J’Accuse 2024
Por Marcos L Susskind
Em 13/01/1898, levado por imensa indignação, o escritor francês Émile Zola escreveu seu famoso artigo J’Accuse, levantando as responsabilidades das autoridades da França frente às falhas cometidas no julgamento do Capitão Alfred Dreyfus.
É com a mesma indignação que escrevo hoje este artigo, com o coração muito apertado pela morte de tantos jovens israelenses nas mãos do terror palestino capitaneado pelo Hamas, sem qualquer intenção de comparar-me ao grande Zola.
1 – Eu acuso o Primeiro-Ministro de Israel, Binyamin Netaniahu de colocar seus interesses pessoais acima de sua responsabilidade com os israelenses sequestrados, causando sofrimento prolongado e mortes desnecessárias. No esforço de salvar a coalizaão e seu governo ele divide o país, joga a direita contra a esquerda, laicos contra religiosos, judeus contra árabes e políticos contra sistema judicial, em movimento de consequências difíceis de serem desfeitas.
2 – Eu acuso o condenado Itamar Ben-Gvir, que jamais serviu um dia sequer nas Forças Armadas, de impor sua agenda radical, racista e incendiária, aprofundando as divisões na sociedade israelense e colocando em risco qualquer possibilidade de alcançar um compromisso de paz. Acuso-o ainda que, com um infímo apoio eleitoral, consiga impor suas ideias a um governo fraco, temeroso de perda de seus privilégios e mandatos.
3 – Eu acuso as liderenças haredim de voltar as costas às necessidades nacionais, exigindo benesses e eximindo-se de qualquer responsabilidade, impondo suas exigências extravagantes, seja na área econômica, onde exigem privilégios negados a outros; na de segurança, recusando-se a servir nas forças armadas e de segurança nacional; na área educacional, negando-se a dar ensino que qualifique seus jovens para uma profissão digna; na religiosa, impedindo que correntes religiosas sionistas assumam posições de destaque no establishment religioso.
4 – Eu acuso novamente as lideranças haredim de cuidarem de seus interesses eleitorais acima dos interesses nacionais e de usar o Judaísmo segundo critérios meramente políticos, lembrando que em todas as épocas em que o povo judeu foi livre, a defesa fazia parte das obrigações, seja sob heróis três líderes judeus como Guidon ben Yoash ou Iftach Haguiladi, Josué Bin Nun ou o Rei Saul, os Reis David ou Salomão, a profetiza Débora ou Rei Hizkiahu, Bar Kochba ou Yehuda Hamacabi. Onde é que estas falsas lideranças encontram alguma fonte judaica que exima seus eleitores de servir à nação? Só em suas convicções personalistas e egoistas.
5 – Eu acuso os membros do Likud, partido originário das ideias de Zeev Jabotinsky, do Etzel e do Lehi, de associar-se de forma contínua a grupos que não servem ao exército tais como os ultra-religiosos ou ao extremista Ben-Gvir (que o exército recusou-se a alistá-lo). Isto contraria fundamentalmente as idéias de Jabotinsky. Eu os acuso também de endossar todas as decisões de seu líder Binyamin Netanyahu, tanto as corretas e necessárias como as meramente políticas e nocivas, sem rebelar-se e sem contestá-las, com uma única exceção honrosa: o atual Ministro da Defesa Yoav Gallant.
6 – Eu acuso determinadas lideranças da oposição no Parlamento que aproveitam a atual situação de insatisfação popular para insuflar ódio, rancor e mais divisão ao invés de propor mudanças necessárias que aproximem os diversos campos, reduzindo as disparidades e buscando alternativas palatáveis a mais setores da população. Lideranças que veem na queda do atual governo sua chance de assumir, fazendo com que a luta pela queda do governo seja mais importante que a correção de rumos.
7 – Eu acuso grande parte da imprensa de parcialidade. Determinados veículos a favor da situação e outros a favor da oposição, cada qual agindo como máquinas de propaganda ao invés de trazerem comentários produtivos e noticiários isentos.
8 – Eu acuso a esmagadora maioria da liderança islâmica, tanto a política como a religiosa, de silenciar sobre o alto índice de crimes em sua sociedade, calarem-se sobre a agressão a mulheres e o sobre o desrespeito aos símbolos nacionais tais como o hino e a bandeira entre outros. Este comportamento faz com que parte da coletividade árabe se veja mais como palestinos do que como israelenses e causa com que parte da comunidade judaica veja os árabes como quinta coluna – ambas situações extremamente prejudiciais ao convívio e crescimento hamônico do país.
9 – Eu acuso uma ruidosa minoria que nega a prática religiosa judaica em locais públicos de Israel, num acesso incontido de raiva e negação, esquecendo que o judaísmo é o que aglutina judeus – alguns pela cultura, outros pela história, uns pela fé outros pela herança comum. Ao excluir os praticantes da fé judaica, colocam em risco a identificação da pátria judaica como tal, posto que a história, as tradições e até mesmo a alimentação judaica se originam da religião.
