, que mantém uma fronteira fechada com Gaza, rotulou o assassinato como uma “escalada perigosa”. Aliás, hoje pela manhã, o exército de Israel anunciou a descoberta de dúzias de túneis na fronteira de Gaza com o Egito inclusive um com três metros de pé direito. Enquanto isso o Catar condenou o assassinato como um “crime hediondo” e uma “violação flagrante do direito internacional e humanitário”. Nenhum deles, no entanto, reconheceu as implicações de permitir que um líder terrorista opere com impunidade e de seu território.
É essencial reconhecer que se foi realmente Israel quem eliminou Hanyeh, sua ação não foi um ato de agressão, mas de autodefesa. Eliminar Haniyeh envia uma mensagem sólida para organizações terroristas em todo o mundo: seus líderes não estão fora de alcance. Nem mesmo em Teerã. Este ato demonstra as capacidades avançadas de inteligência de Israel e seu compromisso inabalável em neutralizar ameaças à sua segurança nacional e à segurança de seus cidadãos.
Por outro lado, a comunidade internacional deve considerar quem se alinha com indivíduos como Haniyeh. Aqueles que o veem como um amigo ou aliado são, na verdade, parceiros do terrorismo e de terroristas. O mesmo vai para aqueles que se alinham, e se sentam na mesa com seu patrocinador, o Irã, e seus procuradores os Houtis, o Jihad Islâmico, e a Hezbollah.
O fato de que o assassinato de Haniyeh poderá atrapalhar as negociações de paz e provocar mais violência, é possível a curto prazo. Mas precisamos olhar os benefícios de remover uma figura tão importante a longo prazo. A morte de Haniyeh abala a estrutura de liderança do Hamas e diminui suas capacidades operacionais, enfraquecendo assim sua capacidade de realizar ataques futuros.
Além disso, esse assassinato se alinha com o esforço global mais amplo para combater o terrorismo. O Ocidente, particularmente nações como os EUA, que foram vítimas e continuam a serem alvo do terrorismo, devem entender a necessidade de tais ações. A luta contra o terror requer uma frente unida e uma disposição para tomar medidas decisivas contra aqueles que perpetuam a violência e o caos.
Foto: Khamenei.ir, CC BY 4.0 (Wikimedia Commons)