Mais uma desfeita de Kamala Harris
Por Deborah Srour
Na terça-feira passada, durante uma discussão com estudantes no Dia Nacional de Registro de Eleitores, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, não contestou um comentário feito por uma estudante da Universidade George Mason, na Virgínia, que acusou Israel de “genocídio étnico”. Harris ainda fez questão de defender o direito da estudante de dizer o que quisesse.
A estudante se identificou como parte iemenita, parte iraniana e “não americana”. Só este fato teria sido o suficiente para não a admitir num fórum para promover o registro de eleitores. Mesmo assim, depois de ter declarado que ela não era americana, ela expressou indignação pelo financiamento americano do Domo de Ferro para Israel.
Ela disse que a América afeta sua vida “todos os dias” devido ao financiamento militar que dá à Arábia Saudita e Israel.
Ela disse à Vice-Presidente: “Você mencionou como o poder das pessoas, as manifestações e a organização são muito valiosas na América”, disse ela. “Mas vejo que durante o verão houve protestos e manifestações em números astronômicos sobre a Palestina. Mas, apenas alguns dias atrás, fundos foram alocados para continuar apoiando Israel, o que dói meu coração porque é genocídio étnico e expulsão de pessoas, o mesmo que aconteceu na América, e tenho certeza de que você está ciente disso”.
Como se a América tivesse cometido genocídio étnico e expulsado pessoas.
A estudante questionou por que dinheiro estava indo para Israel e Arábia Saudita em vez de ser aplicado em questões sociais na América.
“As pessoas têm falado com frequência do que precisam e sinto que falta alguém para ouvi-las, e sinto que preciso trazer isso à tona, porque afeta minha vida e as pessoas com quem realmente me preocupo”, ela disse.
A estudante parecia estar se referindo aos protestos em maio durante o conflito de Israel com Gaza, e depois à aprovação esmagadora da Câmara dos Representantes dos EUA na semana passada de US$ 1 bilhão para reabastecer o sistema antimíssil Domo de Ferro de Israel, que foi praticamente esgotado durante o conflito.
Realmente, não sei o que esta garota está fazendo estudando numa universidade americana. Em vez de agradecer mil vezes por não estar nem no Iêmen, nem no Irã.
Durante todo o tempo, Harris acenou com a cabeça e em resposta, disse que estava “feliz” pela aluna ter falado.
“Sua voz, sua perspectiva, sua experiência, sua verdade não podem ser suprimidas e devem ser ouvidas”, disse ela. Sua verdade??? E aí temos. Hoje cada um pode inventar a sua verdade independente se ela é baseada em fatos ou em mitos. Ou pior, em mentiras.
Harris disse que a democracia é mais forte quando todos participam e mais fraca quando alguém é deixado de fora.
Sobre a referência da estudante à política do Oriente Médio, Harris disse: “Ainda temos debates saudáveis em nosso país sobre qual é o caminho certo, e a voz de ninguém deve ser suprimida sobre isso”.
A falta de resposta de Harris para a aluna se tornou a mais recente crise de seu gabinete, que enfrentou um verão turbulento, depois da visita da Vice à América Central quando disse aos migrantes da Guatemala para não irem para os Estados Unidos.
O ex-embaixador dos EUA em Israel, David Friedman, expressou indignação com as declarações de Harris, tweetando: “Vergonhoso. Existe verdade e existem mentiras. Ninguém tem direito à sua verdade pessoal. Este ataque a Israel é simplesmente uma mentira e a Vice Presidente deveria ter, no mínimo, denunciado isso”.
E ele tem razão. A verdade é somente uma. Não posso ter a minha verdade sobre a inexistência de um evento ser diferente da verdade de outra pessoa sobre a existência dele. Não posso dizer que a minha verdade é que está chovendo quando está o maior sol lá fora. Isto não é uma verdade diferente. É simplesmente uma mentira.
