Israel país espetacular. E a política?
Por David S. Moran
O geograficamente pequeno Estado de Israel (menor que o Estado de Sergipe) é um Estado gigante nas suas habilidades e conquistas em quase todos os campos.
O fundador da companhia Oracle, Larry Ellison diz: “Israel está a frente do seu tempo”. Só esta semana foi noticiado que a Alphabet (Google) comprou a WIZ israelense pela bagatela de 32 bilhões de dólares, a atriz israelense Gal Gadot foi condecorada com uma estrela na calçada da fama em Hollywood e o jogador israelense na NBA, Deni Avidija, é atual estrela da equipe de Portland. Na madrugada de quarta feira ele bombou com 31 pontos na vitória de sua equipe sobre Memphis, por 115 a 95.
Mas, por outro lado, na segunda-feira (17/03), Israel voltou a guerra, depois de quase três semanas de cessar fogo em que não conseguiu trazer nenhum sequestrado das mãos da organização terrorista Hamas de volta para casa. Foi um ataque de surpresa e, em 10 minutos, 80 alvos foram atingidos e 400 pessoas foram mortas, entre eles Issam Da’alis, primeiro-ministro do Hamas e altos funcionários dos ministérios militar e do Interior, inclusive o porta voz da Jihad Islâmica, Abu Hamza.
Em represália, os Houtis do Iêmen lançaram um míssil balístico em direção a Israel, abatido antes de entrar no espaço aéreo israelense. O mesmo ocorreu na madrugada de quarta-feira (19/03), quando fomos acordados as 4:00h para ir ao abrigo.
Uma das razões da volta à guerra é a luta de Netanyahu pela sobrevivência do seu governo. Até o fim do mês, tem é preciso aprovar a lei do orçamento do país e sem o apoio do partido do Smotrich, que declarou que “nossa meta é destruir o Hamas” e do partido do Ben Gvir, o governo poderia cair. Ben Gvir saiu do governo, com mais seis deputados que tinham três ministérios, em protesto contra a não deposição da procuradora-geral, do chefe do Shabak (ex-Shin Bet) e pela volta à guerra. Três ações que Netanyahu está promovendo. Por “coincidência”, foi anunciada a volta de Ben Gvir ao Ministério da Segurança Interna. Na quinta (20/03) à noite, o governo votaria pela demissão do Ronen Bar, chefe do Shabak e no domingo (23/03) da procuradora-geral, Gali Baharav Miara. A demissão do Ben Gvir foi uma farsa desde o início. Netanyahu entregou os três ministérios do Otzmá Yehudit nas mãos do Ministro do Turismo, Haim Katz e o aliado de Ben Gvir, Hanamel Dorfman, continuou no ministério.
O interessante (e talvez infantil) ato, foi a publicação da fotografia pelo gabinete de Netanyahu do Comando-Geral reunido no ataque contra o Hamas, em que se vê Netanyahu, seu ministro da Defesa e Eyal Zamir, comandante das FDI. Enquanto isso, o porta voz militar publicou a mesma foto com o chefe do Shabak (foto) que, com Zamir, comandou o ataque. Netanyahu tirou Bar da foto das operações militares
Quem ficou apavorado com a volta à guerra, primeiramente, foram os familiares dos 59 sequestrados, vivos e mortos. A volta à luta contra o Hamas deveu-se, também, a brincadeira com os nervos de Israel e dos EUA por parte desta organização terrorista, que durante as semanas de cessar fogo, recusou ofertas racionais. Depois publicou que estava disposta a libertar um soldado israelense que tem também cidadania americana e os corpos de quatro cidadãos americanos. Isto para diferenciar os americanos dos demais, evidentemente rejeitado. O governo israelense, com razão, protestou e é contrário a “seleção” de sequestrados israelenses dos que tem também outra nacionalidade. Ao mesmo tempo é um atestado de fraqueza do governo israelense já que os familiares de reféns preferem dirigir-se ao governo americano, no qual confiam mais do que no israelense. Até o presidente Trump encontrou-se com reféns e familiares de sequestrados, mas o premier Netanyahu não fez visitas aos lugares destruídos em 7/10 e evita falar com familiares de sequestrados.
