Manifesto para uma Antropologia Pública
Por Janine Melo
Hoje eu abri o noticiário, como faço todos os dias desde que a pandemia começou, para ouvir a mesma frase que eu sempre ouço: “A maior taxa de contaminação está entre os ultraortodoxos e os árabes.” Haredim e árabes, dois lados da mesma moeda social convergindo para ilustrar uma só coisa: a face vermelha da sociedade israelense.
Eu gostaria de sugerir um prisma diferente para olhar nossa pequena e complexa sociedade, um prisma que, espero, ofereça soluções para a situação social na qual nos encontramos em vez de apontar o dedo, culpando “o outro”.
Meu prisma é observar a estrutura social. Pesquisadores de muitas disciplinas inventaram diferentes abordagens para o estudo das estruturas sociais, antropólogos interpretativos como Victor Turner, que propôs uma análise sobre como cerimônias culturais podem explicar o fortalecimento (e às vezes o enfraquecimento) de uma sociedade.
Nós israelenses, por exemplo, temos inúmeras cerimônias pelas quais damos sentido às nossas vidas: cerimônias religiosas (circuncisão, bar/bat mitzva, etc.), Dia da Memória do Holocausto, Yom HaZicaron e Dia da Independência, cerimônia para comemorar o alistamento no IDF, cerimônia de fim de Tironut, cerimônias de final de vários tipos de cursos, até mesmo a comemoração do fim do Shvil Israel (a Trilha de Israel) pode ser vista como um tipo de cerimônia, na qual identidades sociais são formadas (o sabra israelense que itinera pelo país!). Eu digo “nós israelenses”, mas me refiro apenas a uma parte dos cidadãos deste país.
Como sabemos, há populações inteiras em Israel que não participam dessas cerimônias. Os ultraortodoxos e árabes não celebram a independência de Israel, não se alistam no exército, eles não veem seus filhos completarem trilhas e não se preocupam quando suas filhas viajam para sua “grande viagem” para a América do Sul. Eles fazem parte de sociedades diferentes, fechadas, nas quais as cerimônias internas que acontecem dizem respeito exclusivamente a eles.
Portanto, árabes e ultraortodoxos não participam da sociedade israelense. Eles são separados e, portanto, como muitos sociólogos e antropólogos explicaram, sua lealdade e seu senso de solidariedade se dirigem apenas a sua sociedade, e não a todo o Estado de Israel.
Podemos – e de fato vemos que a mídia e as redes sociais fazem isso perfeitamente – culpá-los. Ou, em dez disso, podemos internalizar a profunda fenda que existe na sociedade e tentar preencher esta lacuna. Como? Não sei. Mas cientistas sociais provavelmente podem nos sugerir novos caminhos a serem seguidos.
Ouvimos políticos, economistas, médicos e diretores de empresas todos os dias, mas as pessoas que podem explicar a raiz dos problemas do ponto de vista estrutural-social não. Portanto, eu peço com este humilde apelo que nos comportemos de maneira diferente: é possível liderar mudanças na sociedade por meio da sociologia e da antropologia – basta apenas começar a ouvir os especialistas. E ler. Muito.
Na foto: os antropólogos Pnina Motzafi-Haller, Nir Avieli e Erik Cohen em uma convenção da Associação Antropológica Israelense.
O artigo é pura demagogia, cheio de dogmas que não existem fora do âmbito imaginário da autora que faz questão em generalizar eventos e tornar suas ideias em fatos.
O artigo é baseado em nada mas a opinião da autora que não tem conhecimento profundo com a sociedade israelense
Creio que basta a frase da autora:”Portanto, árabes e ultraortodoxos não participam da sociedade israelense. Eles são separados” para provar sau profunda ignorância do assunto e o uso de generalização para “comprar” o leitor
Olá Tzvi,
Não entendi em base do quê você escreve que eu não tenho conhecimento da sociedade israelense. Sou graduada em ciências socias pela universidade de Ben Gurion, estou estudando meu mestrado em antropologia, já morei em diversos lugares no país nesses 12 anos de vida aqui e sempre estou lendo e me informando sobre o que acontece.
De qualquer forma, obrigada pela crítica, eu gosto de ver que o que eu escrevo incomoda quando deve. O objetivo obviamente não foi fazer uma “demagogia”, mas cada um vê o que quer ver. Bom dia.