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Israel mostrou que aprendeu com a História

Por Deborah Srour Politis

Nas primeiras horas da manhã do dia 21 de agosto de 2013, em Ghuta, um subúrbio de Damasco, capital da Síria, o governo de Bashar Assad lançou um ataque químico, matando, de acordo com o governo americano, 1.429 civis, entre eles 426 crianças.

Não era a primeira vez que Assad usava gás venenoso em sua população. Entre 2012 e 2019 de acordo com o Instituto de Política Pública Global, houve mais de 300 ataques químicos na Síria com milhares de mortos. Alguém ouviu qualquer condenação da Síria ou de Bashar Assad na ONU? Não. Nada. Até a formação de um comitê de investigação proposto pelos Estados Unidos na ONU foi vetado pela Rússia.

Israel não esqueceu o que se passou na Síria e está mostrando que aprendeu com a História.

Nesta semana, alguns dias após a caída de Assad, Israel resolveu destruir a infraestrutura militar da Síria, sua força aérea, bases do exército, a marinha, e os depósitos de armas, mísseis, munições e depósitos de armas químicas.

Em menos de 48 horas, em uma operação impressionante, Israel eliminou a ameaça militar que poderia advir do território sírio, que lembrou a Operação Focus, no primeiro dia da Guerra dos Seis Dias em 67 quando Israel neutralizou as forças aéreas egípcia, síria e jordaniana destruindo os aviões inimigos ainda no chão.

Em 1967, Israel agiu preventivamente para frustrar um ataque planejado. Nesta semana, Israel atacou não porque temia um ataque, mas para evitar que todos esses “assets” militares, caíssem nas mãos dos grupos islâmicos sunitas extremistas, e pudessem ser usados no futuro contra o Estado judeu.

O jornalista Herb Keinon, do Jerusalem Post, em seu comentário semanal, notou bem que esta ação de Israel se assemelhou com o que os ingleses fizeram com a marinha francesa da Segunda Guerra.

“Em 3 de julho de 1940, apenas duas semanas após os franceses se renderem aos nazistas, os ingleses enfrentaram um dilema terrível. Eles temiam que a poderosa Marinha Francesa fosse apreendida e transformada em um ativo formidável para os nazistas.

Para evitar isso, Winston Churchill ordenou o afundamento do principal esquadrão naval francês no Mediterrâneo. Essa ação decisiva, seguida por ataques menores nos dias seguintes em Dacar e em Alexandria, efetivamente eliminou a Marinha Francesa como um fator estratégico na Segunda Guerra Mundial. Com estas ações, os ingleses – que na época pareciam à beira da derrota nas mãos dos nazistas – enviaram um sinal claro ao mundo de sua determinação.

Israel enviou um sinal semelhante esta semana ao mundo e a seus muitos inimigos. Israel deixou claro que nunca mais permitirá a repetição do 7 de outubro e não vai nem se acomodar nem permitir que qualquer inimigo empenhado em a destruir se estabeleça imediatamente em sua fronteira com capacidade para isso.

Em nome de uma paz ilusória e de uma coexistência qualquer, Israel permitiu que isso acontecesse em Gaza e no Líbano, com resultados catastróficos. Ela agora não permitirá que isso aconteça na Síria. Então, como em 1967, Israel se antecipou contra uma ameaça potencial no futuro.

O que está surgindo na Síria não é apenas uma ameaça teórica. Os “rebeldes” que tomaram o país não são todos arrozes do mesmo saco. Embora alguns entre aqueles que compõem os “rebeldes” sírios – os drusos e os curdos – possam ser positivos em relação a Israel, a facção principal – Hayat Tahrir al-Sham (ou HTS) – há pouco tempo era afiliada a nada menos que a Al-Qaeda.

Caças MiG e mísseis SA-5 nas mãos de qualquer um desses rebeldes representam um perigo não só para Israel, mas para toda a região. Então, assim como os ingleses em 1940, Israel tomou medidas para evitar que armas estratégicas caíssem em mãos inimigas. No ataque inglês, mais de 1.200 marinheiros franceses foram mortos. Não houve relatos de baixas nos ataques de Israel. O que, é claro, não impediu as condenações.

O enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, da Noruega, disse que os bombardeios de Israel na Síria, bem como os movimentos de tropas na zona desmilitarizada ao longo da fronteira de Golan e a tomada do lado sírio do Monte Hermon “precisavam parar”. De fato, Israel moveu suas tropas para a zona de amortecimento de 235 quilômetros quadrados estabelecida pelo Acordo de Desengajamento de 1974 entre Israel e a Síria que se seguiu à Guerra do Yom Kipur.

Pelo acordo, a zona seria patrulhada por forças da ONU e permaneceria livre de tropas israelenses e sírias. No domingo, poucas horas após a queda de Damasco, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu visitou a fronteira e disse que, com o abandono das forças sírias no lado sírio da fronteira, o acordo havia entrado em colapso.

Israel descreveu a entrada na zona desmilitarizada como uma medida temporária para impedir que forças hostis assumissem essas posições estratégicas. Pedersen acusou Israel de violar o acordo de desengajamento. Será que Pedersen realmente espera que, com o colapso do governo sírio, Israel deixe a zona desmilitarizada vazia, confiando que os rebeldes – quem quer que sejam – honrarão um acordo da ONU assinado com Israel em 1974? Sério?

Para aqueles igualmente chocados como Pedersen por que Israel entrou na zona desmilitarizada, como a França e a Alemanha e que parecem confiar que os rebeldes não representarão uma ameaça imediata às comunidades israelenses no Golan, vale a pena perguntar por que não continuaram a confiar na palavra de Hitler mesmo depois da queda da França?

Se a quantidade massiva de armas sofisticadas da Síria caísse nas mãos erradas, o mundo árabe também iria sofrer. Mesmo assim, os árabes emitiram declarações criticando as ações de Israel, alegando violações do direito internacional. A Arábia Saudita, o Catar e o Egito se disseram preocupados com a integridade territorial da Síria. Mas o grande ganhador do prêmio Hipócrita do Ano foi a Turquia que exigiu que Israel saísse da zona desmilitarizada, apesar dela, Turquia, ocupar 9 mil km2 no norte da Síria, desde 2016.

Não vimos qualquer país árabe condenar a Turquia que usa o norte da Síria para bombardear os curdos sírios que procuram a independência. Só vemos o clamor unificado quando se trata de Israel.

Essa ironia é gritante. Grupos extremistas sunitas apoiados pela Turquia representam uma ameaça muito maior aos regimes sunitas moderados do que Israel jamais poderia. Esses países – e a comunidade internacional em geral – deveriam agradecer a Israel por suas ações decisivas na Síria, não condenar. E não vamos esquecer que se Israel não tivesse bombardeado o reator nuclear da Síria em 2007 a situação poderia ser muito diferente.

Mas a situação agora é mais complicada do que parece. A Síria foi criada na metade do século XX como resultado de vários tratados que reuniram várias facções e etnias. A Síria tem muçulmanos sunitas em sua maioria, mas também xiitas, alauítas, cristãos de várias denominações, curdos e drusos. Como disse em outras oportunidades, os curdos são o maior grupo étnico do mundo sem um estado. E ao que parece, agora, eles vão aproveitar a situação e declarar o nordeste da Síria seu estado.

Por seu lado, os drusos estão pedindo ou melhor suplicando a Israel para ocupar o sul da Síria onde eles estão concentrados para não só os proteger, mas também reuni-los com seus parentes drusos que moram do lado de Israel. Isso seria um passo muito positivo para Israel, mas traria a fúria de condenações do mundo sobre nós.

Mas como disse Begin, melhor condenações que condolências. Aqueles que condenam Israel por seus passos na Síria fariam bem em se perguntar se ousariam depositar sua confiança nas boas intenções de facções jihadistas, ameaçadoramente estacionadas diretamente em sua porta.

Foto (ilustrativa): Qasioun News AgencyCC BY 3.0, (Wikimedia Commons). Duas bombas são lançadas pela Força Aérea Árabe Síria na cidade de Darayya, a sudoeste de Damasco, durante seu cerco.

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