A verdade para Harris é que progressistas e radicais de seu partido, como o quarteto e outros ativistas, têm pressionado os democratas a adotar uma postura mais crítica em relação a Israel, que há muito goza de apoio bipartidário em Washington. E há uma razão para isso.
O dinheiro alocado para o Domo de Ferro não é pago para Israel, mas para a indústria americana que o produz. E Israel e os israelenses são as cobaias para testes destes equipamentos antes deles serem usados nos Estados Unidos. Imaginem se não tivessem funcionado!
Outros líderes judaicos e muitos canais de televisão transmitiram a troca de Harris com a estudante. E aí a Vice não teve outra saída a não ser entrar num controle de dano da situação.
Sua equipe imediatamente contatou os líderes de várias organizações judaicas depois que esses líderes entraram em contato com a Casa Branca para expressar seu desgosto. O vice-conselheiro de segurança nacional de Harris, Phil Gordon, e Herbie Ziskend, o vice-diretor de comunicações da vice-presidente, deixaram claro que o silêncio de Harris durante a pergunta, não equivalia a uma concordância com as alegações da estudante de “genocídio étnico”. Então ela deveria controlar mais os movimentos de sua cabeça.
Seu gabinete emitiu uma declaração contestando as alegações de que ela teria encorajado a estudante dizendo que ela “discorda veementemente” da opinião dela que Israel estava cometendo um “genocídio étnico”. Só que isso não é uma opinião, é uma declaração de fato que precisa ser corrigida. E sua linguagem corporal não mostrou em qualquer momento esta “discordância veemente”.
E aí, para não perder o hábito, repetiram o refrão que todos nós conhecemos: que “ao longo de sua carreira, a vice-presidente tem sido inabalável em seu compromisso com Israel e com a segurança de Israel”, disse o porta-voz de Harris, para a Agência Telegráfica Judaica (JTA).
O Comitê Nacional Republicano postou no tweeter um trecho da troca, dizendo: “Kamala Harris acena com a cabeça enquanto estudante acusa Israel de ‘genocídio étnico’: e diz ‘sua verdade não pode ser suprimida’”. A Coalizão Republicana chamou a troca de “vergonhosa”. A Fox News teve como manchete “Kamala Harris aplaude estudante, que acusou Israel de ‘genocídio étnico’, por falar a ‘sua verdade’”.
Surpreendentemente, até a CNN criticou a posição de Harris dizendo que ela estaria fazendo a “faxina” de sua imagem depois de sua troca com a estudante.
O rabino David Wolpe do Templo Sinai em Los Angeles, no estado natal de Harris na Califórnia, também a repreendeu no Twitter.
“Senhora Vice-presidente, a ideia de que Israel comete genocídio contra os palestinos não é a verdade de alguém, é a mentira de alguém, quer eles saibam ou não”, disse ele. “E é pernicioso, destrutivo e não deve ser omitido ou ignorado pelos mais altos funcionários do país”.
Mark Mellman, presidente da Maioria Democrática por Israel, disse em um comunicado que “a administração Biden-Harris, assim como o presidente Biden e a vice-presidente Harris pessoalmente, têm registros pró-Israel exemplares, pelos quais somos imensamente gratos”. E que ele “ficou satisfeito com o contato da equipe sênior da vice-presidente para confirmar que: seu ‘compromisso com a segurança de Israel é inflexível’”.
O Presidente da Liga Anti-Difamação, Jonathan Greenblatt, também escreveu no Twitter que a “alegação de que Israel estaria cometendo ‘genocídio étnico’ é patentemente falsa” e o que a aluna disse foi “odioso e errado”.
Kamala tem que aprender que nem tudo é valido para obter o voto de uma pessoa que nem votar poderia, não fosse a fraude eleitoral que seu partido quer perpetrar para se manter no poder. Que atitudes têm consequências e que ela não vai conseguir aumentar sua mísera aprovação entre os democratas se aconchegando aos radicais ignorantes do seu partido.
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Gage Skidmore from Peoria, AZ, United States of America, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons