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Novo Oriente Médio?

Por David S. Moran

Quantas vezes ouvimos esta pergunta? Agora, mais uma vez, algo está em movimento no Oriente Próximo. Síria. Em 8 de dezembro, 2024 o regime ditatorial da família Assad que governou o país caiu, depois de 54 anos. O novo regime foi criado por um terrorista, Ahmed Al Sharaa, o Al Julani (foto), que muito rápido trocou as fardas de terrorista de uma facção da ISIS – o Estado Islâmico do Iraque e Síria – por terno e gravata.

Mas, terrorista continua sendo terrorista, como no conto do sapo que a pedido leva o escorpião de um lado a outro do rio, mas no meio sente uma picada. Antes de morrer e se afogar junto ao escorpião o sapo lhe pergunta, porque? e o escorpião lhe responde: “este é o meu caráter” e morre afogado com o sapo.

As forças de Al Julani, nestes dias, depois de bater e torturar sírios da religião de Assad, os alauitas, que são cerca de 12% da população síria, assassinaram cerca de 1.000 crianças, mulheres e homens. Os alauitas, que vivem, principalmente, na região costeira da Síria foram pedir ajuda de… Israel, pedindo que os proteja. Até há pouco, o regime dos Assad era ferrenho inimigo de Israel e aliado do Irã. Agora, os alauitas recorrem a Israel.

Os curdos do noroeste da Síria, que são perseguidos até pela Turquia, também recorrem à ajuda de Israel. Os curdos – entre 30 e 40 milhões, a maior minoria do mundo – estão espalhados desde o Irã, Iraque, Síria e até a Turquia, e não têm Estado próprio. Israel tenta ajudar os curdos desde a década dos anos 50 do século passado. Nesta semana, foi noticiado que o líder das FDS (Forças Democráticas Sírias) e o novo presidente sírio, Al Julani assinaram acordo de cessar fogo e integração da autonomia curda à “nova Síria”. Por seu lado, os curdos lutarão contra os remanescentes do regime Assad e em todas as ameaças à segurança do país.

Os drusos. Jovens da maior cidade drusa do mundo, Suweida, no sul do país, hastearam a bandeira de Israel. A saber que os drusos são uma minoria que vive em Israel, na Síria, Líbano e Jordânia. Eles são leais aos governos onde vivem. Mesmo depois que Israel conquistou o Planalto do Golan, da Síria em 1967, os drusos que lá habitavam continuaram fieis ao regime sírio, também por receio que Israel devolvesse a região aos sírios. Por isto foi muito estranho que drusos sírios quisessem a proteção de Israel. Mesmo por Netanyahu ter dito que não permitiria que forças do novo regime sírio entrassem na região ao sul de Damasco. O governo israelense, atendendo aos irmãos drusos de Israel, que também servem as Forças de Defesa de Israel, disse que permitiria trabalhadores drusos da Síria entrarem para trabalhar em Israel. Na semana que vem, virão 100 líderes religiosos drusos sírios visitar lugares sagrados em Israel e visitar familiares que vivem no país. Ao mesmo tempo foi noticiado que os drusos também chegaram a um acordo com o novo governante sírio.

Israel teme que forças terroristas sigam para o sul da Síria e se instalem junto à fronteira com Israel e, por isso, suas forças continuam a bombardear arsenais ali estocados ainda do antigo regime e adverte o atual regime a não enviar forças ao sul de Damasco. Forças rebeldes da Síria no sul do país podem se tornar ameaça à estabilidade do regime jordaniano, que tem a mais extensa fronteira com o Estado Judeu. Ao mesmo tempo, Israel advertiu a Turquia a não instalar quartéis na Síria para suas tropas que já ocupam parte do norte da Síria. A Turquia, que já foi grande aliada de Israel, desde a instalação do regime islâmico radical de Erdogan, tornou-se rival e até adverte Israel. Só nesta semana, impediu com seu voto que tem poder de veto, a participação de Israel em exercícios da OTAN, dos quais sempre participou.

Tropas de Israel estão na mais elevada montanha da região, o Hermon sírio à altura de 2.817 metros, que está localizada a apenas 37 km de Damasco e 14,5 km da fronteira israelense. Daí se vê o sul do Líbano e a região de contrabando de material bélico e outros produtos, da Síria ao Líbano e também a base israelense do Hermon, na altura mais baixa.

O Líbano. Depois de dois anos, agora, tem um presidente, Michel Aoun, cristão, como rege a Constituição libanesa e que foi durante 8 anos o Comandante das Forças Armadas do país (impotentes). Agora com a derrota do Hezbollah e sem o seu carismático líder, se ele souber contornar os problemas étnicos do país poderá se beneficiar com a ajuda israelense. Os dois países estão negociando a demarcação de suas fronteiras. Israel, num gesto de boa vontade, libertou cinco presos libaneses pegos nos últimos meses.

O Irã. Este país sob o regime dos retrógrados aiatolás sofre sanções. Suas proxies – o Hezbollah, o Hamas e a Jihad Islâmica – foram derrotadas por Israel. O país vive em tal pobreza que só as forças armadas os mantêm no poder, diante da insatisfação popular. Este regime está no poder desde 1979 e, quando cair, poderá trazer nova esperança ao Irã e à região.

Os Houtis. Controlam parte do Iêmen e são a última esperança do Irã. Eles ameaçam Israel e também o mundo livre de não permitir a passagem de navios para atravessar o Canal de Suez, pois controlam a entrada de Bab al Mandeb, que encurta a viagem de produtos do Oriente ao Ocidente. Forças americanas estão nas redondezas e mesmo a aviação israelense já atacou instalações militares dos Houtis em represália a bombardeamentos que partiram do Iêmen.

Já foi noticiado que a Arábia Saudita tem interesse em manter relações com Israel, depois de resolver o problema do Hamas e dos palestinos. Tudo isto leva a crer que no Oriente Médio, onde tudo é imprevisível, poderá ocorrer uma verdadeira revolução. Depois de 77 anos, os países árabes próximos e longínquos começam a entender que Israel é real e está aí para sempre. Todos os lados envolvidos só poderão ganhar se a paz real se concretizar.

Às margens das notícias da chacina do novo governo sírio contra os alauítas. Não se viu manifestações de entidades internacionais dos Direitos Humanos protestando, nem a ONU emitiu qualquer repúdio e os gloriosos estudantes que tanto se preocupam quando Israel se defende e mata palestinos, ficaram quietos nestas matanças de inocentes civis árabes. O mundo não se importa quando árabes matam árabes? Por que eles não são seres humanos? A França emitiu nota de repúdio contra a violência, sem mencionar quem a comete. A União Europeia condenou os alauitas pelo ataque cometido na quinta-feira (06/03) contra o novo regime. Não se deu ao luxo de condenar o abuso em pessoas vivas e mortas e saques cometidos pelas forças governamentais, nem pelo rapto de jovens e mulheres para escravizá-los. Os jihadistas continuam jihadistas, a troca da “galabia” pelo terno e gravata não os modifica.

“No Jews, no News” (sem judeus envolvidos, não há notícia).

Foto: Amrmilno (CC BY-SA 4.0)

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