Na Conferência de San Remo foi criado o Estado de Israel
Por David S. Moran
A Conferência de San Remo comemora 100 anos. Anteontem, pelo calendário judaico, 5 de Iyar, 5780, o Estado de Israel comemorou os seus 72 anos de Independência. Quando tratamos dos passos que levaram à criação do novo Estado de Israel, referimo-nos principalmente à Bíblia, ao Sionismo moderno criado por Theododr Herzl (1897), à Declaração Balfour (1917) e ao Plano da Partilha (1947).
Houve outros passos importantes e infelizmente, um dos mais importantes, que cai no esquecimento, é a Conferência de San Remo, na Itália, reunida em abril de 1920, e composta pelos países vencedores da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Na Vila Devachan, nesta cidade de veraneio italiana, reuniram-se representantes das maiores potências mundiais, da época: o Primeiro Ministro inglês, Lloyd George, o Primeiro Ministro francês, Alexandre Millerand, o Primeiro Ministro italiano, Francesco Nitti e representantes do Japão, Bélgica, Grécia e EUA. Ali se reuniram para estabelecer a nova ordem mundial e repartir os territórios que conquistaram dos vencidos, o Império Otomano (Turquia), o Império Áustro-Hungaro e a Alemanha.
Na parte que mais nos interessa, a partição do Império Otomano no Oriente médio, que durou desde 1517 até 1917, a Conferência de San Remo é da maior relevância. A importância da Declaração Balfour é o reconhecimento da grande potência, a Inglaterra, ao direito do povo judeu em reconstruir e ter seu Lar Nacional na Palestina, na região recém-conquistada do Império Otomano, cujo vasto território ia desde o Mar Mediterrâneo até o Iraque. No entanto, em San Remo, as potências e a Liga das Nações (que precedeu a ONU) deram aval jurídico ao direito do povo judeu em retornar ao seu Estado histórico e ter um Lar Nacional com fronteiras reconhecidas.
A Palestina, sob o domínio do Império Otomano, era um distrito sem importância. A região era desértica e de pequena população. Na Conferência de Paris, em janeiro de 1919, que foi preparatória para a de San Remo, participaram também o Movimento Sionista, através do Dr. Chaim Weizman e uma delegação árabe, representada na pessoa do Emir Faisal, de família Hashemita. Era o filho do Sharif de Meca, Hussein, que se auto proclamou o “rei dos árabes”. Faisal foi o rei da Grande Síria (Al Sham) e depois do Iraque. Seu pai, Hussein liderou a grande rebelião árabe contra o Império Otomano e recebeu como recompensa enorme território dos ingleses a quem ajudou na luta contra os otomanos. Ele também abençoou a intenção dos judeus de construir um Lar Nacional em Eretz Israel.
A Conferência de Paris durou um ano e foi encerrada com a criação da Liga das Nações e 40 acordos, remodelando a Europa. Todavia não chegaram a tratar do Oriente Médio e por isso marcaram continuar em San Remo, quatro meses depois.
Os árabes, liderados pelo Emir Hussein, receberam dos ingleses a maior parte do território conquistado do Império Otomano e assim criaram o Líbano, a Síria e o Iraque. Na Conferência de San Remo as potências vencedoras, ouviram e aceitaram as exigências apresentadas pelos líderes judeus de reconstruir o Lar Nacional judaico, após 2.000 anos. Adicionaram também a Declaração Balfour, entregue em 2 de novembro de 1917.
A Inglaterra, por motivos políticos, resolveu excluir do território entregue ao Mandato a região da Transjordânia, até que os habitantes da região estivessem em condição de criar Estados Independentes. Esta região, ao leste do Rio Jordão, acabou tornando-se a Jordânia. Os árabes receberam 99% do que foi o Mandato Britânico e foram formados: Jordânia, Líbano, Síria, Iraque, Arábia Saudita e os Emirados Árabes do Golfo Pérsico. Os judeus ficaram com apenas 1% do território do Mandato.
A França, até pouco antes destas conferências, considerava o Emir Faisal persona non grata proibindo sua entrada em seu território. Após a nova formação de estados e fronteiras, temendo os franceses, o Emir abriu mão do Líbano e da Palestina, mas insistiu em ficar com Al Sham, como era conhecida no passado a região da Grande Síria. Depois, a França e a Inglaterra se acertaram e a França ficou com a Síria e o Líbano.
A Conferência de San Remo determinou que o Movimento Sionista seria o representante do povo judeu para a criação do Estado Judeu. Em 26 de abril de 1920, o renomado jornal inglês “The Times” publicou: “Após 2000 anos, os judeus começaram a trabalhar na reconstrução de sua antiga pátria, sob governo estável e civilizado. Os judeus finalmente terão sua Pátria”.
O atestado moral e histórico dos judeus sobre o Estado de Israel é a Bíblia. As resoluções adotadas em San Remo deram aval jurídico das nações do mundo a esta ligação histórica do povo de Israel com a Terra de Israel. Foi um reforço ao que todos os monoteístas reconhecem. O povo judeu é ligado à Terra de Israel, desde a época do patriarca Abrão. Ali reinaram seus reis e construíram os dois Templos. Em direção a Jerusalém rezam os judeus em qualquer parte do mundo.
Vale a pena destacar a Conferência de San Remo, cujo centenário é comemorado nestes dias, pois é lá que foi outorgado judicialmente aos judeus o reconhecimento dos seus direitos nacionais para a reconstrução do seu Lar Nacional, em Eretz Israel. Ao mesmo tempo, preservaram os direitos civis e religiosos aos não judeus que vivem na região, mas não lhes foram outorgados direitos nacionais sobre a terra. No Conselho da Liga das Nações, em 24 de julho de 1922, as resoluções aprovadas em San Remo foram ratificadas.
Muitos anos depois, o líder Sionista, Dr. Chaim Weizman, que depois veio a ser o primeiro Presidente de Israel, disse: “Na Conferência de San Remo foi criado o Estado de Israel”.
Foto: Domínio público, via Wikipedia
Parabéns David Moran pelo ótimo texto lembrando o que muitos desconhecem. O Estado de Israel foi aprovado na Conferência de São Remo, porém, Abdel R. Kader deixou registrado em seu livro que os 80% de Eretz Israel foram doados ao irmão desempregado de Faisal numa noite em que ele pernoitou naquela terra mas o objetivo dele era chegar na Síria e pedir um emprego ao rei Faisal. Obviamente surpreso aceitou o presente.