10 – Eu acuso, finalmente, os apáticos na sociedade, que se calam, que aceitam todo o imenso despropósito citado acima, que não se manifestam ou que simplesmente decidem abandonar o país sem lutar para corrigir os rumos. Pessoas que não exercem seu direito de voto mas reclamam dos eleitos, que não se conformam com a situação mas racionalizam pensando que “nada vai mudar mesmo se eu me manifestar”.
Finalizando, eu espero que este artigo o toque, o faça raciocinar e o leve a agir. Deixo claro que se não houver ação de sua parte, eu simplesmente perdi tempo escrevendo…
Infelizmente o mundo se voltou contra nós após o 7 de outubro. A mídia radical dos mussulmanos ou dos mussulmanos radicais é muito efetiva como o eram a dos nazistas. Israel pecou sempre neste ponto. O governo, fora o pecado de nāo ter visto a preparaçāo acontecendo em gaza com seus tuneis, nāo pode entrar numa guerra para dizimar de vez os monstros. O que diria o mundo? O iran sim, é que imediatamente deveria receber nossa resposta de guerra. Por ultimo, os meninos haredim precisam receber treinamentos especiais do exército, pois nāo possuem conhecimento adequado da realidade fora dos livros sagrados. O rabinos haredim deveriam participar diretamente do gabinete de guerra
Muita calma nessa hora …
Não há como discordar do MS em quase tudo que ele descreve na gestão interna, os despautérios da coalizão etc.
Meu ponto não é sobre concordar ou discordar, é tentar colocar as coisas em perspectiva (não, não é de “contexto” que estou falando) e refrescar e manter na memória algumas lembranças fundamentais. Faço desde já uma ressalva, não tenho simpatia pelo Bibi. Seu modus operandi desagregador descrito pelo Marcos tem feito estragos no tecido social de Israel. Nunca votei nele e não pretendo votar.
Mas culpar Netanyahu pelo “não acordo” talvez seja simplificar demais uma situação que é, talvez, a mais complexa que as gerações presentes, de todas as idades, já se defrontaram, com exceção dos poucos sobreviventes do Holocausto ainda vivos.
O governo errou feio no 7/10 e erra em muitas dimensões. Porém, perder a dimensão do tamanho da maldade do massacre que sofremos, a selvageria do Ha*s e o mal em estado puro do Irã e suas marionetes, Hez*lah, H*tis e outras, é se render. É cair na armadilha da tal da “narrativa”. É fazer o jogo do inimigo.
O choque dos últimos 6 assassinados vai ser difícil de absorver. Como todos os outros choques. E como é possível fazer um acordo com quem define sua identidade através de nossa aniquilação? Quem, que realmente estivesse caminhando para um acordo de cessar fogo executaria reféns e, com requintes de crueldade, gravaria vídeos antes de os matar e os transmitiria aos parentes das vítimas. Não se iludam. O H*ms não quer um acordo. Quer que a pressão internacional sobre IL obrigue IL a entregar milhares de prisioneiros e a sair de Ga*a, para ele continuar a reinar e se preparar para um novo 7/10 ou coisa pior. Quando ouço alguém dizendo ao Bibi para ele acabar logo essa guerra, a primeira impressão é que as pessoas estão dizendo para ele ir em frente. Mas quando percebo que as pessoas querem simplesmente que ele pare a guerra, acho perturbador. Seria equivalente a dizer para o Zelenski: você deve acabar logo essa guerra.
Moro no Sul de Israel, e acostumei a ouvir as sirenes e a correr para os abrigos. Apesar disso, nutria a esperança de um dia ver Ga*a prosperar e os foguetes não mais choverem sobre Israel. Ledo engano. No 7/10 essa ‘esperança’ se dissipou.
Hoje de manhã, o Hzb*lh atirou perto de 100 foguetes, drones etc. e conseguiu fazer alguns estragos. Tem sido assim todos os dias desde o 7/10. Há 60.000 deslocados de suas casas no Norte. Isso não tem frequentado o noticiário fora de IL.
Lembrem da noite de Sábado, em Abril, quando mais de 300 mísseis, foguetes e drones saíram do Irã, o mal maior. Os Israelis passaram por horas intermináveis de terror.
Por isso, quando vejo o Bibi vir a público — o que é muito raro — como ele fez anteontem e expor as razões da insistência de manter o controle do corredor Philadelphia, para mim faz sentido. Assim como fez sentido entrar em Rafia, mesmo que o mundo se opusesse, inclusive os Estados Unidos. O Bibi — e houve muitas críticas e uma pressão enorme, insistiu que era importante, e se mostrou fundamental. A quantidade de armas, e a extensão de túneis descobertos e destruídos foi impressionante. Não acho que ele está em uma posição fácil. Mas culpar o Bibi por não haver um acordo, me parece um pouco exagerado.
Não diminui em nada minha dor pelos reféns e pelos mortos, mas para mim é claro que a causa dessa dor tem endereço. E não é no colo do Bibi. É do lado de lá da cerca.
Acho que temos, nós todos, que respirar e ir em frente sabendo que o inimigo não está dentro de casa. Talvez alguns adversários ou oponentes, mas inimigos? Não. Estão dentro dos túneis, e nos palácios no Qatar e no Irã.