Israel adverte frontalmente o Irã
Por David S. Moran
Israel deixou sua política de ambiguidade de lado diante do avanço dos “braços de polvo” iraniano na região. O Irã praticamente domina o Líbano através da Hizballah, parte do Iraque, de população majoritária xiita, está presente na Síria com forças que ajudaram, junto com a Rússia, a manter o ditador Bahar Assad no poder, tem braços em Gaza com as organizações terroristas Jihad Islâmica e Hamas e, além disso, continua a todo vapor a correr atrás de bomba nuclear.
Numa semana, Israel lhe deu três avisos de não se meter na região. Ao fazer duas operações cirúrgicas, uma em Gaza, acertando o chefe militar da Jihad Islâmica, Baha u Aba al Ata e outra em Damasco visando acertar o vice líder da Jihad Islâmica, Akram Ajuri. A operação em Gaza que alcançou seu objetivo, resultou em combates de quase quatro dias com 500 artefatos cheios de explosivos lançados contra Israel. Em Damasco, o jihadista escapou da morte, mas seu filho e um guarda-costas morreram.
Seguindo a tradição, forças do Irã queriam dar a última voz. No domingo (17), forças iranianas lançaram quatro mísseis em direção ao Golã, que foram interceptados pelo Domo de Ferro ainda em território sírio. A 1:15h da madrugada de terça para quarta feira (20) a Força Aérea de Israel revidou, mas em larga escala. A aviação israelense alvejou mais de 20 objetivos militares, em volta de Damasco, perto do aeroporto, onde se localiza o quartel General da força Al Quds, do Irã. Segundo informes da Síria, 23 pessoas morreram no local, a maioria iranianos. Também foram atingidos sistemas de mísseis terra-ar, arsenais, bases militares, quarteis e postos de observação.
Tsahal (Força de Segurança de Israel) alertou a Síria de não atirar contra seus aviões, não foi atendida e seis sistemas antiaéreos foram destruídos. O alerta estendeu-se a não permitir o estabelecimento de forças iranianas que representem perigo a segurança de Israel e a estabilidade da região.
A resposta forte e rápida de Israel foi feita para esclarecer ao comandante militar iraniano Qassem Suleimani de não atravessar as linhas vermelhas e que ninguém é imune. Quem condenou a atuação israelense foi a Rússia. Esta advertiu que a intensificação dos ataques israelenses ameaça a estabilidade na região e violam a soberania da Síria, Jordânia e Iraque. Assim deu a entender por onde voaram os caças na sua missão. A Rússia do Putin, supostamente amigo do Netanyahu, levantou o ditador Assad da lona e o recolocou no trono. Esta é a Rússia que se estabeleceu na Síria e prometeu tirar o Irã do país e quando não o conseguiu, deu compromisso de afastar as forças iranianas para além dos 80 km da fronteira com Israel. Novamente não assumiu. Todos os alvos atingidos pela aviação israelense estão a muito menos dos 80 km. Não ouvimos nenhuma condenação russa às forças iranianas que desestabilizam a região. Vale a pena ressaltar que Israel avisa, antecipadamente, a Rússia dos seus ataques.
O Irã, ultimamente, enfrenta alguns reveses no seu plano de expansão de influência e de religião. As autoridades não admitem, mas as sanções econômicas impostas pelos americanos têm influência na economia iraniana. Mesmo assim intensificam a corrida atrás da arma nuclear. Nos últimos dias, o governo decidiu aumentar o preço da gasolina (o mais baixo do mundo) de cerca de 98 centavos por litro para1,49 real. Já agora, a inflação anual é de 40% e Rouhani admite que o país atravessa má situação econômica e perde, anualmente, 60 bilhões de dólares devido às sanções. Manifestações populares ocorrem há dias em várias cidades do país, com mais de 100 mortos e milhares de feridos (na foto manifestação em Teerã). O governo clerical desligou o país da internet e dos meios de comunicação com o mundo, para tentar sufocar o levante popular. Essas manifestações são as mais violentas que ocorreram desde as de dezembro de 2017 e janeiro de 2018. Infelizmente, parece que seu motivo é mais econômico do que pela mudança de regime. Em 40 anos da Revolução Islâmica de Khumeini, o regime conseguiu introduzi-la profundamente nos mais de 80 milhões de habitantes do país, que até então era pró-Ocidental, liberal e de progresso.
Mesmo assim, a população que sofre as consequências das sanções econômicas, parece rebelar-se contra a expansão e a ajuda do Irã a outros países, como o Líbano, Iraque, Síria e Iêmen às custas do povo iraniano. Nas manifestações ouvem-se gritos: “A Palestina não nos importa, invistam no Irã”. Em fevereiro de 2020, haverá eleições parlamentares no Irã, mas não se vê alguém que enfrente a altura os atuais clérigos que regem o país, muito menos alguém que possa enfrentá-los politicamente.
Outras dores de cabeça do regime dos aiatolás são as rebeliões da população no Iraque contra a presença iraniana no país, mesmo sendo eles também de maioria xiita. Assim o é no Líbano, onde nas manifestações populares, a Hizballah intervia, camuflada, batendo nos manifestantes. Nassrallah entendeu que tem que debelar a rebelião para que ela não se volte contra sua organização, que tem a força militar mais forte do país. Na Síria, terroristas do Estado Islâmico (sunitas) continuam suas ações, mesmo contra forças iranianas e as trazidas pelo Irã, do Afeganistão e de outros países islâmicos.
Em 40 anos de Revolução Islâmica, o Irã conseguiu “conquistar a cada década um país sem dar um tiro sequer”. São eles, o Líbano, o Iraque, a Síria e o Iêmen. Israel ciente da ideologia e da vida iraniana está se prevenindo contra eventual reação de forças deste país. O tempo não tem importância para os iranianos. Eles inventaram e jogam o xadrez, que é silencioso e sem tempo determinado ao invés dos jogos ocidentais, que são limitados por tempo e muitas vezes ruidosos.