Lobos e coiotes

Por Nelson Menda

A orla marítima em Indian Harbor Beach, na costa Leste da Flórida, onde estou residindo, recebeu um tratamento paisagístico bastante peculiar. Como tenho percorrido, pilotando meu scooter, tanto o trecho norte quanto o sul, é possível observar, a existência de áreas de preservação ambiental intocadas. Ao percorrer, pela calçada, essas áreas, a diferença de temperatura é claramente perceptível.

Um outro aspecto que chamou minha atenção foi a preocupação com a preservação de pequenas dunas, recobertas por vegetação nativa, que foram mantidas, suponho, com o objetivo de evitar a erosão provocada pelo vaivém das marés. Estou deduzindo esses fatos, pois não li nada a respeito.

No presente momento estamos vivendo uma intensa onda de calor, que aqui na Flórida costuma ser acompanhada por fortes ventos e, algumas vezes, perigosos furacões. Já enfrentei, há alguns anos, um furacão batizado de Irma, que nos obrigou a viajar por vários dias, em uma alucinada rota de fuga que acabou nos obrigando a procurar refúgio na icônica cidade de New Orleans. Juntamente com milhares – ou milhões – de outros fugitivos.

Felizmente, o progresso tecnológico estimulou a fabricação e instalação de portas e janelas anti-impacto, capazes de resistir aos fortes ventos que costumam assolar, de forma cíclica, as regiões costeiras dos Estados Unidos. O primeiro furacão, parafraseando uma peça publicitária de soutiens, a gente não esquece.

Todavia, além dos fenômenos naturais, a Flórida também é o habitat de distintas espécies de animais, com destaque para os lobos, nas variedades gris e avermelhada. Acredito que muitas dessas espécies nativas continuem habitando esses mini-santuários espalhados pelo litoral sul dos Estados Unidos.

Foi o que aconteceu com Dona Tuquinha, uma laboriosa senhora brasileira que sabe preparar, como ninguém, os mais deliciosos quitutes da culinária verde-amarela. O prédio em que estou residindo conta com um conjunto desportivo equipado com uma elegante piscina, situado bem ao lado de um desses refúgios de vida nativa. Ela estava realizando sua rotineira caminhada noturna no entorno da piscina quando foi surpreendida por um estranho ruído. Provinha de um animal de porte médio que tinha conseguido escalar a cerca de madeira que delimitava a área do nosso prédio e pulado na área ao lado da piscina. Veio saciar a sede, no meio da noite, por julgar que não haveria ninguém naquele espaço. Ledo engano, tanto para o assustado bicho quanto uma apavorada senhora de meia idade. Entre mortos e feridos salvaram-se todos, mas valeu a experiência. Identificado, pela descrição, tratar-se de uma das distintas espécies de lobo existentes no estado da Flórida, mais conhecido por coiote. Que, sabiamente, não ataca seres humanos, mas é feroz quando se trata de cães e gatos. Valeu a experiência e acredito que Dona Tuquinha não vai querer revivê-la.

Foto: Wikipedia Commons