Novamente, alianças se formam, pró e contra
Por David S. Moran
A aliança de Israel com os Estados Unidos recebeu reforço com a calorosa visita do presidente americano, Joe Biden a Israel. Aqui passou três dias encantando a todos e, na sexta passada, esteve algumas horas no Hospital Luterano Augusta Victoria, em Jerusalém Oriental. Depois foi a Beth Lehem (Belém), próximo a Jerusalém, onde encontrou o líder palestino, Mahmoud Abbas.
Mal subiu a escadaria do Air Force 1 em direção a Arábia Saudita, o Hamas levantou a cabeça e lançou quatro misseis em direção a Israel. Três caíram em áreas abertas, um foi interceptado no ar pelo Domo de Ferro. O revide israelense foi imediato. A Força Aérea alvejou e destruiu um arsenal de explosivos. Também foi congelada a autorização para 1.500 trabalhadores de Gaza, adicionados aos 14.000 que já tem permissão para trabalhar em Israel.
Outra proxy do Irã, a organização terrorista Hizballah, não pode ficar atrás, depois de destruir o Líbano, lançou avião não tripulado (ANT) em direção a plataforma de extração de gás, nas águas territoriais de Israel. Hizballah teme que as negociações de Israel com o governo do Líbano cheguem a bom termo para levantar a falida situação econômica do país e a organização perderia seu poder.
Voltando a Biden. Chegando na sexta-feira (15) a noite a Arábia Saudita, foi pouco humilhado, sendo recebido por autoridades de segundo grau. No palácio real, quando encontrou o (desafeto) príncipe regente, Mohammed Bin Salman (MBS), foi com a aproximação de punhos fechados.
No sábado (16) foi realizada em Jedah a conferencia dos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Jordânia, Egito, Iraque e Bahrein com Biden visando formar uma organização tipo OTAN, para defender os países ameaçados pelo Irã. O presidente Biden, em separado, tratou do aumento da produção de petróleo saudita para baixar o preço do petróleo. Recebeu promessa, mas há dificuldade na capacidade de extração.
Ao mesmo tempo, cada um dos países árabes presentes à reunião com Biden, dialoga com o “satanás” Irã, tratando de reatar relações diplomáticas e baixar o perigo da ameaça nuclear iraniana, ou mesmo de ataque de suas proxies na área, como os houtis no Iêmen. Um obstáculo nesta aliança, que teria também Israel, como parceira, é a Jordânia e os palestinos. A Jordânia quer juntar os palestinos como parceiros, mas estes são contrários aos Acordos de Abrão e juntando-os, seria obstáculo para Israel..
Na terça-feira (19), o “eixo do mal” reuniu-se em Teerã, com a presença dos líderes da Rússia, Putin, da Turquia, Erdogan, e do Irã, Khamenei. Estes trataram de acertar suas atividades na Síria, além dos assuntos econômicos e bilaterais. Falou-se que a Rússia teria interesse em comprar ANT de ataque do Irã, já que os seus não tem sucesso na Ucrânia. Apesar dos sorrisos, o presidente turco deu troco ao presidente russo. Putin esperou por Erdogan por alguns instantes, demonstrando nervosismo pelo atraso do turco. Talvez tenha lembrado que quando Erdogan esteve em Moscou, Putin o fez esperar por longos minutos. A mídia turca festejou.
Israel, que se alinhou com a Ucrânia ante a invasão russa, já está começando a sentir o peso da mão russa. O governo russo está querendo parar a atuação da Agência Judaica no país. Outra possível sanção poderá ser restringir as operações da Força Aérea de Israel contra as tentativas de estabelecimento de forças iranianas na Síria. Estas medidas são malignas para Israel. Por outro lado, a Turquia pediu atuação livre para atacar áreas curdas no norte da Síria.
Ao mesmo tempo, Kamal Harazi principal conselheiro do líder iraniano, Khamenei, em entrevista a Al Jazeera (19) revelou que seu país tem a capacidade técnica de aumentar facilmente o enriquecimento de urânio de 60% para 90%, “mas ainda não decidimos por isto”.
Esta declaração pode ser interpretada como a disposição do Irã em dialogar com a Arábia Saudita, EAU, Bahrein, Egito e a Jordânia. A saber que a Agência Internacional de Energia Atômica publicou um relatório no mês passado informando que o Irã aumentou o seu estoque de urânio enriquecido de 9,9 kg para 43,1 kg, infringindo o acordo nuclear com as potências. Para produzir uma bomba atômica são necessários 55 kg de urânio enriquecido em 90%. Mesmo assim levaria, cerca de dois anos para o Irã desenvolver o delicado e complicado mecanismo para explodir tal bomba.
Resumindo estas alianças de pró e contra. Biden reafirmou que os EUA se posicionam ao lado de Israel, um Estado Judeu e democrático. Manteve encontros amigáveis com o Primeiro-Ministro israelense, Yair Lapid e com o Presidente, Issac Herzog. Sim, foi a Jerusalém Oriental, sem presença de autoridade palestina e se encontrou com Mahmoud Abbas, para demonstrar que se importa com os palestinos. Recusou abrir um consulado separado em Jerusalém para os palestinos. No discurso final, também lhes criticou dizendo que a corrupção na Autoridade Palestina tem que terminar.
Na Arábia Saudita, o príncipe regente, MBS, não se intimidou do presidente americano. Quando este lhe acusou de ter matado o jornalista Khashoggi na Turquia, MBS lhe respondeu que os americanos cometeram torturas em Abu Ghraib, no Iraque e não determinaram quem matou a jornalista palestina Shireen.
Do outro lado, parece que a Rússia se coloca no lado oposto ao de Israel. Putin, não perdoa a posição israelense contra a matança que realiza na Ucrânia. Putin com Erdogan parecem apoiar e tirar o Irã do ostracismo imposto pelo Ocidente. O presidente turco, que é islamista e até pouco tempo era hostil a Israel e aos EUA, mesmo fazendo parte da OTAN, fez uma meia volta. Agora falta ver para que lado o vento turco sopra. Uma lição que Israel já sabe e volta a entender, é que tem que confiar só em si mesmo.
Foto: COP26 (Flickr). O presidente dos EUA, Joe Biden, e Mohammad Shtayyeh, primeiro-ministro da Autoridade Palestina, conversam em uma recepção da COP26 na Kelvingrove Art Gallery, Glasgow