Israel enfrenta condenação internacional por ataque a Rafah
Israel enfrentou duras críticas internacionais, nesta segunda-feira, depois que um ataque aéreo em Rafah, no sul de Gaza, teria matado pelo menos 45 pessoas, a maioria civis, em um centro para deslocados.
Israel disse que o ataque teve como alvo dois terroristas importantes do Hamas. Mas o ataque aparentemente também atingiu uma área no bairro de Tel Al-Sultan, onde milhares de pessoas se abrigavam, provocando incêndios que consumiram várias tendas e abrigos.
Na tarde de segunda-feira, o ministério da saúde Hamas disse que o número de mortos havia aumentado para 45 e 60 pessoas ficaram feridas. Os números não puderam ser verificados.
O chefe de política externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, condenou os ataques “nos termos mais veementes”, numa publicação no X, na tarde de hoje. “Horrorizado com as notícias vindas de Rafah sobre os ataques israelenses que mataram dezenas de deslocados, incluindo crianças”, escreveu ele.
Borrell também reiterou a sua exigência de que Israel suspenda a ação militar em conformidade com uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça que, no entanto, está sujeita a interpretação. “Não há lugar seguro em Gaza. Estes ataques devem parar imediatamente. As ordens do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) devem ser respeitadas por todas as partes”, escreveu ele. “Este é realmente um dilema sobre como a comunidade internacional pode forçar a implementação da decisão”, disse ele.
Autoridades israelenses disseram que consideram que a ordem do TIJ permite espaço para algumas operações em Rafah, rejeitando interpretações de que a decisão do tribunal exigia que Israel interrompesse totalmente a ofensiva.
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A presidência da Autoridade Palestina e o Egito acusaram Israel de atacar deliberadamente o centro para pessoas deslocadas. “A perpetração deste hediondo massacre pelas forças de ocupação israelenses é um desafio a todas as resoluções de legitimidade internacional”, afirmou a presidência da AP em comunicado, acusando as forças israelenses de “alvejarem deliberadamente” as tendas das pessoas deslocadas.
O Ministério do Exterior egípcio emitiu uma declaração acusando Israel de “bombardeio” deliberado do centro de pessoas deslocadas e apelando ao país para “implementar as medidas ordenadas pelo TIJ relativas à cessação imediata das operações militares” em Rafah.
Enquanto isso, o Hamas disse que os palestinos devem “se levantar e marchar” contra o “massacre” das FDI em Rafah. “À luz do horrível massacre sionista cometido esta noite pelo exército criminoso de ocupação contra as tendas dos deslocados, apelamos às massas do nosso povo na Samaria e Judeia, em Jerusalém, nos territórios ocupados e no exterior para que se levantem e marchem furiosamente, contra o massacre sionista em curso contra o nosso povo”, afirmou o Hamas num comunicado.
A UNRWA, disse que os relatos de ataques em Rafah eram “horríveis”. “Há relatos de vítimas em massa, incluindo crianças e mulheres entre os mortos. Gaza é o inferno na Terra. As imagens da noite passada são mais uma prova disso”.
Um comunicado do Ministério do Exterior do Catar acrescentou que o ataque poderia ter repercussões diplomáticas, dizendo que poderia dificultar as negociações para uma trégua e um acordo para a libertação de reféns. Doha manifestou “preocupação com o fato de o bombardeamento complicar os esforços de mediação em curso e dificultar a obtenção de um acordo para um cessar-fogo imediato e permanente”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse estar “indignado com os ataques israelenses que mataram muitas pessoas deslocadas em Rafah”. “Essas operações devem parar. Não existem áreas seguras em Rafah para civis palestinos. Apelo ao pleno respeito pelo direito internacional e a um cessar-fogo imediato”, publicou ele no X.
A Itália disse que os ataques israelenses a civis palestinos em Gaza não eram mais justificáveis, numa das críticas mais fortes que Roma fez até agora contra Israel. “Há uma situação cada vez mais difícil, na qual o povo palestino está sendo espremido sem levar em conta os direitos de homens, mulheres e crianças inocentes que nada têm a ver com o Hamas e isso não pode mais ser justificado”, disse o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto. “Estamos acompanhando a situação com desespero”.
A Arábia Saudita também condenou o ataque de Israel a Rafah, “o último dos quais tem como alvo as tendas de palestinos deslocados perto dos armazéns da UNRWA a noroeste de Rafah”, disse o Ministério do Exterior em um comunicado.
O presidente turco, Erdogan, disse que o seu país faria “todo o possível” para responsabilizar o “bárbaro” primeiro-ministro Netanyahu pelos ataques mortais em Rafah. “Faremos todo o possível para responsabilizar esses bárbaros e assassinos que nada têm a ver com a humanidade”, disse Erdogan.
As FDI confirmaram na noite de domingo que lançaram um ataque aéreo em Rafah, mas disseram que tinham como alvo um complexo do Hamas onde altos funcionários se reuniram.
“O ataque foi realizado contra terroristas, de acordo com o direito internacional, usando munições de precisão e com base em informações de inteligência que indicam o uso da área por terroristas do Hamas”, disseram as FDI na noite de domingo.
Na segunda-feira, a advogada-chefe das FDI reconheceu que foi um incidente “muito grave”. “Os detalhes do incidente ainda estão sob investigação, que estamos comprometidos em conduzir em toda a extensão”, disse a major-general Yifat Tomer Yerushalmi em uma conferência organizada pela Ordem dos Advogados de Israel. “As FDI lamentam qualquer dano aos não-combatentes durante a guerra”.
O número de vítimas foi comunicado pelo Ministério da Saúde gerido pelo Hamas em Gaza, que não faz distinção entre terroristas e civis nos seus relatórios de vítimas durante a guerra e exagerou os números em situações anteriores.
A operação Rafah é considerada uma das fases finais da guerra contra o grupo terrorista, que começou em 7 de outubro, quando milhares de terroristas liderados pelo Hamas invadiram a fronteira com Israel, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 252 reféns com atos de violência, brutalidade e agressão sexual.
Depois de erradicar em grande parte os batalhões do Hamas no norte e centro de Gaza, as FDI voltaram-se para a área sul, onde afirmaram que restavam quatro batalhões. No entanto, Israel enfrentou forte pressão internacional para não lançar a operação Rafah, uma vez que a maioria das pessoas deslocadas do Norte e do centro procuraram refúgio no sul.
As FDI lançaram uma operação de menor escala do que inicialmente planejada no início deste mês, mas o TIJ ordenou que Israel cessasse as operações em Rafah, que arriscariam a destruição da população civil ali abrigada, após petição apresentada pela África do Sul. Israel disse que continuaria a operação porque não tinha intenção de cometer genocídio em Rafah.
Fonte: Revista Bras.il a partir de The Times of Israel
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