Lembrando o Holocausto, combatendo o antissemitismo
Por David S. Moran
Esta semana, durante dois dias (22 e 23), reuniram-se em Jerusalém, 46 chefes de Estado e dignitários do mundo, para participar do 5º Fórum Internacional, organizado pelo Presidente do Estado de Israel e Yad Vashem (Museu do Holocausto, em Jerusalém). O fórum acontece pelo 75º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, pelas tropas do Exército Vermelho da União Soviética.
Com o grande número de dignitários vieram a Israel mais de 500 jornalistas. Israel é conhecido como um dos países que mais correspondentes estrangeiros têm e a estes adicione o número acima e dá para ver a importância deste evento. Entre os numerosos dignitários estão o Presidente Russo, Putin, o Vice-presidente dos EUA, Pence, o Príncipe Herdeiro da Inglaterra, Charles, o da Noruega, Haakon, o rei da Holanda, Willem-Alexander, da Bélgica, Filip, da Espanha, Felipe VI, O Grão Duque de Luxemburgo, Henri. Vieram o Presidente francês, Macron, da Alemanha, Frank Walter Steinmeier, da Itália, Grécia, Ucrânia e outros.
Na noite de quarta (22) o Presidente do Estado de Israel, Reuven (Rubi) Rivlin, recepcionou os dignitários para um jantar. No dia seguinte, todos tiveram muitas atividades e o ponto alto do Fórum foi no Museu do Shoá (Holocausto) Yad Vashem, na Capital, Jerusalém. Ali foram escolhidos apenas quatro dignitários internacionais a falar. Por este motivo o presidente polonês Duda cancelou sua visita. A Polônia protestou pelo motivo de que Putin faria discurso e o Duda não. O presidente russo acusa os poloneses de serem colaboracionistas com o nazismo. Lá foram construídos os maiores e piores campos de extermínio, como Auschwitz e outros. Duda reclama de que a Rússia está reescrevendo a história. Na semana que vem, no dia 27, que é o Dia da Libertação de Auschwitz, Duda participará de ato comemorativo internacional pela ocasião. Em contrapartida, os meios de comunicação poloneses “esconderam” o Fórum que ocorreu em Jerusalém.
Manchete do jornal Yediot Ahronot, 22.1.2020: “Nunca Mais”
No Yad Vashem, o Presidente Rivlin disse entre outras: “No final das contas, a liberdade honra e a aliança pela vida venceram na 2ª Guerra Mundial”.
O Primeiro Ministro Netanyahu: “o povo judeu aprendeu a lição e tirou conclusões da Shoá, levar sempre a sério as ameaças daqueles que querem nos destruir. O importante é termos a força e nos cuidar”.
O rabino Israel Meir Lau, sobrevivente e Presidente do Conselho de diretores do Yad Vashem: “as promessas de lutar contra o antissemitismo não têm valor… há que aprofundar o conhecimento dos fatos da Shoá, para que não retorne”.
O presidente Putin: “Temos uma dívida com o passado. É importante fazer este Fórum e reunir os líderes de países que venceram o nazismo. Os colaboradores dos nazistas eram piores do que eles mesmos. Descobrimos documentos de soldados do Exército Vermelho que libertaram Auschwitz relatando o choque que tiveram com o que presenciaram”.
O Vice-presidente dos EUA, Pence: “50 líderes mundiais estão aqui para dizer ‘Nunca mais’. O presidente Trump disse que a Shoá é uma mancha negra na história mundial. Fui a Auschwitz e não dá para andar naquele lugar sem sentir pena e perguntar como puderam fazer isto”.
O presidente francês, Macron disse: “o antissemitismo é primeiramente o problema dos não judeus e está ressurgindo”.
O presidente alemão, Steinmeier iniciou seu discurso com uma reza em hebraico: “Baruch ata haShem, eloheinu melech haolam, shehecheyanu vekiyemanu vehiguianu layom hazé” (Louvado Sejas Deus, rei do universo, que nos ressuscitou para vivermos este momento). Continuou em hebraico agradecendo ao convite do presidente Rivlin e do premiê Netanyahu. “O maior crime da história moderna contra a Humanidade foi cometido pelo meu povo… não posso dizer que os alemães aprenderam do passado”.
O príncipe Charles acompanhado pelo presidente Rivlin, plantou uma árvore no jardim da residência presidencial. Depois twitou na sua conta em hebraico: “Cheguei a Israel, participei do 5º Fórum Internacional em Yad Vashem e de outros eventos em Tel Aviv e Jerusalém. Visitei o Museu de Israel. Fui ao túmulo da minha avó, Elis, no Monte das Oliveiras. Ela escondeu na sua casa e salvou uma família judia e foi reconhecida como uma Justa entre as Nações”.
Além das atividades oficiais, os dignitários, muitos deles em primeira visita a Terra Santa, ficaram deslumbrados com tudo que viam e estão buscando uma visita oficial mais ampla. O presidente de Portugal já declarou que voltará ainda neste ano.
Manchete do Israel Hayom, 23.1.20: “Levantamos a bandeira da Recordação”
Israel é um dos países em que mais correspondentes estrangeiros vivem e cobrem o país. O evento atual trouxe mais de 500 jornalistas adicionais, que cobrem e ajudam divulgar o país pelo mundo. Os discursos no Yad Vashem foram transmitidos diretamente na TV russa, na France24, na DW alemã e evidentemente em outras estações. A BBC, considerada hostil em relação a Israel, enviou correspondente especial que do Museu de Yad Vashem transmitiu dizendo: “há imagens e fotos e Israel relembrando o Holocausto” e imediatamente acrescenta (sem nada a ver) que Israel há décadas conquistou e ocupa terras palestinas.
Os dignitários foram unânimes em dizer que a Shoá (Holocausto) foi a maior tragédia mundial. Há os que dizem que a moral nem sempre vai com o modernismo e valores nem sempre vão com tecnologia. Tem que traduzir a memória do Holocausto para ações contra o antissemitismo, Este não terminará se silenciaremos.
Europa se engaja na luta contra o antissemitismo
Cem deputados europeus participaram na segunda-feira (20) de um congresso no qual debateram os meios de lutar contra o antissemitismo. Entre outras sugeriram projeto de lei para a União Europeia, pelo qual educarão para maior tolerância e mais estudos nas escolas sobre o que aconteceu no Holocausto. Aumentarão as penalidades no uso de estereótipos antissemitas e proibição de lembranças da época nazista.
Missão muçulmana visita Auschwitz pela primeira vez
Por ocasião dos festejos de 75 anos da libertação de Auschwitz uma delegação muçulmana encabeçada pelo sheik Muhamad al Issa, que chefia a Liga do Mundo Muçulmano visitou o campo de extermínio em companhia de rabinos. Já em maio o sheik disse que queria ir a Auschwitz e: “me colocarei contra qualquer pessoa que quiser negar a Shoá”. Ele é próximo do príncipe herdeiro saudita Mohamad Ibn Salman e foi Ministro da Justiça da Arábia Saudita.