Mudanças no turbulento Oriente Médio
Por David S. Moran
Pouco antes da meia-noite da quarta (3), agências de notícias da Síria haviam informado que Israel estava atacando com mísseis do Golan. Os alvos seriam forças da Hizballah no Golan Sírio e em outras áreas e também armazéns nas redondezas do Aeroporto de Damasco. Na mídia israelense o caso não teve repercussão.
Algumas horas antes, a Hizballah atirou um míssil antiaéreo tentando abater um drone israelense, que sobrevoava o sul do Líbano. Este caso é raro, o único precedente foi em outubro de 2019. Nos dois casos, a Hizballah não teve sucesso. Imediatamente, começaram especulações se Israel revidaria e como.
A tensão está aumentando na região, pelo receio de que o Irã esteja avançando rumo ao poderio nuclear mais rapidamente do que se supunha e agora tem o apoio informal do recém-empossado presidente Biden.
Como de praxe, o novo presidente, quando entra na Casa Branca, liga para os líderes dos países aliados e os importantes. No entanto, Biden, mesmo depois de duas semanas ainda “não achou o tempo” para ligar ao Primeiro Ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Este fato é, pelo menos, duplamente perturbador. Foi Netanyahu que alertou do perigo nuclear iraniano, posicionou-se contra o acordo das potências com o Irã e agiu contra o plano iraniano. Segundo várias informações, provavelmente agiu contra a corrida nuclear iraniana com a introdução do vírus Stuxnet, eliminação de cientistas nucleares iranianos, explosões misteriosas em reatores iranianos e a famosa e dramática apresentação do Netanyahu dos CDs e do arquivo nuclear trazido a Israel de Teerã.
Na semana passada, o atual Chefe do Estado Maior Militar, Tenente-general Kochavi, advertiu a população israelense e o Irã, da possibilidade de ação e reação dos aliados do Irã contra a população civil de Israel. Os americanos, que estão sintonizados com Israel e diziam que o governo israelense está exagerando, agora também admitem, mesmo na pessoa do Secretário do Estado, Antony Blinken, em entrevista à NBC. Blinken disse: “o Irã tem bastante urânio para, em semanas, fabricar armas nucleares, se continuar violando (como admite) e enriquecer o urânio de 3,34% para 20%”.
Até a Agência Internacional de Energia Atômica, que em relação ao Irã, caminha como se pisasse sobre ovos, admitiu que o regime clérigo dos aiatolás está violando o acordo de 2015 e operando centrífugas da segunda geração.
O Irã, que já estava na lona economicamente pela queda no preço do petróleo, pelas sanções impostas pelos EUA e pelos enormes gastos alimentando a belicosidade e o ódio de suas proxies, agora retomou a cor na face, já que o então vice-presidente americano, Joe Biden, estava com Obama, a favor do acordo com o Irã, e disse que vai retornar a negociar como os aiatolás. Num passo visível, enquanto o governo do Trump enviava bombardeios B-52 e porta aviões ao Golfo Pérsico e com reforço de submarino israelense, Biden já ordenou a retirada do porta-aviões Nimitz da região.
Há muitos anos que os governos americanos querem fazer retornar suas forças de guerras inúteis e não conseguem. Trump, logo de entrada, falou que ia fazê-lo. A realidade lhe esbofeteou e ele até enviou mais forças. A guerra no Afeganistão, com muitas vítimas fatais americanas, sem mencionar os custos materiais e as consequências psicológicas à sociedade americana, é a guerra mais longa dos EUA e não tem fim.
O presidente Biden tem que entender rapidamente a “real politics” mundial. Ele bem sabe que os países árabes do Golfo Pérsico não morreram de amores repentinos por Israel. Eles entenderam que os únicos confiáveis para lhes ajudar são os judeus, que têm o mesmo inimigo: os xiitas do Irã. Este – que de muito tímido no passado e que lutou contra o Iraque xiita quando era governado pelo regime sunita de Sadam Hussein (mais de um milhão de mortos), com a ajuda americana (eliminou o Sadam) – domina hoje praticamente o Iraque, novamente com a ajuda americana no combate contra o Estado Islâmico – Daesh (sunitas) – que deu armamento a rebeldes, mesmo os xiitas. Quando o Daesh foi sendo derrotado, os aiatolás foram avançando. A Síria despedaçada, agora tem influencia do Irã, que chega desde o Golfo Pérsico até o Líbano, através da proxy Hizballah.
A Arábia Saudita teme que os houtis (xiitas) do Iêmen conquistem o país, de maioria e governo sunita e, daí, avancem sobre seu país. Eles já derrubaram o governo e do ponto estratégico, podem lançar mísseis até Israel, sem mencionar o fechamento desta via marítima importante. Se o governo Biden quiser negociar com o Irã, terá que suar muito, pois lida com o povo que melhor negocia e olha alguns passos adiante. Afinal de contas, foram os persas que inventaram o jogo do xadrez.
Os países árabes do Golfo Pérsico, inclusive a Arábia Saudita, já há décadas que têm certas relações com o Estado de Israel. Mais visíveis, menos visíveis, quando estão sendo guiados pelo provérbio: “os inimigos do meu inimigo, são meus amigos”.
Na próxima semana relatarei o processo da composição dos partidos e das eleições que serão realizadas em março.
Pois é , vocês que falavam mal do melhor amigo de Israel, Donald Trump, agora vão sentir saudades dele!
Querida. Quem são vocês? eu sou só uma pessoa. É melhor ler antes de comentar. Inúmeras vezes escrevi que o Trump foi o melhor presidente americano para com Israel. Ao mesmo tempo posso acha-lo arrogante e tolo. Não terei saudades dele.