O primeiro-ministro Netanyahu anunciou, na quinta-feira (13/03), sua intenção de destituir do cargo, o chefe do Shabak, Ronen Bar. Ele recebeu parecer da procuradora-geral de que não poderia fazê-lo, pois há conflito de interesses, já que o Shabak está investigando três funcionários sob o seu controle, supostamente, envolvidos em receber dinheiro do Catar, no escândalo aqui chamado de Catargate. Sem dúvida, o Catar é grande inimigo de Israel (já escrevi muito a respeito) e, estranhamente, Netanyahu o ajudou a enviar 30 milhões de dólares mensais para Gaza, para as mãos do Hamas. A procuradora-geral também disse que Netanyahu podia dar ao Ben Gvir qualquer ministério, menos aquele que já dirigia, pois está sob investigações de ações impróprias no mesmo.
Netanyahu, não só que não acatou seu parecer jurídico, mas disse que não liga para a lei e, pior do que isto, depois de uma série de conflitos, pretende numa reunião especial, no domingo (23/03), demiti-la do cargo. Os passos ditatoriais estão sendo colocados um atrás do outro. Na quarta-feira (19/03), conseguiu passar a lei da mudança dos membros da comissão de seleção de juízes. A tudo isto adiciona-se a não aceitação e reconhecimento do presidente da Suprema Corte, o juiz Yitzhak Amit, que Netanyahu considera hostil a ele.
Aliás, em pesquisa do Canal 13, 46% opinaram contra a demissão do chefe do Shabak, 31% favoráveis e 23% sem opinião. A pesquisa também perguntou se as ações do Netanyahu põem em perigo a segurança do país: 51% disseram sim, 39 não e 10% sem opinião. Para a pergunta “Os chefes da segurança foram demitidos, Netanyahu deveria se demitir?”, 61% responderam que sim, 32% não e 7% não opinaram).
O seu governo, com a volta de Ben Gvir, parece mais estável do que nunca. Os ultra ortodoxos (haredim), que também emitem vozes de revolta e ameaças, não deixarão o governo que tantos benefícios financeiros lhes dá e o “abacaxi” que é a lei do recrutamento de haredim pode ser mais uma vez adiado, a revelia da maioria da população.
Desde 7 de outubro de 2023, demitiram-se ou foram demitidos o chefe do Estado-Maior Major-General Herzi Halevi, o chefe do Serviço de Inteligência Aharon Haliva, o comandante da área sul- general Yaron Finkelman, o comandante das Operações Oded Basiuk, o Comandante da Divisão de Gaza, general Avi Rosenfeld, seis diretores do Shabak, o Ministro da Defesa, Yoav Gallant e o único que não assume responsabilidade é Netanyahu.
Netanyahu declara que foi eleito democraticamente e é verdade, mas sua composição com partidos como o Otzma Yehudit, de Ben Gvir, que foi discípulo de Meir Kahana, deputado que por suas convicções estava no ostracismo político. Até o então primeiro-ministro Itzhak Shamir (Likud) saia do plenário quando Kahana subia à tribuna para falar. A aliança de Netanyahu é também com partidos ultraortodoxos, que se beneficiam do Estado, mas se colocam à parte das obrigações dos demais cidadãos. Ao mesmo tempo, o democrata Netanyahu vê as pesquisas de opinião pública que coloca o Likud como o maior partido na Knesset, mas com maioria de opositores e que não conseguiria constituir novo governo.
Pesquisa do Canal 12, esta semana, dá a Likud 24 deputados (dos 120), Hamachané Hamamlacht 15, Yesh Atid 14, Israel Beiteinu 14, Hademocratim-14, Shas 10, Otzma Yehudit 10, Yahadut Hatorá 8, Raam (árabe) 6, Hadash-Taal (árabe) 5, Hatsionut Hadatit (do Smotrich) 0, (Balad (árabe) 0. Assim a oposição teria 63 deputados, a atual coalizão 52 e os árabes 5.
Foto: FDI. Chefe do Estado-Maior, Maj. Gen. Eyal Zamir; Chefe do Shin Bet, Ronen Bar.